Beatriz
AS AULAS SE ARRASTAM. Parecem caminhar vagarosamente, o relógio acima do quadro negro se transformara em um gosmento caracol passeando pelo jardim, degustando calmamente a bela vista que lhe é oferecida. A morte lenta e dolorosa de toda a humanidade.
Não me encontrei com Sam ou mesmo Cathy após o fim do horário.
A primeira me disse estar decidida a começar gravar um filme. Isso, de uma hora para outra como num passe de mágica. Deixou-me bem claro que já passara da hora de ela encontrar um hobby para a sua vida. Como amante de todos os universos existentes (Star Wars, DC, Marvel e vai lá saber quantos mais) tenho certeza que irá se sair muito bem. Sam tem bastante criatividade nessa parte.
Já a segunda, por sua vez, foi se encontrar com Peter no parque como faz todos os dias após decidir, por livre e espontânea vontade, levar uma vida mais saudável. Afirmando que isso só será realizado a base de sucos verdes e muito, mais muito exercícios ao ar livre. Quem me dera ter todo esse ânimo. Já me basta ter que ir e voltar da escola andando e olha que são apenas poucos quarteirões.
Moro em um bairro bem calmo, o que já é de se esperar visto que a cidade é pequena. Encontro a chave no lugar de sempre, o que indica que minha mãe não veio almoçar em casa hoje.
Subo as escadas direto para meu quarto, uma hora ou outra, quase tropeçando no corpo negro, grande e macio de um labrador que se entrelaça em meio as minhas pernas.
Thor...
Amo essa sensação que se expande em meu peito involuntariamente. Ele sempre faz isso, desde que era apenas um filhotinho que mal sabia subir os degraus da escada.
Após em banho relaxante, mais do que merecido, visto um macacão jeans e fisgo meu suéter amarelo preferido do fundo do armário.
Não está tão frio.
Acho que nem frio está, mas gosto do conforto que ele me proporciona.
Com o notebook no colo e meu querido Thor já aninhado ao pé da cama, finalmente me encontro pronta.
Já havia se transformado em uma emergência para mim finalizar o próximo capítulo do meu projeto de livro. É como se existisse uma necessidade que pedia (ou melhor, gritava) que eu começasse o que havia começado.
Em todos os capítulos é a mesma coisa, porém neste, acabei adiando mais do que deveria e morando em uma casa com duas crianças que valem para, no mínimo, cinco crianças a mais, isso passou a se tornar uma árdua missão para mim.
Quando já me encontrava completamente seduzida pelo ritmo envolvente da história e do simples ato de escrever, sou barrada ao vislumbrar uma janelinha piscando no canto inferior da tela.
Ótimo.
NOTA MENTAL: Quer ser escritora? Simplesmente deleta todas as suas redes sociais e se muda para o Alasca. Somente assim, para talvez, eu disse talvez, você conseguir paz neste mundo para conseguir escrever sem que ninguém lhe interrompa.
Do jeito que a vida anda, não duvido em nada que um Iéti possa aparecer batendo em sua porta alegando invasão de privacidade.
Abro o e-mail e me deparo com uma mensagem do Professor Scudder.
Que maravilha. Meu trabalho chegou. UHULL!!
De: mauricescudder...
Para: beatrizcline@finlay.college913.com
ASSUNTO: Trabalho de Filosofia
Exercício já realizado em sala de aula. Manuscrito. Sei que terá uma resposta mais apta do que a já apresentada...
Bom, até o momento tudo certo.
Deslizo a tela para baixo e visualizo aquelas malditas palavras.
Trabalho em dupla com...
— Não acredito, não acredito, não acredito... — Repito a mim em voz alta deixando que a frase continue a reverberar em minha mente agora oca.
O problema não estava em fazer um trabalho com alguém, e sim, quem seria a minha companhia.
Minha sentença havia acabado de ser decretada pelo universo.
Um bendito universo tão grande, mas que teve uma seleção incrivelmente tão pequena.
Eu teria que fazer um trabalho em dupla justo com a pior pessoa que existe.
DANTE HAWTHORNE.
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AMORES ETERNOS - A História de Dante e Beatriz
Romance"Nota mental: O amor nos faz sofrer. O amor nos faz cair. O amor não existe para mim." Beatriz Cline não acredita no amor. Mas, e você? Você acredita no amor? Beatriz Cline não acredita no amor. Os motivos que a levaram banir esse sentimento de sua...