Por mais que o tempo passe e dure, que a nossa vida se descruze pelos caminhos fora e que digas que a nossa história não tem continuidade, que já não sentes nada por mim, que já nada faz sentido, que aquilo que sentíamos acabou, eu sei que vais fazer sempre parte. Por mais que tu negues e que tentes dizer-me o que pensas e sentes, vais continuar a fazer sempre parte do que sou, da minha vida, da minha existência. Há uma parte de ti que vai sempre parte de mim, desde o dia em que te conheci que essa parte de ti é um complemento daquilo que sou.
Pode não refletir o melhor de mim, nem o mais belo de ti, mas completa-me. Preenche-me. Enaltece-me. Faz-me acreditar que o amor pode ser muito mais que um sentimento imperfeito e inconstante. Essa é a parte de ti que nunca me irá largar. A margem de ti pela qual me enamorei, pela qual me rendi, aquela que mais sorrisos espontâneos me roubou, é o céu e o mar, o mais intenso raio-de-sol e a mais brava tempestade, os teus passos selvagens e os beijos incertos e irreverentes.
Eu sinto falta desse teu lado, sinto falta daquela incerteza positiva dos dias e das noites que trazias à minha vida. Sinto falta de ti e há uma parte de mim que ainda não quer aceitar que fazes parte, mas deixaste de estar presente, de estar aqui. De fazeres parte para sempre. De um momento para o outro deixarmos de nos identificar, desaprendemos de gostar, como gostávamos no início de tudo.
Lembras-te das tuas palavras?
— Parece que tudo conta a nossa história, não achas?
Claro que achava. Éramos perfeitos um para o outro, éramos o reflexo um do outro, olhávamos da mesma forma para a vida. Sentíamos as coisas de igual forma, as nossas sombras eram almas gémeas. O espelho devolvia um reflexo comum.
Como é que tudo muda assim de repente? Porque nos transformamos em dois meros desconhecidos?
Afinal já não temos aquele filme especial e aquele lugar só nosso e as músicas que nos perseguiam. Afinal tu mudaste, és outra pessoa, estás diferente.
— Afinal de contas, as pessoas mudam, não é?
Não sei. Se mudam como tu mudaste é porque não há veracidade à sua volta. Andaste este tempo todo a enganar-me? A enganar-te a ti próprio? A ver o que querias e não sentias?
O meu coração bate entre a intensidade e o meio gás por ti. Eu preciso que estejas longe, porém ao mesmo tempo quero e preciso que estejas aqui. Fazes-me falta. Fazes parte e é essa parte de ti que eu não quero perder na minha vida.
Busco imagens de ti na galeria do telefone e vejo nos teus olhos que, provavelmente, o que fomos poderá não voltar. Não estamos em sintonia, não sentimos da mesma forma e é isso que nos separa e separará para sempre. Resta-me questionar-me se haverá um lugar para novos recomeços. Talvez a resposta dependa apenas de ti.
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Manuscrito - Histórias que podiam ser a tua história
SachbücherNeste livro compilo uma série de contos e histórias que fui escrevendo no meu blogue. Histórias sobre os mais diversos temas. Histórias que tocaram pessoas. Histórias que podiam ser a tua história.