ღ CAPÍTULO 31 ღ

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Dante


      O AMOR NOS DESTRÓI.

      Está é uma verdade e por mais que eu ainda continue a acreditar fielmente neste sentimento, sei que ele é capaz de nos destruir.

      Ele nos destrói em muitas formas, seja agindo de uma forma que você julga ser correta, mas que acarreta grandes catástrofes, ou seja dizendo palavras que são capazes de estraçalhar até o mais sólido coração.

      Ambos nos destruímos.

      E talvez o amor seja isso mesmo, uma completa destruição mútua.

      Porém, sinto em meu coração e em todas as veias que correm pelo meu corpo, que se for amor, ele não acaba aí. Ele renasce! E por mais intensa que seja a dor que agora me corrói e me impede de alcançar o celular para tomar alguma atitude neste momento, sei que logo será imprescindível fazer algo.

      Eu errei com aquela que possui o meu coração e agora sofro as consequências deste ato.

      Não sei como tudo se avolumou para chegar nessas proporções. Quando me vi já estava a contar tudo a minha mãe, lembro de deixar claro para ela que não expor o nome da Cline, mas o destino resolveu ser bem atroz. As pessoas não precisam de confirmações, elas apenas ligam os pontos e depois disso nada mais as impede de fazer o que fazem de melhor. Eu mais do que ninguém sabia disso e ainda sim, deixei tudo se transformar neste emaranhado de notas desconexas que circundam tudo ao meu redor.

      Ouço a porta de meu quarto abrir e sento na cama a tempo de ver meu pai adentrar o cômodo.

      Ao julgar pela camisa branca e pela calça em que veste, suspeito que acaba de chegar do trabalho. Seus olhos azuis da mesma tonalidade dos meus já não são mais os mesmos depois do que aconteceu, ele amava o trabalho na polícia, mas ainda sim, esteve disposto a abrir mão de tudo. O pior é saber que ele ainda se culpa pela morte de Adam e talvez trabalhar em uma área que não o agrada, tenha sido a forma que ele encontrou para se martirizar.

      — Olá, pai. — Digo vendo-o sentar-se na beirada da cama, a mesma que a poucos dias atrás Cline se encontrava. Algo se aperta em meu peito.

      — Olá, meu filho. Como você está?

      Estou em um estado tão deplorável assim!?

      — Bem, eu acho. — Respondo.

      É claramente uma mentira, mas o que eu poderia dizer? Que estou me sentindo um lixo? Uma música ruim cantada por um músico bêbado qualquer em um bar após brigar com a namorada? Cline sequer era minha namorada? E isso somente me deixa ainda pior. Não consigo encontrar uma maneira lógica nisso tudo e isso acaba confirmando os meus sentimentos. Sou literalmente um cara sem saída.

      — Onde está o seu violão? — Meu pai pergunta após percorrer todo o meu quarto com os olhos.

      — Mandei para o conserto. — Digo sem querer dizer o real motivo.

      Ainda me arrependo de ter encontrado apenas ele para que eu descontasse a raiva que preenchia o meu corpo no momento que tive tudo o que sinto dentro de mim jogado pelos ares. A dor apenas se multiplicou depois disto.

      — Irei buscá-lo hoje. — Completo para o homem sentado à minha frente.

      — Não irá a festa? — Sua testa se franze evidenciando ainda mais as linhas de seu rosto.

      — Que festa? — Questiono sem saber. São tantos pensamentos que cruzam a minha cabeça que sequer estou em condições de recordar de algo.

      — A festa do último ano? Na casa do Taylor? — Pronuncia fazendo-me lembrar. — A cidade inteira está comentando sobre. Suspeito até que irão vir alunos de outras cidades. Por isso peço para que tome cuidado, não só com as bebidas, mas também com os caras que tomam essas bebidas. — Diz preocupado.

      — Na verdade, não sei se irei. — Falo observando seu rosto mudar de uma expressão para outra.

      Meu pai sabe. A verdade não está tão oculta assim em mim. Saber que posso me encontrar com ela acelera o meu coração, mas lembrar da dor que ambos nos causamos me sufoca.

      — Diz isso por causa da garota? — Olho para meu pai com um olhar de estranhamento no rosto.

      Desde que nos mudamos para cá e eu comecei a "sair" com muitas garotas, apenas minha mãe tentou conversar algumas vezes comigo sobre isso, nunca pensei que meu pai se importasse com isto ou que seria tão drasticamente direto deste jeito ao falar de uma garota. Mas estranhamente, Cline foi a primeira a ser convidada, e praticamente obrigada por minha mãe, a jantar conosco.

      Respiro fundo.

      — Se eu lhe disser que não estarei mentindo. — Minha voz sai baixa ao admitir. — Parte de mim quer deixar tudo o que aconteceu para trás. Esquecer que ela entrou em minha vida. — Desabafo.

      — Mas e a outra parte? — Inquiri apertando levemente o meu joelho.

      — A outra parte quer ir até ela e consertar tudo. — Pronuncio sentindo meu coração assumir o controle.

      — E por que ainda não o fez? — Encaro os olhos de meu pai. Devo admitir que as profissões que ele já possuiu o tornou ótimo para conseguir descobrir as coisas.

      — Como eu poderia consertar toda essa bagunça?

      — Ouça, Dante. — Pede aproximando-se mais de meu corpo. — O amor pode ser muito complexo e bagunçado quando quer, mas é necessário saber que se for para ele realmente existir entre duas pessoas, ambas terão que estar dispostas a compreender e organizar tudo.

      Me atento as palavras que chegam até os meus ouvidos enquanto observo o homem que me criou. Jamais esperei ouvir tais palavras vindas dele, mas compreendo ao ver que mesmo tendo passado por muitos obstáculos durante a vida, ele e minha mãe ainda se encontram juntos.

      — O que posso fazer? — Pergunto ansiando alguma direção para seguir.

      — Isto é você quem decide, meu filho. — Fala levantando-se. — Sua mãe me pediu para entregar isto a você.

      Alcanço a folha que está em sua mão. Sequer havia percebido ela ali antes. Leio rapidamente tudo o que se encontra impresso no papel. As informações levam alguns segundos para penetrar em minha mente. Porém quando surtem efeito, sinto vários sentimentos me dominarem.

      Não acredito...

      Olho para o meu pai e o vejo assentir diante o meu olhar atônito.

      Aquele monstro...

      — Faça a sua parte.

      Ele diz e saí pela porta.

      A barreira que estava ao meu redor, impedindo-me de tomar alguma atitude e de ligar centenas de vezes até ela me atender se parte, esfarelando-se completamente como se nunca tivesse existido.

      Capturo o meu celular e faço o que preciso fazer.

      Eu fiz o que tinha que fazer.

      Irei a festa.

      Basta-me agora confiar que a Cline fará a sua.

      Se este for o nosso destino, nos encontraremos lá. 

AMORES ETERNOS - A História de Dante e BeatrizOnde histórias criam vida. Descubra agora