Existência

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Existia.

Tomei por certo que eu existia.

Se pensar era a única coisa que acontecia, então eu pensaria.
Mesmo que nenhuma resposta me sobrasse.

Eu sabia que precisava de um nome. Mas eu não sabia nenhum.

Eu conhecia muitos números, então, seria um número.

Pensei em qual número deveria me chamar. Escolhi o 7. Apenas porque me pareceu bom o suficiente.

Agora eu era sete, e bastava para começar.

Então eu precisava de uma história, algo que eu pudesse chamar de lembrança.

E isso era um pouco mais complicado, pensei.

Uma sequência de números poderia ser uma lembrança? Desde que eu a chame assim, deve servir.

Me pus a pensar e ...16.
17...18.

Por um momento pensei neles, e em porque eu os escolhi aleatoriamente e em sequência. Quais seriam as chances?

24,5.
...
...
...
Aquele número simplesmente parecia errado, não fazia sentido de forma alguma.

Pensei de que modo poderia fazê-lo se encaixar.

...

8/13.

Outro número aleatório. Os números vieram simplesmente e eu precisava fazer com que fizessem sentido.

8/13 ficou martelando em minha mente.

8/13.

"Eu não quero que você se sinta triste".

Essas palavras surgiram em minha mente. Como, como...vozes?

Eu não havia pensado naquilo. Ou havia?

"E há de acontecer, ó casa de Judá e ó casa de Israel, que, assim como fostes uma maldição entre as nações, assim vos salvarei, e sereis uma bênção; não temais."

Novamente palavras surgiram em minha mente. Fiquei em choque.

O que era aquilo?
O que estava acontecendo?

"Eu lamento por ter me atrasado querida".

E uma após a outra, as palavras começaram a aparecer em meu pensamento.

"Quando você decidiu voltar?"

Eu devia estar enlouquecendo...ou...ou eram... levei um instante para admitir, lembranças.

Eu tinha lembranças!

Senti uma coisa estranha, era bom, mas estranho.

Agora eu tinha lembranças. Eu não sabia exatamente qual o significado daquelas lembranças, mas era bom.

E elas continuaram a aparecer.

"Eu já devia estar acostumado a te dizer adeus".

"Meu sol particular".

"Agora eu sei que fiz tudo o que podia."

Dessa vez o que senti não era bom. Eu não sabia o que era, mas não era algo que queria sentir novamente.

"Eu sinto muito que as coisas tenham chegado onde chegaram".

"Volte, volte para mim, por favor, por favor, por favor".

Eu me sentia cada vez pior. Sabia que eu não deveria sentir aquilo. Que aquilo não era bom.

"É tudo culpa minha".

"A pior parte é saber o que teria sido."

Eu sabia o que era uma memória, e como as palavras simplesmente não paravam de vir, e me fazer sentir pior, pensei em lembrar alguma que fez sentir melhor.

"Eu lamento por ter me atrasado querida."

"Meu sol particular."

Me senti um pouquinho melhor.
Eu deveria evitar me sentir mal, apenas porquê não era algo agradável.

"Por favor, procure se lembrar, seria tão mais fácil se você...soubesse".

"Não é o que você é, é o que você faz".

Eu estava falhando em usar lembranças.

"Como podemos ser amigos estando assim apaixonados?"

"Mas dá para amar mais de uma pessoa, eu já vi isso".

"É desse jeito que eu vou lembrar de você, bochechas rosadas, dois pés esquerdos, coração batendo".

"Depois vou estar morta para você?"

Aquilo me atingiu. Eu sabia o que era aquela palavra. Morte.

E então eu não conseguia pensar em absolutamente mais nada.

Aquelas palavras ficavam permeando o meu pensamento.

E eu ia me sentindo mal, cada vez mais. Não conseguia mais me lembrar de nenhuma palavra que me fizesse sentir bem.

"Kwop kilawtley".

Lua de açúcarOnde histórias criam vida. Descubra agora