Raquel era uma jovem que desde a adolescência andava em busca de um grande amor, mas até àquele momento todas as relações que tinha tido tinham sido fugazes e curtas. Não se dava com rapazes que não estivessem plenamente focados na relação, que olhassem para o amor como apenas um modo de diversão, que fossem ciumentos quando nem sequer sabiam o verdadeiro significado de amar, obsessivos e possessivos.
Não aguentava relações assim e depressa terminava tudo como do dia para a noite, no entanto, sentia-se como um verdadeiro patinho feio no ceio do seu grupo de amigas, pois todas já tinham namorado há muito tempo menos ela. O que a fazia acordar e deitar-se a pensar sempre no mesmo: Tenho que procurar a minha alma gémea esteja ela onde estiver.
Dali a uns dias, Jéssica: a melhor amiga de Raquel, convidou-a para um jantar e uma saída de miúdas até à discoteca, sem namorados a controlar. Raquel achou a ideia genial, e alinhou de imediato, quem sabe não fosse aquela a sua noite de sorte. Combinaram encontrar-se ao final da tarde junto a um novo restaurante de sushi que tinha aberto há pouco tempo para porem a conversa em dia.
Sentaram-se e durante todo o tempo que estiveram no restaurante a mesa delas foi sem dúvida a mais animada, com imensas conversas a circular, gargalhadas e situações insólitas, houve um pouco de tudo. Já passava das 22h quando deixaram o restaurante a caminho de um bar para fazerem tempo que a discoteca abrisse, pelo caminho cruzaram-se com André. Era o melhor amigo do irmão de Jéssica, há meses que se debatia com o vício da droga.
Estava por ali, pelo asfalto frio e fugidio, sentado ao acaso, apresentava um péssimo aspeto: ar cansado e rosto cheio de olheiras de quem já não dormia há horas a fio, os braços estavam cheios de marcas provocadas pelas sucessivas picadas que ele dava para se injetar. Roupa suja, pés quase descalços.
Jéssica tentou afastar as amigas daquele cenário, mas não conseguiu evitar que André a interpelasse, implorando-lhe algumas moedas para comer, mas Jéssica sabia que as moedas não eram para comida mas para alimentar o seu vício. Por isso, por muito que lhe custasse não lhe deu nada e virou-lhe as costas.
Chegaram então ao bar, onde ocuparam uma das muitas mesas fazias, Leila foi ao balcão buscar Mojitos para todas, mas Raquel parecia estar distante, aliando-se dos festejos das amigas. De certa maneira sentia-se de consciência pesada por não terem ajudado André, mesmo que soubessem que ele iria usar o dinheiro para tentar comprar droga. Não ficou muito satisfeita com a falta de compaixão da amiga, depois de André ser o melhor amigo de Diogo.
Algum tempo depois, não se sentindo bem para continuar a noite, Raquel deu uma desculpa esfarrapada e abandonou o bar regressando às imediações do restaurante de sushi para procurar André. Lá estava ele, exatamente no mesmo sítio aonde o tinham encontrado. Raquel dirigiu-se a um bar ali perto e comprou-lhe uma tosta mista e uma garrafa de água.
Nos dias que se seguiram, às escondidas da melhor amiga, Raquel continuou a encontrar-se com André, até ele aceitar ir para uma clínica. Com a ajuda de Diogo, fez-lhe visitas regulares, até acabar por se apaixonar por ele.
Quando André já se encontrava "limpo" do vício das drogas, decidiram ter uma conversa séria, ele agradeceu-lhe por toda a ajuda que ela lhe tinha dado, confidenciando-lhe que se não tivesse sido ela muito provavelmente nunca teria conseguido e por tudo o que tinha feito por ele. Que jamais lhe iria conseguir agradecer como ela merecia e que iria ter para com ela uma dívida enorme de gratidão.
Depois disse-lhe que também estava apaixonado por ela, mas que infelizmente, não podia amá-la da mesma medida. Não queria de forma alguma que ela ficasse presa a uma pessoa como ele, sujeitando-se a ser alvo de preconceitos. Raquel não se importava nada com isso, ela amava-o para lá dos preconceitos e confidenciou-lhe isso mesmo.
De lágrimas nos olhos, André contou-lhe o segredo que guardava desde que se tinha iniciado no mundo das drogas: era seropositivo, devido ao uso de uma seringa contaminada. Apesar do choque inicial, que fez Raquel parar no tempo, ela sabia que a seropositividade de André não era motivo para não gostar dele ou deixar de o amar.
Havia muitas pessoas que eram seropositivas a vida toda, que faziam uma vida perfeitamente normal e que tinham tanto direito de amar e de serem amadas como uma pessoa com plena saúde. E ela explicou-lhe isso mesmo.
De lágrimas nos olhos, André abraçou-a intensamente agradecendo-lhe por não o fazer sentir diferente por causa do seu passado.
Ela disse-lhe que o aceitava como ele era, e que o amava da mesma maneira mesmo sabendo que jamais poderiam ter filhos juntos. No entanto, isso não era motivo para abdicar do amor que ele sentia por ela.
E sem preconceitos nem medos, trocaram o primeiro beijo das suas vidas.
Jurando amor eterno porque no amor não há diferenças!
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Manuscrito - Histórias que podiam ser a tua história
Non-FictionNeste livro compilo uma série de contos e histórias que fui escrevendo no meu blogue. Histórias sobre os mais diversos temas. Histórias que tocaram pessoas. Histórias que podiam ser a tua história.