ღ CAPÍTULO 25 ღ

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Beatriz


      — O QUE HOUVE DEPOIS? — Dante pergunta.

      — Nada. No dia seguinte ele fingiu que nada havia acontecido. Talvez não se lembrasse de nada, mas duvido muito. Algo nos olhos dele mudou e eu tenho certeza de que não era arrependimento, talvez medo de eu contar tudo para minha mãe, mas garanto que ele não estava arrependido. — Respiro sentindo as lembranças do passado me deixando vagarosamente. — Acho que o resto todos já conhecem. Ele traiu a minha mãe com a irmã de um colega de trabalho e simplesmente resolveu nos abandonar, deixando a mulher grávida de gêmeos, com uma filha pequena e uma casa para sustentar. — Digo fazendo círculos e mais círculos com a mão.

      — Porque não contou a ninguém?

      — No começo foi por puramente temer que ele repetisse seus atos caso eu abrisse a minha boca. Confesso que não entendia muito bem o que havia acontecido comigo, mas sabia muito bem o quanto foi doloroso e isso já era o suficiente para me fazer temê-lo. Fiquei esperando por dias algum momento em que estivesse apenas eu e minha mãe sozinha para contar tudo a ela. — Expliquei. — Mas, então... Logo ele fez o que fez e partiu com uma outra mulher. E foi neste momento que eu percebi o quanto a minha mãe ainda o amava. — Digo e desvio o rosto.

      Olhando a janela atrás de Dante, pude vislumbrar os últimos raios alaranjados do sol poente darem lugar a tons azuis e roxos no céu. Estava começando a escurecer.

      — Cline... — Sua voz me chama apreensiva.

      — Não, Dante. — Digo negando com a cabeça. Sei o que ele quer dizer. Sei o que ele gostaria que eu tivesse feito... Mas que não tive coragem de fazer. — Aquela dor era minha. Jamais me perdoaria se fizesse com que outra pessoa a sentisse também.

      — Você é mesmo única sabia? — Diz esboçando um sorriso.

      — É, eu sei. — Falo retribuindo o sorriso e empurrando de leve seu ombro esquerdo, o que o faz fazer uma careta de dor como se eu estivesse deslocado o seu ombro.

      Reviro os olhos com o que se passa a minha frente, mas acabo gargalhando da atitude de Dante. Logo o ouço-me acompanhar. Jamais pensei que contar toda essa história a Dante Hawthorne fosse me trazer essa sensação de alívio e paz como o que estou a sentir agora.

      — Sabe... — Começo. — Não me arrependo destas escolhas. Mas depois de um tempo algo começou a martelar em minha cabeça.

      — Diga.

      — Nunca soube o que aconteceu com a vida dele depois. Já não tínhamos muito contato com ninguém da família dele. Meus avós moravam em uma cidadezinha do México, e acho que ainda moram se não morreram dentre esses anos todos. Talvez ele tenha contado algo eles...

      — Não sabia que possuía descendência mexicana, mas isso justifica bastante as suas características. — Dante me interrompe. — Desculpe, pode continuar. — Diz exibindo um belo sorriso torto.

      — Não sei se ele foi capaz de construir uma outra família, mas todos os dias eu desejo que não. Sei que muitos podem achar isso errado e até egoísta, mas a questão é que isso me levaria a pensar em somente uma alternativa... — Engulo em seco encarando bem a imensidão azul a minha frente.

      Dante abre a boca para me dizer algo, mas a fecha assim que ouvimos batidas na porta.

      Levanto imediatamente da cama no momento em que vejo a Sra. Hawthorne escancarar a porta. Não olhei para trás, mas quase pude vê-lo rir da minha reação.

      — Desculpa atrapalhar qualquer coisa. — Diz olhando para o filho. Sinto minhas bochechas corarem, algo em sua fala me diz que deve ser bem normal encontrar garotas neste quarto. E certamente, não é apenas conversando... Talvez seja por isso que Alicia disse aquilo. — O jantar está pronto. Você vai ficar conosco não é, Cline?

      Céus!!

      Essa família tenho mesmo uma grande fixação pelo meu sobrenome.

      — Ah, não... — Nego bem certa de minha resposta. — Muito obrigada, Sra. Haw... Roxanne. — Corrijo-me. — Obrigada, mas preciso voltar para casa. Minha mãe já deve estar me esperando.

      — Ligue para ela e avise, será muito bom ter você hoje conosco. — Insiste. — Não é mesmo, filho?

      Olho para Dante com uma sobrancelha arqueada. Ele sorri concordando com a cabeça.

      — Claro, mãe.

      Se antes eu já odiava o Dante, tenho certeza que esse sentimento apenas se avolumou.

      Sei pelo seu olhar que foi proposital...

      — Acho melhor não, quem sabe outro dia...

      — Vamos! — Me interrompe com a mão esticada para mim. — Vai, vou ligar para ela.

      Okay...

      Não esperava por essa.

      Lanço um olhar de súplica a Dante que mantém as mãos dentro do bolço da calça jeans em que veste, ao que ele retribui dando de ombros. Reviro os olhos involuntariamente.

      — É melhor fazer o que ela diz, Cline. — Explica com um sorriso que eu diria que seria bem maquiavélico se não fosse ao mesmo tempo tão sedutor. — Ela é uma ótima advogada.

      De todas as maneiras que eu imaginei que meu dia se encerraria hoje, jamais havia sequer cogitado a existência desta em que o destino me escolheu.

      Jantar com a minha família, conversar com as meninas, contar a Sam sobre o grande passo que dei ao narrar a minha história a Dante ou até me dedicar a escrita na qual tanto ando adiando, seria extremamente mais fácil para se imaginar. Algo bem menos complicado.

      Todavia, recentemente percebi que a minha visão sobre a vida e até mesmo os seres que nela existem, está sofrendo uma transmutação estrondosa. Como se está fosse uma estranha lagarta em um dia e no outro já estivesse inesperadamente livre no belo corpo de uma borboleta que andarilha pelo céu a fora, tudo sem que houvesse o período de tempo em que ela passa no seu humilde casulo.

      Jantar com a família de Dante foi uma boa jogada da vida, foi completamente alegre, insano...

      E inesperado!

      Já não sei mais o que esperar da vida e já nem quero mais saber de nada. A vida é uma caixinha de surpresa, não é bom gastá-la tentando compreendê-la, por isso, resolvi que já era hora de deixar-me surpreender com ela.

      Ser surpreendida pela vida não é tão ruim assim. 

AMORES ETERNOS - A História de Dante e BeatrizOnde histórias criam vida. Descubra agora