"Saber a Mar"

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Cruzamo-nos, naquele dia, junto à marginal

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Cruzamo-nos, naquele dia, junto à marginal. Eu estava ali de férias com os meus amigos, depois de um ano intenso na faculdade, e ele trabalhava na praia como nadador-salvador. Íamos distraídos cada um perdido na sua vida e acabamos por chocar um com o outro, pedimos desculpa, um ao outro, e seguimos o nosso destino. Mas aquelas férias nunca mais iam ser as mesmas, parecia que me tinha sido indiferente, mas não tinha.

Os olhares que nós trocamos, a expressividade e o verde água dos seus olhos, nunca mais me deixaram sossegar, queria vê-lo outra vez, não o conhecia, não sabia o seu nome, se vivia ali ou se também estava só de passagem, mas precisava de o encontrar. Queria saber mais sobre ele, apesar do mundo de incertezas em que estava rodeada.

Voltei à praia... sozinha. Inventei uma desculpa bem esfarrapada e deixei o resto do grupo a curtir uma bela tarde de mergulhos na piscina, só para o procurar. Estendi a toalha no areal, pus os óculos-de-sol e deixei-me ficar sentada perdida nas ondas do mar, no ciclo vicioso que era o mar a enrolar na areia. A praia estava cheia, não havia um espacinho livre para mais uma toalha, a areia estava a escaldar, o calor do sol apertava bruscamente, estava mesmo a apetecer-me um mergulho. Larguei tudo e desatei a correr para o mar, até que...

– Olá! Por aqui?

Era tudo aquilo que eu mais desejava, não precisei de o procurar, veio ele ao meu encontro. Apresentamo-nos, fiquei a saber que se chamava Luís Miguel, que tinha 29 anos e que todos os verões trabalhava naquela praia como nadador-salvador, para conseguir mais algum dinheiro. Ficamos ali sentados à beira-mar com as ondas a tocarem a pele, a conversar, falamos de filmes, de música, de leituras, da paixão pela praia e pelo bodyboard.

Seguiram-se dias inesquecíveis, o Luís conheceu os meus amigos e formamos um grupo, durante o dia estávamos sempre juntos na praia e depois de ele acabar o seu turno, a noite era nossa, todos os dias nos levou a um sítio diferente. Dei por mim a vê-lo perguntar-me quanto tempo iríamos ficar ali. Meu Deus!!!

Infelizmente faltavam pouco mais de 4 dias para o nosso regresso, e o Luís era tão porreiro, começamos a gostar um do outro assim do nada. Sabia que era um amor praticamente impossível porque iríamos acabar por ter que nos separar e íamos ficar longe um do outro, e não há amor que resulte à distância, provavelmente nunca mais nos iríamos ver. Mas quisemos arriscar, e passamos os últimos dias sempre juntos a namorar, eu gostava tanto dele, que já sentia uma bola no estômago só de pensar que teria que o deixar.

Na véspera do meu regresso, passamos a noite juntos na praia e envolvemo-nos, foi talvez uma das noites mais belas da minha vida, fomos um só. O Luís ofereceu-me um presente magnífico, disse-me que era para que nunca mais o esquecesse, como se eu o conseguisse esquecer, eu sabia que jamais o iria esquecer, um colar com um coração esculpido numa concha do mar que dizia: Para a Raquel com amor. É o meu amuleto da sorte, anda sempre comigo.

Regressei à minha vida, à faculdade. Uma semana depois o Luís fez-me uma surpresa e veio visitar-me, não me podia ter sentido mais feliz, já não estava a conseguir suportar as saudades que tinha dele.

Afinal de contas... Saber amar (só) é saber deixar alguém te amar.

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