ღ CAPÍTULO 8 ღ

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Beatriz


      IGNOREI O CELULAR.

      Seria loucura de minha parte imaginar que aquilo ocorreu em decorrência a algum evento sobrenatural ou sinal do destino. Eu até acreditava nele, mas não o via capaz de tal ato. Seria mais fácil acreditar em demônios ou possessões, o Sr. Destino com certeza teria coisas mais importantes para se fazer do que me importunar com as suas más ações.

     Estacionei o carro próximo ao parque. Um Jeep Wrangler cinza que ganhei de minha mãe quando tirei a carteira de motorista, não esperava pelo presente, ainda mais sofrendo para dirigir ele de imediato, mas nada que alguns treinos não bastaram para que isso mudasse. Agora eu entendo o motivo das pessoas tratarem seus carros com tanto carinho, é como se ele já me conhecesse.

      Retiro a chave e desço fechando a porta atrás de mim. Por um momento fico ali, cabeça abaixada, encarando as próprias botas. Eu devo estar parecendo uma criancinha assustada quando acaba de fazer algo que sabia não ser certo.

      Flashes de Dante me passam pelos olhos como se fosse um filme antigo em preto e branco, as imagens me sufocam até onde conseguem alcançar. Me vejo gritando por socorro aos professores de natação, talvez mesmo a distância eles consigam me ouvir e correr ao meu resgate.

      Droga!

      Eu já estou quase me afogando em lágrimas!

      Uma rajada de vento se choca ao meu corpo, a brisa refrescante me salvando das profundezas dos meus devaneios, das águas turbulentas deste oceano em que um certo alguém de olhos azuis me jogou.

      Avisto meus irmãos juntamente com um grupo de crianças ao redor da piscina. Conforme vou avançando percebo que as risadas e as conversas aleatórias se intensificam.

      Faltavam dez minutos para a aula se encerrar quando enfim Théo e Tim me avistam e acenam em minha direção.

      Sinto a presença de outras pessoas parando próximo a mim, porém não me dou ao trabalho de olhar, resolvo deduzir que sejam apenas mais pais já chegando para buscar seus filhos, algo bem óbvio se for parar para pensar.

      Não sei ao certo o motivo, mas o cotidiano das pessoas sempre me inspirou para escrever.

      Sejam vê-las indo para o trabalho ou até mesmo esperando o término da aula de natação de seus filhos.

      Há algo na humanidade rotineira que me cativa.

      Enfim, ouço os professores dispensarem os alunos lhe desejando um ótimo final de semana.

      Um gesto que acaba de me lembrar o quanto estou sem tempo nestes dois dias. O que era para ser dias de descanso para mim será dois dias verdadeiramente abarrotados de atividades.

     Afinal, um capítulo me espera para finalizá-lo.

      Isso já o suficiente para me deixar ansiosa para chegar em casa, os meninos não se encontram muito mais longes. Os dois em roupões verde escuro, uma cor perfeita para destacar ainda mais os seus olhos.

      Percebo agora o quanto Théo e Tim se parecem com minha mãe, tiveram sorte ao não herdar absolutamente nada de nosso pai.

      Os fios loiros quase se igualando ao branco são a prova viva disto, os olhos verdes como o da mamãe apenas completam a imagem dela de quando era criança.

      São literalmente cópias perfeitas dela.

      Uma pena eu não ter dito essa mesma sorte.

      Os cabelos e olhos castanhos evidenciam o meu tão querido progenitor.

      — Não sei como consegue diferenciar os dois. Sabe o que eu digo, separar quem é quem entre eles. — Dou um pulo sobressaltada levando a mão ao coração ao ouvir uma voz grossa bem próxima aos meus ouvidos, por pouco, muito pouco mesmo, não grito como um gato que acaba de se assustar, completamente esganiçado.

      Viro-me torcendo para estar delirando, já vendo e ouvindo coisas que não existem.

      Porém, para a minha mais completa infelicidade, me deparo com os malditos par de olhos azuis, novamente tão penetrantes que parecem me avaliar profundamente, faltando apenas me dizer se devo ir para o céu ou o inferno. Os fios marrons escuros caindo por sobre o rosto somente constatam a minha desgraça.

      Nunca em minha vida, eu havia pedido tanto a Deus para retirar toda a minha sanidade e me deixar ali de uma vez por todas, morrendo de loucura.

      Sinto quando os meninos param ao meu lado e me amaldiçoo por não conseguir sair dali correndo para o mais longe que meus pés conseguirem.

      México não seria um destino tão ruim assim, seria?

      Tenho certeza que meus avós me aceitariam por lá...

      — Eaí... Tim? E... Théo? — Dante arrisca cumprimentando-os com um aperto de mão e tragicamente, por ironia do impiedoso destino, acertando os nomes dos meus irmãos gêmeos. — Cline? — Diz levando minha mão aos lábios e depositando um beijo.

      Quem é que faz isso em pleno século XXI?

      Um gesto ridículo, ainda mais vindo de quem o fez.

      A puxo de volta para mim, dando um pequeno passo para trás.

      Isso não é nada bom...

      Onde Dante está com a cabeça?

       Talvez alguém lá em cima ouviu as minhas preces e me atendeu deixando-o sem sanidade alguma.

      — É seu namorado Bea? — Ouço Théo dizer enquanto arregalo meus olhos, já sentindo as minhas bochechas corarem.

      — Theodoro! Não!! Jamais!! — Respondo entredentes, negando veementemente com a cabeça para mostrar o óbvio. — Ficou louco!?

      Devo estar vermelha como um pimentão de tanta vergonha. Mas pensando bem, deve ser mais por eu estar, literalmente, morrendo de raiva agora. O que serviu para Théo abaixar a cabeça de medo.

      — Não minta para o seu coração. — Dante diz bem próximo ao meu ouvido, o suficiente para que apenas eu escute o que acabara de dizer.

      Sinto arrepios percorrerem meu corpo e minha alma.

      Forço-me a negar isso tudo.

      Isso não existe!

      Não deve existir, principalmente...

      Comigo.

      Porém, já sinto o parasita em mim.

      Sinto o que ele quer.

      E talvez, ele esteja certo.

      E apesar de não querer, de detestar isso com todas as minhas forças, chego a uma conclusão.

      Dante está completo de razão. 

AMORES ETERNOS - A História de Dante e BeatrizOnde histórias criam vida. Descubra agora