"O Amor abandonou-me"

7 0 0
                                    

O amor abandonou-me

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

O amor abandonou-me. No momento em que eu mais precisava dele, partiu. Sem dizer nada, sem uma palavra, sem um gesto, sem uma carícia. Deixou o meu peito ferido e vazio de tudo aquilo que me completava, de tudo aquilo que me preenchia, que me consumia de felicidade e do melhor de mim.

Ainda o procuro, ainda tento recuperá-lo, que ele regresse e me devolva o pedaço de vida que do nada me roubou. Não reconheço o amor, tentei – durante vários – anos compreendê-lo, perceber em que é que assenta, de que é feito, que princípios o constroem. Neste momento cansei-me de lutar por ele, de esperar por ele, de o entender.

Procuro respostas – ainda que vagas – na alma de quem me deixou, nos fragmentos que guardo comigo, nas palavras soltas que se encontram espalhadas na minha pele, nos inúmeros cadernos espalhados pela casa, nos meus lábios. Nos meus olhos. Também se dizem palavras com o olhar, talvez acredite que sejam as palavras mais duras e mais sentidas, aquelas que por vezes ferem mais, quando ditas em silêncio, sem uma voz que lhes dê um corpo.

O (meu) coração não merece. Eu não mereço. E peço para deixar de sentir, para desaprender de amar.
Tudo começou há um ano num dos países que também rima com Amor: Itália, depois de um ano conturbando com a separação dos meus pais, a morte da minha avó materna com quem vivi grande parte da vida. Senti que precisava de dar um novo rumo para a minha vida, de me reencontrar comigo mesma, de mudar de ares, de conhecer pessoas novas e fazer coisas diferentes. Sentia-me exausta de viver os problemas dos outros e que ninguém se preocupasse com os meus; por isso, fiz as malas e decidi aventurar-me.

Primeiro ponderei ir uns tempos para Paris, mas depois pensei que Paris era mais do mesmo, já tinha ouvido falar imenso da cidade, procurava desesperadamente um sítio mais longínquo e Itália, foi a minha segunda escolha.

Juntei todas as minhas mesadas e apanhei um avião até Veneza, foi precisamente durante essa curta viagem que conheci o Francesco. Um jovem italiano, loiro, de olhos verdes, muito simpático e afável, que ia sentado ao meu lado. Começamos a conversar, numa conversa atabalhoada de erros de percurso e descobri que ele era veneziano e que estava de regresso a casa depois de uma temporada a estudar fora, vi – imediatamente – nele, tudo aquilo que precisava. Ele era descontraído, bem-humorado, era a diferença que fazia falta na minha vida.

Passei um mês em Veneza, e foi dos meses mais intensos e bonitos que recordo. Eu e o Francesco tornamo-nos grandes amigos, ele acompanhou-me para todo o lado, mostrou-me a cidade: cada recanto, cada jardim, e cada zona de mar, e a sua melhor gastronomia. Fiquei rendida a Veneza, passamos juntos excelentes momentos: momentos que recordo com saudade, com emoção e com alguma tristeza, ainda bem que os eternizamos em fotografias e vídeo.

Não demorou muito até que eu e o Francesco: mi amore, nos apaixonássemos um pelo outro, tínhamos tudo para sermos felizes. Viajamos até Roma e ainda fomos a Florença. Não queria separar-me mais de Itália nem do Francesco, tinha encontrado o amor da minha vida, a pessoa que queria ter ao meu lado para sempre.

Na verdade, tinha reaprendido a amar com o Francesco e estava mais feliz do que nunca, no entanto, depressa aquele mês de renascimento pessoal e de recarregar de baterias, chegou ao fim, obrigando-me a tomar duras decisões. Por um lado, queria ficar ali: naquele país que já era meu, naquela cidade que já era como se fosse a minha casa, ao lado do homem que mais amava. Mas por outro lado, sabia que estava a viver uma vida de sonho completamente díspar da realidade, tinha que voltar para o meu país, para a minha cidade, para junto da minha família que apesar de disfuncional, era a minha família.

Falei com o Francesco, num romântico passeio de Gôndola e expliquei-lhe os motivos que me levavam a regressar à vida que tinha. Ele compreendeu, num gesto de enorme amor que ainda hoje guardo para mim. Prometemos visitar-nos nas férias seguintes e convidei-o a visitar Portugal.

Essa visita não tardou a acontecer, cerca de meio ano mais tarde. Foram os seis meses mais duros da minha vida, longe de alguém que me oferecia tudo aquilo que eu precisava, principalmente estabilidade. Mas o que eu não sabia era que a vida tinha mudado radicalmente para Francesco, a distância que nos separava abalou todo o amor que nos unira.

Numa vinda a Portugal, Francesco apresentou-me Petra: a sua atual namorada. Fiquei em choque, desolada, perdida, triste e de coração desfeito. Senti-me magoada e enganada. Eu amava-o tanto e ele não tinha sido capaz de me contar tudo. Apareceu assim, do nada, de ânimo leve, sem eu estar à espera. E mostrou-me a pior das realidades: deixar de ser amada.

Tentou desculpar-se, dizendo que não tinha conseguido ganhar coragem para me contar tudo, que tinha medo. porque me amava muito e que não queria magoar-me. Não consegui compreender, não consegui desculpar tal frieza e insensibilidade. Não queria explicações, não queria ter que passar por tudo aquilo, depois de termos passado todos aqueles dias recheados de amor incondicional e eterno.

Balança na minha memória a pergunta que ele deixou no ar: Será que algum dia me vais conseguir perdoar?

Não sei. Só o tempo e o coração o dirão.

Francesco partiu despreocupado, envolvido numa felicidade dessintonizada com a minha, cruzando caminhos diferentes dos meus, lutando por sonhos incomuns. Não éramos as almas gémeas que eu imaginava e isso desiludiu-me muito e fragilizou o meu coração. Nunca mais tive notícias dele: um telegrama, uma carta ou um telefonema, cada um seguiu o seu caminho.

Olho desprendida de amor para o horizonte e penso:

De Itália... O amor abandonou-me!

Manuscrito - Histórias que podiam ser a tua históriaOnde histórias criam vida. Descubra agora