ღ CAPÍTULO 32 ღ

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Beatriz


      — TENHO PENA DO PETER. — Cathy comenta rindo.

      — A culpa é dele de ter inventado essa história louca. — Samantha completa a irmã. — Não é, Bea?

      Ambas olham em minha direção aguardando por uma resposta. São tão diferentes, não só no estilo de suas roupas, mas também no modo de ser, assim como eu. Não compartilhamos os mesmos gostos e talvez seja isso que nos uni tão bem.

      O fato é que parte de mim, acredita sim nessa "história louca" de Peter. Não me recordo onde vi algo semelhante, mas sei que em algum lugar deste planeta e em algum ponto da história, houve um povo que realizava este costume, tanto que outras culturas se apropriaram dele e hoje o fazem normalmente quando o relógio bate às meia-noite da virada do ano.

      O costume se consiste em escrever o que deseja em pedaços de papel e logo após queimá-los em uma fogueira com as estrelas como testemunhas de seu ato. É o poder da escrita para realizar o que se deseja.

      Uma pena que a ideia de Peter adorada por Théo e Tim é um pouco diferente desta. Ao invés de desejos, querem que histórias de terror se tornem reais.

      Sim, garotos...

      — Só espero não ter que limpar a bagunça deles depois. — Respondo quando vejo minha mãe adentrar a cozinha e logo sair com os fósforos nas mãos.

      — É uma pena termos que fazê-la durante o dia. — Catherine diz fazendo um muxoxo triste.

      — Vocês vão para algum lugar? — Pergunto pensando que o plano era passarmos a noite juntas.

      — "Nós" vamos, Bea. — Sam responde dando ênfase na primeira palavra.

      Encaro minhas amigas sem entender. Não me recordo de concordar com nada, apesar que boa parte de minhas lembranças deste último mês se encontram um pouco contaminadas, bem mais do que eu gostaria.

      — Para onde? — Pergunto entregando-me ao não recordar de nada.

      — A festa do último ano? Na casa do Taylor? — Catherine diz tentando me fazer lembrar.

      — Combinamos de ir no refeitório da escola.

      Mentalmente me imagino dando um tapa em minha testa ao terminar de ouvir a frase de Sam. É claro que eu concordei com algo que sequer ouvi. E é claro, que as meninas já haviam comentado da festa que ocorreria na casa de um dos amigos de Peter.

      Mas o que posso dizer, praticamente todos da escola vão para está festa.

      E todos, não é alguém que eu gostaria de ver.

      — Não sei se estou pronta para ir a uma festa. — Confesso.

      Vejo que elas se entreolham por um momento, conversando por olhares silenciosos.

      — Diz isso por causa do que aconteceu recentemente... — Sam começa se levantando e sentando-se ao meu lado do sofá. — Ou por causa da probabilidade de um certo alguém de jaqueta de couro e olhos azuis se encontrar lá?

      Estremeço com a menção do causador de meu sofrimento.

      "Sim, eu não estou pronta para encontrar Dante..."

      "Meus instintos assassinos ainda não cessaram por completo."

      Penso em dizer, mas apenas encaro Sam sem resposta.

      — Você não precisa encontrá-lo, Bea. Estará cheio de gente lá. — Ela tenta me convencer.

      Ouço um suspiro profundo vindo do outro sofá e vejo quando Catherine repete os mesmos passos da irmã, sentando-se do meu outro lado.

      — Quero que me escute, Bea. — Cathy diz adquirindo sua postura fabulosa de futura jornalista. — Você mais do que ninguém sabe como me encontraram. Eu já contei para vocês duas. — Explica incluindo Sam. — Mas tem muitas coisas que ainda não sabem sobre o que fui obrigada a passar. Sei exatamente pelo o que passou. Sofri com isso. Fui contrabandeada... E violada como se fosse um animal. — Revela com amargura. Mesmo sem ver sei que Sam está em choque, assim como eu. — Não precisam ficar assim. Quando os policiais encontraram a mim e as outras crianças eu me senti mais do que agradecida por finalmente me ver livre daquele sofrimento. Não contei nada para ninguém, mas sabia que aqueles homens apodreceriam. Só que os meus monstros não faziam parte das pessoas que eu amava. Ao contrário de você. Poxa, Bea! — Exclama frustrada. — Se eu estivesse no seu lugar e encontrasse alguém para fazer o que Dante fez por você, eu juro que não o culparia por ter revelado algo somente meu. Afinal, o único culpado nessa história toda você sabe quem é. E ele só se encontra atrás das grades, por causa do cara que você insiste em odiar.

      Sequer tive tempo para pensar em algo para dizer a Cathy após essa revelação no mínimo, dolorosa para qualquer pessoa.

      Quando me vi, estávamos as três unidas em um abraço bem mais do que significativo. Pude sentir, neste único gesto, uma sensação percorrer por nossos corpos como se correntes de aço invisíveis nos envolvessem, entrelaçando as nossas vidas ainda mais.

      Após um tempo ter se passado conosco ali, Catherine finalmente cessou o abraço e me encarou com os seus olhos verdes, perscrutando cada pedacinho da minha alma, a fim de ver se eu realmente compreendi a sua indignação dirigida a mim.

      Respiro limpando uma lágrima que teimou em riscar minha bochecha.

      — Ainda não sei o que pensar sobre tudo... — Murmuro sabendo que não era essa a resposta aguardada por ela.

      — Dante não teve a melhor das atitudes, jamais poderia ter feito algo sem o seu consentimento, Bea. — Sam fala segurando minha mão. — Mas você sabe que o seu... Pai... — Para ao pronunciar a palavra. Sei que a vontade dela era nomeá-lo com o pior nome que encontrasse. — Bom, ele também sequer se importou com o seu consentimento e você sabe disso.

      Assenti diante as palavras de minha amiga.

      Elas estão certas.

      Posso até não estar pronta para perdoar Dante ainda, mas sei que sair da minha casa me fará bem.

      — Eu irei a festa.

      Vejo a animação contagiá-las quase que instantaneamente. Sorrio ao vê-las comemorarem com uma dancinha brega ao redor da mesinha de centro. Mas ele não dura muito. Algo em cima do móvel me chama a atenção.

       Observo meu celular aceso enquanto, pela primeira vez após tudo ter ocorrido, um nome já conhecido preenche a tela novamente.

      Dante... 

AMORES ETERNOS - A História de Dante e BeatrizOnde histórias criam vida. Descubra agora