ღ CAPÍTULO 17 ღ

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Beatriz

      AS AULAS PASSAM VOANDO DIANTE DE MEUS OLHOS. Forçar-me para prestar atenção nos professores foi uma tarefa árdua. Quase impossível com a minha mente surfando pelas ondas daquele oceano presente nos olhos de Dante.

      O maldito par de olhos azuis.

      Fiquei desnorteada com o bombardeio de perguntas de Sam e Cathy enquanto procurava pelo material em meu armário. Mesmo com a pressa evidente em minhas ações, elas não me libertaram até que eu respondesse todas as suas dúvidas.

      Ao menos elas ainda sabem do trabalho em questão. Diferente do restante da escola. Ouvir pessoas cochichar ao seu redor é desagradável. E o pavor crescente da incerteza se são ou não direcionados a você que se instaura em nossos corpos é realmente tenebroso. Parece até que sou um pedaço de carne a mercê de um bando de urubus ou um pedaço de carne apodrecido com os vermes já corroendo a carne.

       Deus, a sociedade é realmente cruel!

      E para piorar, as variadas palavras que se passam em minha cabeça agora não me ajudam em nada. Apesar de condizerem muito bem com a situação, elas me apavoram ainda mais.

       Talvez ser escritora seja completamente inapropriado para mim.

       Ora, as palavras me faltam...

       Ora, elas me sufocam!

       O sinal para o intervalo não dura muito e agradeço aos céus por isso. Sigo direto ao meu armário, onde já encontro minha melhor amiga me esperando encostada. Samantha parece muito com aqueles Bad Boys clássicos dos filmes de comédia romântica ao estar nesta pose. Isso me faz rir internamente. Infelizmente a alegria não dura muito.

        — Olá, minha aspirante a escritora preferida! — Me cumprimenta alegre, como sempre. — Porque essa carinha?

       Não digo nada, apenas guardo meus livros no armário de ferro cinza. Ela me conhece, sei que saberá o que se passa em minha cabeça. Até melhor do que eu mesma sei e isso é um problema às vezes, ainda mais vindo de Sam.

      — Sou sua melhor amiga e nem me conta que está namorando. Como pode isso?! — Solta chegando exatamente no ponto em questão. Somente com uma dose de humor a mais do que eu esperava.

       Escancaro meus olhos, encarando-a. Eram dirigidos a mim então. Menos mal, agora não preciso mais alimentar aquela dúvida que me exauria. Portanto, creio que esse problema seja ainda maior.

       Sam enlaça meu braço no seu e seguimos caminhando rumo ao refeitório. Os corredores ainda abarrotados de pessoas que seguem para o mesmo destino que o nosso. São poucos os alunos que não vão para o mesmo lugar nesse horário.

       — Ouça, Bea. — Ela recomeça ao meu lado. — Você mais do que ninguém sabe como as pessoas são, certo?

       — Sim, infelizmente. — Respondo sabendo ao que ela se refere.

       — Seja lá o que for que esteja passando pela sua cabeça — Ela para quando alguém esbarra em seu ombro. Sam grita um palavrão ao cara que já se encontra bem mais a frente e logo voltamos a caminhar. — Preciso dizer que esqueça as partes ruins de sua vida, minha amiga. Se permita se livrar das correntes que as pessoas constroem ao redor de cada um.

       Okay...

       Jamais pensei que Samantha me diria algo tão diretamente assim, ainda mais sendo a única que sabe de meu passado. Ainda mais algo tão... verdadeiro e sem brincadeiras?

AMORES ETERNOS - A História de Dante e BeatrizOnde histórias criam vida. Descubra agora