Beatriz
— O AMOR NÃO EXISTE. Ele se trata apenas de algo inventado por uma outra pessoa, assim como cada um nesta sala. Não se pode negar que se trata de algo ligado totalmente com um propósito capitalista, visto o crescimento dele baseado na falsa fé das pessoas que nisto acreditam. Digamos que é como um relógio tiquetaqueando, Tic Tac Tic Tac Tic Tac. Perfura as nossas mentes e nos faz simplesmente acreditar em algo que não existe verdadeiramente, algo que estaria mais ligado a um conjunto de sensações humanas. Do corpo e não do coração. É como se cada Tic Tac desse relógio, uma sensação diferente se expandisse pelo corpo e quando a hora do badalar chega, você já foi fisgado por um sentimento falho e inexistente.
O som perfurante, e evidentemente exagerado, do sinal da escola ecoa pela sala no momento exato em que finalizo a minha resposta. Os poucos que prestavam atenção a aula me lançam olhares estranhos que faço questão em ignorar, enquanto os muitos que restam, despertam de sonecas e cochilos assustados com o barulho.
— Bom, pessoal. Nos vemos na próxima aula. Estão todos dispensados. — Sr. Scudder diz elevando a voz a cima da confusão de cadernos sendo fechados às pressas, mochilas sendo jogadas nas costas e as conversas paralelas de jovens aumentando.
Chegamos ao fim de mais uma aula de filosofia. Uma das matérias mais complicadas e esclarecedoras em que há. Isso para aqueles que se importam com os estudos. Não chega perto de ser minha matéria predileta, mas me saio bem com tudo. Questionar é o que me torna eu mesma. Gosto disso. Há algo poético nessas palavras.
— Senhorita Cline? — Sua voz chama meu nome me fazendo parar onde me encontro. Já atravessando o batente da porta com minha mochila nas costas.
— Sim, professor Scudder? — Viro-me para encarar os já tão comuns olhos negros de falcão.
Sempre achei a criatividade dos alunos bem férteis para encontrar apelidos para os professores. Mas não nego que esse em questão, foi bem apto ao homem de cabelos negros mesclados de fios brancos que antigamente trabalhava como psicólogo, ainda mais por ter esses olhos que enxergam mais do que deveriam em seus alunos, o que é bom para ele, visto que o livrou de cair em muitas mentiras por aí.
— Sua resposta me surpreendeu. — Droga. Sabia que diria algo a respeito à minha resposta. Apesar de já termos tido diversos questionamentos sobre isso em aula, ele parece sempre disposto a não desistir de me fazer enxergar "a sua visão" do certo. Respiro fundo para não revirar os olhos diante dele. — Mas afirmar que o amor não existe, é algo errado.
Abro a boca para discordar, mas sou impedida por um gesto de mão que diz que ele ainda não terminou de falar. Me mantenho calada para ouvir o que resta a ser dito.
— Isso, para não dizer, insano. Até mesmo para uma atividade de filosofia, acredite. — Ele solta um suspiro longo e pensativo, como se estivesse lutando para decidir algo. — Você é uma excelente aluna, Beatriz. Quero que continue assim, e por esse mesmo motivo, vou encaminhar um trabalho para o seu e-mail. Irá me entregar depois das provas finais. Pode ir agora.
Ótimo.
Tudo o que eu mais precisava agora, era ganhar mais um trabalho para fazer neste último mês de aulas. Estudar em uma faculdade que se preste, parece cada vez mais complicado para mim.
Um sonho distante que almeja logo alçar voo, com ou sem passageiro. Me sinto como um pequenino camundongo correndo, correndo, correndo sem parar naquela maldita rodinha sem nunca chegar a lugar algum.
Tipo, não que eu seja uma péssima aluna. Minhas notas são incríveis, ou melhor dizendo, são o bom resultado de um longo e duro trabalho árduo. Luto para conquistá-las e manter elas é que é difícil.
Já me imagino na formatura, subindo ao palco para receber meu diploma e logo depois agradecendo a todos.
"Obrigada, meus maravilhosos professores por isso. Por toda a enxurrada de tarefas, trabalhos e pesquisas lançadas para se fazer em tão pouco tempo. Sem vocês, talvez eu teria chegado mais rápido e mais saudável até aqui."
Será que é tão exaustivo assim ter uma vida?
E quando digo isso, quero dizer uma vida sem que você tenha que passar o seu tempo livre, fazendo infindáveis exercícios de escola.
— Oláá, minha aspirante a escritora preferida!! — Samantha grita se jogando em meus ombros, me equilíbrio para não cair enquanto termino de guardar as apostilas no meu armário.
Pequeno grande detalhe sobre mim.
Pretendo ser escritora.
Desde criança essa já era minha paixão.
Escrever histórias que fossem capazes de transmitir emoções e sensações a outras pessoas. De inspirar, emocionar e cativar a quem as lê.
Mostrar o poder que as palavras carregam.
Porém, com meus dezessete anos completos, tudo o que possuo até o momento são livros publicados em plataformas online. Nada que seja realmente espetacular. Nenhum Nicholas Sparks até o momento.
E como se não bastasse, Sam espalhou aos quatro ventos, ou seja, para a escola inteira que é praticamente a mesma coisa, que pretendo ser escritora. E tudo isso, através de seu fofo e escandaloso cumprimento.
— Hey, Sam!! Quer me estrangular agora é? — Digo rindo me desvencilhando de seu aperto. — Não vai me dizer que já fez isso com a pobre Cathy? — Pergunto ao notar que está sozinha.
A vejo levar a mão no queixo fazendo um beicinho claramente forçado como se estivesse pensando.
Seus cabelos negros encaracolados balançam com o seu joguinho repentino, o que cai muito bem com sua pele pálida e olhos de esferas grandes e marrons. Sua roupa hoje está um pouco menos chamativa como de costume, o que significa que Catherine conseguiu convencer ela a não usar alguma outra combinação maluca de peças do seu guarda-roupa, resultando em uma jardineira vermelha com a saia rodada que alcança até um pouco acima dos joelhos, a camisa cinza do uniforme quase toda encoberta por um cardigã preto para "combinar" com a bota, como ela mesmo diria.
— Não te contei? Papai e mamãe finalmente a internaram em um hospício durante esse final de semana. Isso é tão triste... - Fala fazendo uma tão esperada carinha de cachorrinho abandonado.
NOTA MENTAL: Samantha é uma bela atriz. Ama fazer brincadeiras com as pessoas desde que era apenas uma criança, já perdi a conta de quantas vezes acabamos (ela acabou) entrando em confusões por causa de algumas pessoas que a levava a sério demais.
Aprendi a lidar com ela através dos anos e como boa amiga, sei o que devo dizer.
— Não acredito que terei de ir correndo avisar o Sr. E a Sra. Manson! — A imito levando as mãos a boca em um completo misto de choque e horror estampado em meu rosto. — Internaram a filha errada!
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AMORES ETERNOS - A História de Dante e Beatriz
Romance"Nota mental: O amor nos faz sofrer. O amor nos faz cair. O amor não existe para mim." Beatriz Cline não acredita no amor. Mas, e você? Você acredita no amor? Beatriz Cline não acredita no amor. Os motivos que a levaram banir esse sentimento de sua...