ღ CAPÍTULO 28 ღ

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Beatriz


      MEU CORAÇÃO ESTILHAÇOU. Senti cada pequeno pedacinho implodindo dentro de meu peito me causando mais dor ainda, para depois se esconderem nos cantos mais escuros para jamais voltarem a ser encontrados. Para jamais voltarem um dia a me trazerem vida.

      Pensei no pior e o trouxe para mim, abraçando-o com força mesmo que custasse bons machucados em minha pele. Senti seus braços longos me envolverem e não pude me afastar.

      O grito que ansiava sair por minha boca ficou preso em minha garganta. Minhas pernas tremerem com o que a voz que achei tão simpática noutro dia em sua casa, poderiam me dizer ali. As palavras que chegavam até os meus ouvidos não conseguiam ser assimiladas corretamente e embaralhavam-se na minha cabeça.

      Forcei-me a prestar atenção no que estava ao meu alcance, observar sempre fora algo que aprendi a fazer para conseguir me expressar bem com as palavras no papel.

      Mas o que eram todos aqueles papéis espalhados pela mesinha de centro?

      Como assim iriam precisar de meu nome no processo?

      E que processo era este afinal?

      Foi então que as palavras voaram feito flechas sem direção pela sala e me acertaram em cheio.

      Abuso de menor...

       Prisão imediata...

      Morando em Oregon...

       Não era para isto acontecer. Pensei que estivesse acontecido algo sério com ele, que não estivesse bem, que estivesse se machucado, mas não. Não para Dante ter dito coisa alguma sobre aquilo a alguém, mas ele o fez. Era o meu único segredo. A minha cicatriz na qual resolvi manter escondida. Mas a vida não suportou manter tudo enterrado. E cá estou.

      O olhar de minha mãe se prendeu em mim, me estudando, me analisando e me avaliando, necessitando saber se aquilo tudo é mesmo verdade. Mas que seja através de minha própria boca. Tenho certeza de que tudo que ela deseja é saber que isso não passa de uma brincadeira de mau gosto ou que isso tudo é apenas um pesadelo, talvez seja exatamente isso que eu estou desejando neste momento. Acordar.

      Não tenho forças para dizer coisa alguma, mal tenho energia para olhar nos olhos daquela que chamo de mãe e que agora se encontra perdida e confusa em meio as palavras que saem da boca da Sra. Roxanne. A vejo levar a mão em direção a boca espantada e seus olhos verdes perderem de um instante para o outro todo o brilho que costumam exibir. Uma bela pérola perdendo o seu valor. E a culpa disso é toda minha.

      Simplesmente me mantenho calada na vã esperança de desaparecer dali.

      — ... Tudo bem por você, Cline? — A Sra. Roxanne finaliza o que estava a dizer, erguendo o rosto para mim a fim de meu consentimento.

      Não demora muito para que ela associe o meu silêncio com a expressão que seus olhos veem em minha mãe. Os pontos são ligados.

      Vejo o momento em que seus olhos se arregalam e sua pele perde a cor, ficando ainda mais luzente, seu rosto se move entre minha mãe e eu, até que finalmente se prendem em minha direção e seus lábios se movem formando um "Desculpe" sincero que somente eu vi.

      Por muito pouco tempo, pois meu corpo já se movia para longe dali.

      Eu preciso sair daqui!!

AMORES ETERNOS - A História de Dante e BeatrizOnde histórias criam vida. Descubra agora