Olho para o relógio: são vinte e uma e trinta. É noite de sexta-feira 13 e não estás aqui, no dia em que completaríamos um ano de namoro contemplo o vazio sozinha. As velas estão acesas, o vinho ao luar, o jantar a dois está pronto, mas a tua presença ausente. Vesti-me a rigor para esta noite, trouxe comigo uma panóplia de ideias para celebrarmos; mas apenas o mar me acompanha na solidão. Foco-me no aroma libertado pelo salteado de gambas e tento buscar-te na minha memória e nos meus sentidos. Trazer-te de volta. Fecho os olhos e imagino, tento sentir-te aqui, ver-te nos meus pensamentos, percorrer com o olhar os teus contornos. No entanto, apenas consigo desenhar a tua transparência no areal e nada mais. Vagueio sem norte.
Se calhar, tinham todos razão... Devia ter ignorado este dia, principalmente por ter calhado nas entrelinhas de tantas premonições. O presságio deste dia é a tua falta esta noite e acredita que se nota e sente profundamente. Não acredito no lado sombrio e supersticioso destes dias, mas, este nosso dia ficou mais cinzento a partir de hoje.
Será o destino a tentar desunir-nos?
Sinto-me amarga, fria, insensível, envelhecida. Deixei de acreditar no amor. Deixei de olhar a vida com os mesmos olhos. Queria apenas ter-te aqui. Será que é pedir muito? Sei que ao longo deste ano em que pouco ou nada nos vimos, em que pusemos o trabalho e os compromissos à frente do amor, em que fomos mais ausentes que constantes, deixaste de acreditar em nós e no nosso amor. Vi cansaço nos teus olhos e no teu respirar incerto. Deixaste de ter o brilho com que te conheci. Apagaste-te tristemente.
Falhamos, meu amor! E é por isso que agora me sinto incompleta na imensidão da nossa praia. Continuas a faltar tu a cada segundo que passa. Sinto a brisa marítima que se balança invisivelmente, de repente, reparo que ela faz por apagar as velas que seguram a chama do que ainda sentimos um pelo outro.
Só queria tentar contornar a imprevisibilidade desta sexta-feira, recheá-la com o melhor de nós, mas, infelizmente, parece que não fui a tempo. Inexplicavelmente, há treze longos dias que não sei nada de ti... prometeste estar ao meu lado, neste dia, no entanto, acabaste por não corresponder às expectativas e não vieste. Preferiste deixar-me só. Que posso eu fazer para alterar a nossa história? Só precisava de mudar uma pequena madeixa do rumo que a nossa relação levou.
Desisto. Canso-me de esperar-te. Dispo o vestido, comprado propositadamente para esta noite, desmaquilho-me, trazendo à superfície a minha beleza natural e avanço sobre o mar.
Quem sabe, tenha ao menos a sorte, de no meio das ondas encontrar os teus braços...
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Manuscrito - Histórias que podiam ser a tua história
Non-FictionNeste livro compilo uma série de contos e histórias que fui escrevendo no meu blogue. Histórias sobre os mais diversos temas. Histórias que tocaram pessoas. Histórias que podiam ser a tua história.