Desde muito cedo que eu dizia que jamais amaria à distância, o amor é essencialmente presença constante entre duas vidas e não resulta à distância, pensava eu, porém a maneira como eu olhava para o amor ia mudar drasticamente durante o programa Erasmus na faculdade. Eu e as minhas melhores amigas tínhamos sido destacadas para a cidade de Lyon, em França, para participarmos numa campanha de voluntariado, nós estávamos entusiasmadas, principalmente porque a Jennifer andava a tentar convencer-nos a fazermos uma escapadela a Paris a meio da semana. Sim, era uma tremenda loucura.
Como é nós iríamos fazer isso sem darem pela nossa falta? Que desculpa iríamos dar?
Confesso, estava aterrorizada, mas ao mesmo tempo não queria pensar muito no assinto, pelo menos para já, queria aproveitar tudo ao máximo e divertir-me quando chegássemos a França logo veríamos. Tiramos os passaportes, fizemos as malas e no dia marcado, apanhamos um táxi e rumamos ao aeroporto, nenhuma de nós tinha pregado olho. Fomos a viagem toda a conversar, o que fez com que nem déssemos pelo tempo passar, quando trocávamos a última ideia estapafúrdia, o comandante avisou que íamos aterrar, mas que excitação. Apanhamos outro táxi que nos levou até ao hotel, onde um representante da associação para a qual íamos trabalhar já nos esperava. Depois de pousarmos as bagagens no quarto e de descansarmos uns minutos, entramos numa carrinha e fomos à associação para conhecermos a equipa onde iríamos trabalhar.
Foi nessa equipa que eu conheci o Oliver, um voluntário francês que já trabalhava na associação há cerca de dois anos, era responsável pelos jovens que vinham de fora realizar voluntariado, jovens como nós. Simpatizei de imediato com ele, porque se mostrou deveras simpático e disponível e à medida que os dias foram passando criamos uma ligação especial. Por coincidência, era ele que estava a acompanhar-nos, por isso passávamos horas a conversar. Falou-me do seu forte desejo de ser voluntário e de ajudar os outros e de como tinha descoberto a associação, eu também lhe contei sobre a minha enorme paixão pela aventura e pela adrenalina.
Foi uma das melhores semanas da minha vida, pois eu e o Oliver já não nos separávamos para nada e quando nos apercebemos estávamos apaixonados um pelo outro, mas sabíamos que não nos devíamos apaixonar, pois iríamos ter de nos separar e não sabíamos quando nos voltaríamos a ver, mas a vontade dos nossos corações falou mais alto. A felicidade constante passou a ser a minha melhor amiga, até que a vida nos ofereceu de presente a hora da despedida, o nosso estágio tinha chegado terminado e eu vivia num verdadeiro alvoroço, tinha a cabeça num corrupio ambulante. Se por um lado tinha saudades de casa, por outro lado eu não queria deixar o meu amor para trás, o Oliver. Chorei sozinha de véspera e passei com o Oliver a última noite juntos.
O dia seguinte amanheceu chuvoso. O Oliver quis acompanhar-nos sozinho ao aeroporto, durante o percurso na carrinha eu não conseguia tirar os olhos do espelho retrovisor queria estar constantemente em conexão com ele. Foi a despedida mais dura de sempre, achei que o nosso amor nem sequer ia durar porque vivíamos longe. Nos primeiros tempos senti imensa falta dele e dos laços que nos uniam, não sabia viver sem ele e ponderei mudar drasticamente de vida, emigrar para Lyon para estar junto dele, eu percebi através da dor da distância, a força de um grande amor.
Entre saudades, desencontros e escolhas algo incertas, vivi o melhor do amor, a surpresa do Oliver. Quando eu menos esperei estava à minha espera na faculdade, não queria acreditar que ele tinha aproveitado as férias para vir a Portugal ver-me. Senti que era possível renovar um amor vivido a quilómetros de distância.
Na última noite do Oliver ao meu lado, fomos surpreendidos por uma canção especial, da portuguesa Raquel Tavares chamada: "Meu Amor de longe", entrelacei os meus dedos nos dele e abracei-o. Ele iria ser sempre o meu verdadeiro amor de longe.
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Manuscrito - Histórias que podiam ser a tua história
Non-FictionNeste livro compilo uma série de contos e histórias que fui escrevendo no meu blogue. Histórias sobre os mais diversos temas. Histórias que tocaram pessoas. Histórias que podiam ser a tua história.