"Um Acaso com sentido"

3 0 0
                                    

Tudo começou no Verão passado, em pleno calor Alentejano, Leonor estava longe de imaginar o impacto que aquela SMS desconhecida iria ter na sua vida

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Tudo começou no Verão passado, em pleno calor Alentejano, Leonor estava longe de imaginar o impacto que aquela SMS desconhecida iria ter na sua vida.

As aulas nunca mais chegavam ao fim, estávamos em junho de 2014 e era uma chatice ter aulas a torrar dentro da sala, com um sol e um calor magníficos lá fora e os professores – chatos como tudo – não se calavam um minuto, era matéria atrás de matéria já para não falar nos malogrados exames nacionais, dos quais se falava todos os dias (uma seca!). Que estavam mesmo à porta. Um inferno. Nunca mais via a hora de chegar agosto para juntar os amigos e irem à aventura pelo Alentejo, Leonor era uma jovem divertida, extrovertida, aventureira, determinada e decidida. Depois de quase dois meses de estudo intensivo, quase sem tempo para respirar, os exames chegaram ao fim. As notas só sairiam lá para setembro, o que era ótimo, pois podiam desfrutar ao máximo das merecidas férias.

E o agosto chegou, cheio de calor e Sol – propício a uns bons mergulhos -, a Leonor e os amigos fizeram as malas, apanharam o autocarro em Lisboa e seguiram para Évora. Destino: Praia de Vila Nova de Milfontes. Os primeiros dias foram uma tremenda loucura: noites ao relento, pesca, praia, mergulhos, campismo, gargalhadas e muita alegria e diversão, até que numa das muitas tardes de piscina, Leonor recebeu uma mensagem no telemóvel de um número desconhecido: "Vem ter comigo", podia ler-se, riu-se – aqueles pequenos equívocos eram sempre tão engraçados e deliciosos – e partilhou logo tudo com os colegas que desataram à gargalhada, de seguida, decidiu fazer aquilo que habitualmente toda a gente faz em situações como aquela: "Desculpe, enganou-se no número". E as férias prosseguiram...

Dois dias depois, a Leonor voltou a receber uma nova SMS do mesmo número, com o seguinte conteúdo: "Continuo à tua espera". Mas que raio, persistente a pessoa do outro lado – pensou, no entanto não deixava de ter a sua piada. Em conversa com os amigos confessou estar deveras curiosa para saber de quem seria aquele número e a Kika incentivou-a a arriscar e a enviar uma mensagem de volta perguntando quem era. Leonor ficou renitente em aceitar, as mensagens podiam ser enviadas por imensas pessoas, podia até ser um homem de cinquenta anos, no entanto, a curiosidade espicaçou-a a ponto de se atrever o suficiente e arriscar enviar a mensagem com o seguinte conteúdo: "Quem és?", mais simples, concisa e direta não poderia ser. Agora era só saber esperar que respondessem. Minutos depois o telemóvel avisou a receção de mais uma mensagem, era ele: "E tu quem és?". Começava a ficar entusiasmada e a gostar daquele mistério todo, pegou no telemóvel e respondeu: "Chamo-me Leonor e tu?"

Leonor ficou a saber que as mensagens misteriosas dos últimos dias vinham de um rapaz chamado Rui, tinha 21 anos e era de Lisboa – eram vizinhos e isso dava-lhe uma pica...! –, desculpou-se como pôde dizendo que pensava que estava a enviar as mensagens para a namorada.

Nos dias que se seguiram continuaram a trocar mensagens, mas com mais frequência – às vezes estavam horas a enviar mensagens um ao outro –, agora queria saber mais coisas sobre ele: o que fazia, o que mais gostava de fazer, quais os seus sonhos; essas coisas todas, não podia deixar que as coisas ficassem só por ali. Depressa, a Leonor ficou a saber que Rui estava prestes a entrar para a Marinha, mas que era uma escolha que não lhe agradava muito, por ser uma imposição dos pais, não era o que queria para a sua vida, o seu maior sonho era seguir artes: ser pintor. Para além disso ia ser obrigado a perder um ano da faculdade e a afastar-se da família e da namorada o que lhe ia custar imenso, estavam juntos há quase três anos. Leonor ficou triste, não imaginaria como reagiria se os pais a obrigassem a seguir uma carreira da qual não gostasse ou com a qual não se identificasse, Rui perguntou-lhe quando regressaria a Lisboa e ela disse-lhe dali a três dias. Prometeram encontrar-se pessoalmente.

E assim foi, três dias depois a Leonor e os amigos regressavam a Lisboa, Rui foi até à estação do Oriente onde esperou pela chegada do autocarro, foi fácil reconhecer a Leonor, não era muito diferente daquilo que tinha visto nas fotografias que tinham trocado, aliás, conseguia ser ainda mais bonita. Abraçaram-se e aproveitaram para passear pelo Parque das Nações; Leonor apercebeu-se que apesar de Rui se mostrar muito feliz pelo encontro com ela, havia algo que o preocupava. Ele contou-lhe que tinha terminado tudo com a namorada Carolina, que ela não tinha sabido compreender as suas dúvidas, incertezas e inseguranças acerca da entrada para a Marinha – do seu futuro –, respeitar o seu próprio espaço; que queria ser sempre o centro das atenções em tudo e para tudo, que tudo girasse à sua volta e que ainda lhe tinha dito que ele era um miúdo imaturo, que não sabia o que queria.

Apesar de tudo, Rui estava destroçado porque gostava muito dela; ele e a Leonor passaram a estar juntos todos os dias e ela aos poucos conseguiu que ele fosse reagindo. Ele confidenciou-lhe que se seguisse o que o pai queria (principalmente o pai!) nunca seria feliz, mas que também não tinha coragem de o contrariar, de o enfrentar e de o desiludir; explicou-lhe que o pai sempre sonhara alistar-se na Marinha, no entanto, nunca conseguiu concretizar esse sonho e agora queria a toda a força que ele lhe seguisse as pisadas obrigando-o a realizar o sonho dele – que não era nem nunca seria o seu sonho -. Leonor incentivou e encorajou o Rui a reunir-se com o pai e a explicar-lhe o que sentia e pensava, que o pai não o podia obrigar a seguir um sonho que não era o seu. A medo, ele disse que ia tentar.

Dois dias depois, reencontraram-se nos Armazéns do Chiado, Rui parecia diferente; enquanto comiam um gelado e passeavam, contou-lhe que tinha ganho coragem para ter uma conversa séria com o pai, fazendo-o perceber que apesar de não ter conseguido concretizar o sonho dele não podia passar toda a sua frustração para ele, obrigando-o assim a seguir um caminho que não partilhavam. Ainda discutiram, mas depois o pai entendeu que estava de facto a proceder mal e pediu desculpa pela pressão que tinha exercido sobre ele. Problema resolvido. Leonor ficou radiante e Rui decidiu pedi-la em namoro; ela aceitou.

No dia seguinte ia ser um dia muito importante para o Rui, ia inscrever-se na Faculdade de artes e seguir o seu sonho. E a Leonor ia lá estar, afinal de contas a felicidade pode encontrar-se mesmo nas pequenas coisas.

Manuscrito - Histórias que podiam ser a tua históriaOnde histórias criam vida. Descubra agora