ღ CAPÍTULO 23 ღ

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Beatriz


      NÃO É AMOR. Momentos irracionais assim sempre acontecem. E foi exatamente esta a conclusão na qual meu subconsciente chegou naquele fim de semana.

      Há tantas outras possibilidades a serem exploradas ao invés de simplesmente descartar todas, até as verdades que tanto acredito, para me apoiar na instabilidade da mais irracionalmente banal e incongruente possível das hipóteses. Fiquei maleável apenas por causa de uma frase qualquer que mal me recordo quem foi o autor que a escreveu.

      Me deixei levar por uma história triste presente no passado de um cara dono dos olhos mais incrivelmente azuis que conheço. Aquela história que mesmo carregada de dor consegue transmitir a sua lição, ela é realmente digna de um bom livro, e quem sabe até uma boa adaptação no cinema. Fiquei tão abalada momentaneamente que não pensei corretamente, ao menos naquele dia, pois nos outros que se seguiram exercitei meus neurônios como se os mesmos estivessem a se preparar para a final da Copa do Mundo. Um esforço que valeu a pena.

      Não vejo Dante a alguns dias. Com as últimas provas do ano a serem feitas e com todo o esforço sendo redobrado para conseguir fechar o boletim com boas notas, ambos resolvemos que seria melhor se não nos encontrássemos.

      Tenho certeza que meu queridíssimo professor de filosofia irá entender. Ainda mais porque imagino que deva sim ter consciência do grau de dificuldade que este trabalho fora do comum exigi.

      Qual é, quem é que pergunta o significado do amor a duas pessoas e espera que elas possuem exatamente as mesmas definições?

      AMOR...

      Quem é que acredita verdadeiramente nesta droga de palavra?

      Tenho certeza que isto foi proposital. Tudo arquitetado pelo Sr. Scudder a fim de se vingar pela minha doce resposta que lhe dei aquele dia, onde o próprio praticamente me acusou de louca e que logo depois, como uma jogada cruel do destino, eu mesma preferia estar com as minhas faculdades mentais danificadas.

      Tudo para evitar aquele beijo...

      Durante esses dias em que louvadamente não nos encontramos, Dante me enviou diversas mensagens. Cada uma contendo a frase de algum escritor, professor, filósofo e muitos outros seres humanos que de certa forma conseguiram deixar a sua marca na história, todas elas seguiam a uma idêntica premissa: a do amor.

       Pois bem, o amor que Dante acredita me parece ser sim possível, porém somente digo isto pelo modo em que falou tudo aquilo, como se sem este sentimento em que todos acreditam, viver não seria uma opção possível. Como se sem acreditar neste sentimento, não restaria nada neste mundo para acreditar. Como se sem ele, não sobrasse mais nada.

      Sem sombras de dúvidas, isto é completamente o oposto no qual sempre acreditei.

      O amor não passa de uma mistura de emoções, que nem mesmo homogênea é. E este conjunto nos cega. Nos faz acreditar que tudo é perfeito. Que tudo pode ser perfeito.

      NOTA MENTAL: O amor nos faz sofrer. O amor nos faz cair. O amor não existe para mim.

      Foi nisto que minha mãe se afogou.

      E é nesta mesma água que luto para não entrar.

      Meus conceitos de amor sempre foram pré-definidos e constatados por mim, tenho um inescrupuloso orgulho por isto. Ele pode sim, ter múltiplas formas, porém todas possuem as suas explicações.

      Amor à primeira vista... Este é aquele que não passa de uma primeira impressão baseada em aparências, um sentimento momentâneo que desperta desejo quando você se encontra pela primeira vez com alguém, e muitas vezes, essa mesma pessoa sequer retribui esse evento passageiro. É o pior que há, colocando principalmente a beleza acima de qualquer outra impressão.

      Ah, o amor trágico... Tão bem utilizado na literatura, Romeu e Julieta são um grande exemplo do quão destrutivo ele é, mostrando sempre a capacidade de uma pessoa prezar tão poucamente a vida que é capaz de doá-la a uma outra pessoa, como se a mesma valesse o preço de sua morte. É o mesmo que desistir de toda a consideração que você adquiriu por seu próprio corpo durante os anos que viveu.

      O amor virtual... Se é que isso pode ser considerado como amor, certo? A nova moda nos dias de hoje, onde duas pessoas julgam se amar, declaram-se uma a outra, pensam ter construído uma ligação com a pessoa sem nunca ter estado pessoalmente frente a frente. Isto sim, é ridiculamente insano.

      Amor platônico... Não posso me esquecer dele, aquele em que a pessoa cria em sua própria cabeça a utopia de estar "amando" a outra, sem esta nem mesmo saber de sua existência. Em muitos casos como este chega a haver até os momentos de stalker, o que é pavoroso.

      O esplêndido amor verdadeiro... O mais fácil de se ver que é irreal. Onde duas pessoas se amam integralmente apesar de todas as dificuldades existentes. Onde acreditam que pertencem um ao outro como almas gêmeas. Como podem saber que estão destinados a amar aquele ser humano? Que o seu coração é pertencente a ele? Que quem dá vida ao seu corpo é o amor para ele designado? Não sabem. Eles simplesmente supõem que é isto e pronto.

      E por fim, o amor eterno... Onde não bastando duas almas julgarem estar entrelaçadas durante a vida, insistem em afirmar que o amor que os ligam neste enquanto estão vivos, atravessará qualquer obstáculo para uni-los após a morte. Ou se você preferir como muitos dizem, este é aquele amor capaz de fazê-los se amarem por todas as outras vidas que vierem, nesta doce e cruel eternidade.

      Tenho os meus motivos para não acreditar na existência deste aclamado sentimento que não passa de desejos, assim como Dante possui os dele, que o fazem a ser simplesmente quem ele é.

      Impulsivamente vivo!

      A mais bela definição atribuída ao dono dos mais belos e puramente malditos olhos azuis.

      Não é amor o que sinto por ele.

      É apenas um desejo primitivo que evoluiu para algo que eu ainda não tenho a completa certeza do que é.

     Talvez...

      Uma amizade!

      Sim, é isto!

      Fui tola em não perceber isto antes, o grande Friedrich mesmo dizia que "a cobiçosa ânsia que duas pessoas têm pela outra deu lugar a um novo desejo e cobiça... Mas quem conhece tal amor? Quem o experimentou? Seu verdadeiro nome é amizade."

      Uma amizade estranha que nasceu entre dois, até então, estranhos. Tudo o que eu cogitava haver entre nós dois, é a crescente chance de sermos bons amigos e nada mais.

      Extraindo o incidente de quando nos encontramos no qual me deixei levar por impulsos nada verdadeiros, quando me vi sufocada por pensamentos e lembranças lá estava o irritante Dante para me salvar e sequer perguntou, dentre todas as outras oportunidades que surgiram depois, o que me fez chegar naquele estado. Apenas me salvou. Exatamente como Sam fez comigo quando já não mais suportava viver com tudo aquilo preso dentro de mim.

      Mas Dante já deu um passo à frente nisso tudo.

      Dante confiou a mim uma parte valiosa de sua vida, ele confiou a mim a essência de sua história.

       E é isto que devo fazer!

      Irei confiar...

      Irei confiar nele e contarei a minha história.

      A história que aconteceu a dez anos atrás, mas que para sempre será...

      A minha eterna cicatriz. 

AMORES ETERNOS - A História de Dante e BeatrizOnde histórias criam vida. Descubra agora