Rabanada

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Novamente um cheiro incrível me arrancava da cama, dessa vez eram as rabanadas do meu pai, a vida de lobo era boa, mas a comida era péssima, ainda mais quando se cresceu com Billy Black, ele era bom, muito bom na cozinha.

- Oi filho, vamos comer.

- Oi pai.

- Que desânimo é esse? Algum problema?

- Não, está tudo bem.

- Anda Jake, fala, o que houve?

- Pai, todo lobo tem um imprint?

- Sim, todo lobo tem seu imprint, é coisa de lobo. É para isso que os lobos existem, para proteger.

- Mas nem todos nós tivemos. Leah, Embry...

- Você?

Enfiei uma rabanada inteira na boca e evitei seu olhar.

- As coisas acontecem em seu tempo, mas acontecem como tem que acontecer. Até hoje nenhum dos nossos lobos ficou sem imprint, em algum momento, ele acontece.

- E se a pessoa do imprint morrer sem encontrar o lobo?

- Eu não tenho resposta para isso Jake. Já que todos das nossas lendas sempre encontraram seus imprints, não acho que isso seja possível. Mas porquê essas dúvidas? Você acha que já teve seu imprint?

- É a Leah, fica torturando a gente com as suas lembranças sobre Sam, acha que pode ter perdido seu imprint enquanto esteve com ele. - Claro que eu tinha que mentir, não estava com tempo para ficar ouvindo lendas agora e um caminhão de perguntas seguidas de frases motivacionais do meu pai.

- Vou sair pai, vou ver a Bella.

Me troquei rapidamente peguei a moto e fui. A sensação do vento no rosto sem nenhum esforço era boa, por alguns instantes me fez leve outra vez, a brisa úmida de Forks era sem igual.

Chegando na casa da Bella senti um misto de emoções que fizeram meu estômago resmungar, eu precisava vê-la, queria vê-la, mas o peso de saber que seriam as últimas vezes que eu a via eram doídas de mais. Caminhei até a porta e antes que eu pudesse bater ela se abriu.
Bella estava arrumada, parecia com urgência para sair.

- Jake! - Seu rosto levemente inchado, e seus olhos com olheiras muito mais fundas que o habitual se iluminou, ela me abraçou com força, quase a mesma força que me abraçou na noite do casamento, e aquilo me derretia. Era incrível como ela era minha brisa, mesmo em um dia chuvoso a brisa ainda te lembra de que está vivo.

- Oi Bells! Estava saindo?

- Érr, eu ia só rodar...sabe. Pra sair um pouco de...

- Jacob! Que bom ver você querido, entra! A Bella quer dar uma volta, mas venha comer alguma coisa com a gente antes. - Renê apareceu na sala com um meio avental e uma jarra de alguma coisa grudenta que ela estava mexendo.

- Olá Renê. - Bella me lançou um olhar de urgência, ela definitivamente não parecia querer ficar. - Obrigada, mas eu já comi em casa, fica para uma próxima vez.

Ela não me pareceu muito satisfeita, Bella passou porta afora eu a segui, apenas acenei sem vontade para Renê e fechei a porta.

- E aí, onde você vai? - Ela estava muito hesitante. - Bella eu vou com você de qualquer forma, então... - entrei na pickup, no banco do passageiro e não a encarei mais até ela entrar.

Ela sentou, pude ver pelo canto dos olhos que me encarou em silêncio, bufou um pouco e ligou o carro mas não arrancou.

- Quanto mais tempo ficamos - eu disse sério ainda olhando apenas para frente. - maiores são as chances de acabarmos com a boca cheia de uma coisa grudenta.

Isso a fez rir e então fez a mim um pouquinho feliz.
Ela saiu com o carro e seguimos pela estrada. Um silêncio ferino. Já sabia para onde estávamos indo, era o caminho para os Cullen's.
Após algumas curvas a pickup começou a desacelerar, virei para olhar Bella, seus olhos lavando o rosto. Puxei o volante com a mão nos guiando para fora da pista, puxei o freio e de mão e desliguei a chave, puxei Bella que escorreu pelo banco até o meu lado, a abracei e ela continuou chorando, copiosamente.
Quanto mais eu a abraçava mais ela chorava, soluçava que não entendo como não se engasgou.

E então lá estava eu, no poço novamente, mas me afundando cada vez mais. A vibração de seu corpo enquanto chorava estava se tornando distante, um silêncio se abateu sobre mim, eu estava me perdendo, não ouvia nada, não via nada, tudo ficou branco, um branco tão intenso que cegava. Então senti uma pontada no estômago, era tão forte que me tirou do torpor. Eu estava novamente no carro, Bella ainda chorando. Não sei dizer quanto tempo levamos ali, mas foi o suficiente para ela levantar o corpo, enxugando as lágrimas e pegar no volante de novo.
Eu saí pela minha porta, dei a volta e abri a porta dela. Ela deslizou para o meu lugar e eu dirigi.

A casa dos Cullen's não estava longe, mas pareceu uma eternidade, os olhos dela já estavam marejados de novo quando chegamos.

Lua de açúcarOnde histórias criam vida. Descubra agora