Escondo por detrás destas linhas o que sinto, os fragmentos em que o meu coração se encontra por saber e sentir que já não te tem mais aqui. Escrevo e desabafo o que penso, como se pudesse fazer de cada folha de papel, um belo pedaço da tua pele, tendo a oportunidade de deixar a minha marca em ti para sempre, uma vez que não tive oportunidade de fazê-lo enquanto tu fizeste parte da minha vida. As lágrimas que deslizam pelo meu rosto borratando a maquilhagem, desvanecem as palavras, baralham a tinta da caneta como o desaparecer de uma onda, fazem de cada memória tua uma névoa que eu não queria que se desvanecesse a troco de nada, mas eu sei que preciso disso para seguir em frente e continuar com a minha vida. Neste momento, há todo um desamor que me envolve e consome.
Preciso de lavar a alma e foi nestas folhas em branco que encontrei a melhor forma de o fazer, dizer-te o que não te disse da última vez que estivemos olhos nos olhos, cara a cara e corpo a corpo. Sinto necessidade de registar o que ficou por dizer, o que gostaria de ter-te dito e não disse, pois, o sofrimento em que o meu coração se encontrava fez por me roubar cada palavra. Preciso de aliviar o peso que sinto, apesar de ter consciência que esse peso vai continuar eternamente aqui, apenas e só pelo facto de estares ausente da minha vida.
Preciso de tentar escrever em palavras a falta que me fazes todos os dias e a todas as horas, quem sabe, talvez consiga colmatar essa ausência à medida que as linhas vão ficando todas preenchidas e a alma e o meu coração vão ficando vazios. Não gosto de sentir que deixei de ter coisas para dizer e para partilhar, porém, no fundo, é isso que uma separação origina, lacunas. Lacunas de amor. Lacunas nos gestos. Lacunas nos sorrisos. Eras essa peça fundamental em mim, o que me mantinha à superfície, o melhor dos meus dias, das minhas manhãs, dos meus finais de dia. O ontem, o hoje, o agora. O para sempre.
Eu ainda escrevi tão pouco e parece que percorri quilómetros nesta remas de papel tão curta, há um sufoco dentro de mim que tem medo de que as linhas não cheguem para o muito que gostaria de dizer, de eternizar de ti. Há uma parte de mim que quer esquecer-te e outra parte que sabe que esquecer-te é uma missão impossível, pois, não se esquece quem nos toca, quem nos marca, quem nos ama com intensidade, quem dá de si pelo melhor de nós, por muito que a alma sofra em silêncio e até em desassossego, o coração vai continuar a bater por ti e pelo melhor de ti.
Imagino se estas folhas de papel falassem, se a tua pele falasse. Como se sentiria? Também sentiria falta daquilo que lhe faz falta? Eu sinto falta. Falta de ti que és quem mais falta me faz, mais ainda que o oxigénio que me mantém presa à vida. Não sei. Não sei se serei capaz de manter-te vivo na minha vida, mesmo que tu não estejas mais aqui, mesmo que deixemos de nos cruzar, mesmo que só sobrem memórias, recordações, encontros e desencontros e pormenores que agora não têm a mesma importância. Talvez te mantenhas vivo só nestas páginas, porque sim. Porque faz sentido e assim só te recordo quando quiser.
Se preciso de ti? Sempre. Porém, agora, esse sempre já não existe. O sempre são agora fragmentos de tempo em que fomos felizes e espaços em branco, como os parágrafos que eu faço nestas linhas. Nem sempre os finais felizes acontecem quando queremos. Se um dia quiseres voltar e recomeçar de novo, esperarei por ti. Estarei aqui e arranjarei um espaço nas entrelinhas destes desabafos para voltar a manter-te vivo em mim e na minha vida. Para ressuscitar-te de novo. De facto, a tua casa será sempre o meu coração.
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Manuscrito - Histórias que podiam ser a tua história
Phi Hư CấuNeste livro compilo uma série de contos e histórias que fui escrevendo no meu blogue. Histórias sobre os mais diversos temas. Histórias que tocaram pessoas. Histórias que podiam ser a tua história.