"Na sombra de ti"

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Eu encosto-me à janela grande dala, vestida ainda com a camisa de dormir, descalça, com os caracóis rebeldes, a marca das lágrimas no rosto e uma caneca de chá quente ainda a fumegar

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Eu encosto-me à janela grande dala, vestida ainda com a camisa de dormir, descalça, com os caracóis rebeldes, a marca das lágrimas no rosto e uma caneca de chá quente ainda a fumegar. Todos os dias penso em ti e tento encontrar-te naquela janela da sala, o nosso refúgio. A nossa janela aberta para o mundo, a janela onde tantas e tantas vezes me abraçaste a vermos o amanhecer tardio. A janela que por inúmeras vezes espelhou o nosso amor, aquele teu beijo repenicado que me fazia acordar bem-disposta todos os dias, aquele teu olhar encantador que nunca me deixava indiferente, aquele toque inconfundível.

É incrível como uma simples janela pode guardar tantas memórias. Recordo aqueles fins-de-tarde em que vinhas ao meu encontro de garrafa de vinho na mão e ali ficávamos a amar-nos em silêncio entre sorrisos longos e goles de vinho. Víamos assim o sol a desaparecer mais um dia das nossas vidas, eram dias infinitos de felicidade perfeita, até ao dia em que tudo mudou.

Como a nuvem mais negra do infinito céu, o teu amor por mim resfriou. Sentias que já não me amavas da mesma maneira, a chama tinha-se apagado e tinha perdido sentido, por isso, quando menos esperei comecei a sentir-te a afastares-te e tu decidiste sair da minha vida da mesma forma como tinhas entrado nela, de forma simples e discreta, despreocupada e desapercebida. A janela que refletia o sentido da nossa vida, agora mostrava uma imagem diferente, os vidros parecia que se tinham estilhaçado para mostrarem o estado da nossa emoção. A maneira como o nosso coração estava partido. A saudade em forma de nada. O vazio para lá daqueles pedaços.

Quando eu fiquei olhos nos olhos com aquela janela que tantas vezes me tinha mostrado o melhor de ti, percebi que tinha perdido o rumo e que tinha que ter força e coragem para tentar encontrar um novo rumo para a minha existência. Eu corri atrás de ti e pedi-te que não me deixasses, que não renegasses ao nosso amor e aquilo que nos unia e que não me virasses as costas. Não queria, mas fi-lo, abri-te o meu coração como nunca o havia feito. Não sabia viver sozinha, sem ti, e sem o amor que tu me davas, precisava de ti para continuar a viver e a respirar. Precisava de ti todos os dias na minha vida porque só assim fazia sentido, de outra forma não valia a pena. Não podias deixar de um momento para o outro o que sentias por mim escondido nas sombras de ti, como não fosse importante para ti, como se não fizesse diferença e sentido. Sei que não te era indiferente, apesar de ter constado a pior das realidades, tinhas outra pessoa na tua vida.

— Preciso de tempo, Marta.

Uma espera que sabia que seria mote para não quereres regressar.

— Houve muita coisa que mudou e eu preciso de pensar. Sinto-me confuso.

Senti-te distante e frio, mas ao mesmo tempo também senti que não sabias que caminho seguir. Apetecia-me correr para ti, abraçar-te e roubar-te aquele beijo que te poderia fazer mudar de ideias e trazer de volta o nosso amor.

— Desculpa por tudo — disse-me ele, olhando-me nos olhos e passando a mão pelo meu rosto. Naquela que seria uma despedida já anunciada. — Cuida de ti. E nunca te esqueças do quanto eu irei gostar sempre de ti.

Desde este dia passaram seis meses. Decidi mudar de vida e tentar encontrar novamente o amor, apesar de continuares a ser uma memória sempre presente. Por vezes dou por mim a pensar na falta que ainda me fazes, no cheiro do teu perfume que teima em não se ir embora. De repente, a lua cheia intensifica-se desde aquela emblemática janela, a sombra da sua luz desenha os contornos de uma figura masculina na penumbra. Não percebo de imediato quem é, mas o meu coração acelera-se e sem contar a campainha toca e os nossos olhares voltam a cruzar-se. 

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