Era uma das avenidas mais movimentadas de Estocolmo – uma avenida desassossegada e desengonçada -, onde se ganhava a vida. Luísa estava há dois dias na cidade, iria permanecer ali nos próximos três meses com a Ana, o Pedro e o Guilherme, em Erasmus, pela universidade. Estavam a tirar o curso de turismo. Já tinham visitado uma boa parte da cidade e estavam a divertir-se imenso, faltava-lhes conhecer aquela avenida emblemática: caminho infinito por entre árvores, calçada de pedras e cimento, sons, luz, cor e alguma pobreza, diziam que era a avenida daqueles que não tinham família e que fugiam das instituições. Apelidavam-na de "A avenida da má vida", e isso por vezes tornava-se assustador, afastando as pessoas, mas aquele grupo de amigos – destemidos, irreverentes, elétricos e rebeldes – não tinha medo. Por entre gargalhadas, conversas e brincadeiras seguiram em frente.
Joseph na sua inocência de adolescente, tinha acabado de chegar, mochila às costas, rádio ao ombro, cabelo sujo e despenteado com rastas, fato-de-treino e sapatilhas. Pousa o rádio no chão; pousa a mochila a um canto, abre-a, retira uma caixa do seu interior, coloca-a a seus pés, carrega no "play", a música começa e os primeiros movimentos também. Ali conheciam-se uns aos outros e quase todos tinham o gosto pela dança e pela música; estava particularmente tenso, no dia anterior, ele e uns amigos, tinham sido apanhados pela polícia a vasculhar um caixote do lixo, tinham sido algemados e agredidos e depois levados para a esquadra. E umas horas depois libertados. Não estavam a fazer nada de mal, apenas procuravam comida e as pessoas desperdiçavam tanta; num impulso tinha agredido um polícia, sabia que tinha que se controlar mais e que ter calma, mas a vida era tão difícil. Adorava dançar – era assim que ganhava a vida – e sonhava um dia ser um grande bailarino. A única coisa que queria na vida era que o deixassem dançar e mostrar o que mais gostava de fazer, a dança era a sua vida.
Luísa e os amigos passeavam descontraidamente e de repente repararam em Joseph, pararam para o ver dançar e ficaram fascinados; dançava muitíssimo bem. Entretanto, Ana passou por um quiosque e comprou um jornal para ler e Luísa reparou num anúncio que dizia que uma academia estava à procura de jovens bailarinos.
E de repente teve uma ideia...
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Manuscrito - Histórias que podiam ser a tua história
Non-FictionNeste livro compilo uma série de contos e histórias que fui escrevendo no meu blogue. Histórias sobre os mais diversos temas. Histórias que tocaram pessoas. Histórias que podiam ser a tua história.