Beatriz
— VOCÊ DISSE O QUÊ? — Cathy grita quase estourando os meus pobres tímpanos.
Nos encontramos sentadas nos bancos de uma grande mesa de madeira disposta no parque, o mesmo parque em que ontem estive sentada sob a sombra de uma bela árvore na companhia daquele que me atormenta. E em meio, a tudo isso a vontade de me internar no sanatório mais próximo de Leawwod, por livre e espontânea vontade, só aumentou.
Sinto que Sam sorri ao meu lado, mas não creio que seja pelo que me ocorreu, isso não faz a cara de Samantha, a expressão espalhafatosa no rosto da irmã é que faz. Uma clássica reação de Cathy após ouvir os meus relatos de "A apaixonante jornada com Dante Hawthorne", como ela mesma nomeou e fez questão que Sam batesse o martelo aprovando está sua decisão. Nada de ouvir a opinião do peão que está no jogo.
Acontece que ela não deve ter me escutado muito bem, principalmente a parte em que o nome Catherine Manson foi proferido pelos lábios de Dante.
Céus! Completamente desnecessário citar os lábios de Dante aqui!
Eles não me trazem lembranças boas.
— Eu não estou preocupada com o que disse impulsivamente ou com o que deixei de falar — Começo séria. — Quero antes de tudo saber o porquê Cathy, sabe o quanto eu detesto isso tudo...
Deixo a frase morrer, fazendo com que ela paire no ar ao nosso redor. As mãos de Sam pousam sobre a minha. Por um momento penso em afastá-las, mas não o faço.
— Desculpe, Bea — Vejo seus olhos verdes se prenderem nos meus e rapidamente adquirirem um brilho diferente, um brilho que só se é adquirido quando os mesmos se empoçam de lágrimas. — Ele me disse que queria saber mais ao seu respeito, não achei que dizer sobre os seus livros seria algo ruim. Até Peter concordou comigo. — Explica contorcendo as mãos em um gesto de pura angústia. — Me parece que ele gosta de voc...
— É exatamente por este motivo que você deveria não ter dito nada! — Exaspero interrompendo-a.
Despenco a cabeça sobre meus braços estendidos na mesa. Estou farta de não saber o que sentir. Cathy não tinha esse direito. Não deveria ter dito nada sem que eu soubesse. Ela não sabe por tudo o que passei. Não sabe o que realmente me leva a evitar tudo isso. Ela não sabe... Ela não sabe. E isto me leva a não a culpar pelo o que fez. Sam é quem sabe de minha história e foi eu quem a impediu de contar a qualquer outra pessoa, até para a própria irmã.
Droga! Sou uma péssima amiga, isso sim!!
É claro que o clima na nossa mesa não se encontra bom. Está pesado como se estivéssemos sendo espremidas no chão por um peso enorme. Um peso que não precisa existir para nos causar esse desconforto enorme. Ambas continuam em silêncio e sei que a errada nisso tudo sou eu. Levanto meu rosto e as observo por um instante. Não posso fazê-las chorar, elas fazem parte da minha família.
— Eu é que peço desculpas, Cathy. Você não teve culpa, até porque não há nada para culpá-la. Não disse nada de demais a ele. Só devo estar um pouco cansada demais...
Sorrio para ela. Mas devo ter falhado horrivelmente, pois por um tempo seus olhos se prendem em mim vacilantes e completamente tristes.
— E aqui vamos nós! — Sam grita se levantando e batendo as mãos juntas em animação. Sua demonstração inesperada nos assustando e quase levando o banco em que estou sentada ao chão. Só não caio de costas pois um par de mãos seguram as minhas por cima da mesa. Cathy.
— Samantha! — Gritamos depois de se recupera do susto.
— O que foi? Já está tudo resolvido, não está? Precisamos ir logo aproveitar o dia de hoje. — Se explica como se fosse óbvio.
Abro um sorriso largo em meu rosto. Não posso deixar que a presença daquele cara atrapalhe a relação que tenho com essas duas, ainda mais porque agora me sinto mesmo culpada por isso.
A famosa tempestade em copo d'água.
Catherine não sabe de meu segredo e história de vida, assim como não sei a dela completamente. A única diferença é que a dela é bem pior e isso me torna um monstro ainda mais horrendo. E quanto a Samantha, acredito que apenas a presenteei com um fardo enorme ao contar o que contei.
Às vezes, os pesos de nossos passados não devem passar a pertencer a outra pessoa. A cicatriz presente em minha pele é minha, e somente a mim cabe carregar ela eternamente cravada em minha carne.
— E então o que vamos fazer? — Pergunto já sabendo a resposta.
— Milkshake!! — Gritamos erguendo os braços como verdadeiras crianças esfomeadas.
Okay, o dia não estava tão quente assim. O clima em Leawood é muito esquisito. O quente se transforma em leves rajadas de vento de uma hora para outra. Portanto, a decisão não foi tão boa assim, o que já era de se esperar. Mas é Milkshake, o que vale muito a pena e também não é nada que não estivéssemos tão acostumadas assim. Afinal, eu e Sam nascemos aqui.
Assim que terminamos de desfrutar aquela esplêndida massa congelante, que mais deveria ser denominada como a oitava maravilha do mundo, fomos nos deitar na parte mais aberta do parque, onde tudo o que se encontra é um grande campo aberto. É o local perfeito para as pessoas que gostam de soltar pipas ou brincar com uma bola ou frisbee.
O céu está lindo, um azul tão claro e repleto de nuvens. Parece até que estamos vivendo dentro de um filme com esse céu tão clichê assim. Aproveito essa energia inebriante e me permito fechar os olhos, gravando o dia, a paisagem e a companhia em minha memória.
— Olá, meu amor. — Reconheço a voz de Peter vir do lado de onde Cathy estava, provavelmente já estava a se deitar ao lado da namorada.
Espera. Não me lembro de Catherine dizer que iríamos compartilhar o nosso dia com ele, Sam a fez jurar que isso não aconteceria.
Seria coincidência demais ele ter nos encontrado aqui, não seria?
Mas a cidade não é tão grande assim e só temos um parque.
E é neste momento que sinto o aroma amadeirado de perfume masculino adentrar minhas narinas e um corpo se deitar ao meu lado.
É claro que eu sei a quem pertence esse maldito perfume. Assim como eu sei quem se deitou ao meu lado mesmo havendo um campo verde enorme a sua disposição. Sei como a vida é, e como o magnânimo senhor destino gosta de destruir as mesmas, porém ele precisava decretar por ele mesmo a minha ruína. Novamente.
— Temos que parar de nos encontrar assim, Cline.
É.
Temos.
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AMORES ETERNOS - A História de Dante e Beatriz
Romance"Nota mental: O amor nos faz sofrer. O amor nos faz cair. O amor não existe para mim." Beatriz Cline não acredita no amor. Mas, e você? Você acredita no amor? Beatriz Cline não acredita no amor. Os motivos que a levaram banir esse sentimento de sua...