"Carta à Saudade"

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Querida saudade,

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Querida saudade,

Há dias em que as palavras não chegam, as lágrimas cobrem-nos o rosto e parecem intermináveis, esmigalhando os poucos fragmentos de felicidade de que somos feitos. A dor da ausência, do vazio e da falta daqueles que mais amamos e que precisamos de ter perto derrotam-nos em pouco tempo. O aperto no peito torna-se tão intenso e profundo que é impossível de descrever e explicar, o desassossego que sentimos no coração e que nos consome à medida que o tempo passa, tortura-nos e despedaça-nos.

Estou aqui sentada nesta mesa fria, áspera e descolorida e o comboio que me leva para longe, obriga-me a partir, os carris deslocam-se pelas linhas férreas, e o comboio move-se em sentido oposto à minha vontade, à minha necessidade e ao meu pensamento.

Não te consigo compreender, não sei o que faz de ti um sentimento tão especial e tão único como muita gente parece estar habituada a dizer. Dizem que só os portugueses é que te sentem e te conhecem, que é algo indescritível. Como eu os compreendo, és indescritível pelos piores motivos, pelos motivos mais tristes, dolorosos e inóspitos.

Não percebo a tua utilidade, não sei de que és feita, para que serves, o que fazes, por onde andas, o que pretendes de mim. Não quero estar aqui. Não quero perder a pessoa que mais amo, não quero estar longe.

Há uma semana atrás, querida saudade, eu não te conhecia, nem tão pouco sabia que existias. Era a pessoa mais feliz do mundo, a mais realizada, a mais preenchida, a pessoa com mais amor que poderia existir. O Pedro, era o meu amor de longe e de sempre, conhecemo-nos no secundário, andamos sempre juntos, entramos na faculdade juntos. Tiramos o mesmo curso e depois o amor entre nós acabou por ser o resultado de todos aqueles anos de amizade e convivência quase diária, o Pedro sempre fora o melhor amigo, o melhor companheiro, o melhor ouvinte e o melhor a fazer-me rir, sempre me conheceu melhor que ninguém e quando eu estava triste ou tinha algum problema ele apercebia-se logo e disponibilizava-se para me ajudar e para estar incondicionalmente ao meu lado.

Vivemos um amor assolapado como poucos terão vivido, como eu e o Pedro. Um amor intenso, digno de um verdadeiro conto de fadas. O Pedro mimava-me muito, amava-me loucamente, tinha a brilhante capacidade de me surpreender todos os dias de uma forma inimaginável. Fazia-me as mais loucas declarações de amor, por isso, no espaço de seis meses estávamos a casar-nos e a vivermos juntos.

No entanto, a família de Pedro – de um dia para o outro – começou a intrometer-se naquilo que nos unia. Nunca percebi bem porquê, nunca soube se era por não gostarem de mim, se era por eu não lhes encher as medidas; a mãe de Pedro via em Liliana a namorada perfeita para o filho. A nora ideal.

A Liliana estudou com o Pedro no último ano do secundário e era filha de um casal amigo dos pais do Pedro. Raquel – a mãe de Pedro – desde muito cedo que engraçou com ela e fez de tudo para que ela e Pedro se enamorassem. Mas o que nos unia falou sempre mais alto e Raquel ficou sempre frustrada com isso, transformando a nossa relação num autêntico inferno.

Eu e o Pedro começamos a discutir quase diariamente, a amizade que nos unia foi-se desvanecendo e o amor que sentíamos um pelo outro esmoreceu, deixou automaticamente de ser o que era antes. O Pedro nunca mais foi o mesmo cortando relações com a família e ficando assim incondicionalmente ao meu lado.

Mas foram as palavras de Raquel que me fizeram deixar tudo para trás, infelizmente, sem pensar duas vezes. Pela amizade que me une ao Pedro, pelo amor que sentimos um pelo outro e pela nossa felicidade que há muito tempo que se encontra comprometida: Um dia vais provar o verdadeiro sabor da saudade.

E cá estou eu, a provar o teu lado mais amargo e mais agridoce.

Sabes o que me consola realmente?

Saber que saudade também é amor. E que o amor também se fortalece à base da distância.

Custa e dói muito, mas eu sei e sinto que o nosso destino é ficarmos juntos e nem mesmo tu vais conseguir impedir isso.

Posso estar longe da pessoa que mais amo, mas nunca vou deixar de a amar.

Diz que o amor... Também é isto!

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