O último oxigênio que eu respiraria

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- Eu preciso que você fique segura e confie em mim! É o cheiro dos Cullen's, mas não tem absolutamente nenhum som vindo de dentro. Eu vou checar, você me espera AQUI! Eu já volto, tudo bem?

Seus olhos castanhos penetrantes me prenderam a atenção, sua energia e calor me prendendo. Senti, por ser provavelmente a última vez que o veria, ao entrar na lancha com os Cullen's provavelmente nossa ligação mudaria, eu seria uma deles, por tanto uma inimiga... Meu coração acelerou e senti uma vontade humana de chorar. As palavras me fugiram e não fui capaz de pronunciar nenhuma, apenas assenti com a cabeça.

- Bella, você sabe o quanto é importante para mim. Toda a minha jornada correu ao seu redor desde que você foi para Forks. Mas a vida as vezes não segue o caminho mais fácil, nos deixando cheios de buracos, como queijos Suíços, e só nos resta aceitar. Há algum tempo eu fui vencido e decidi que não iria mais lutar contra a vida, então desejo que você seja muito feliz, pela eternidade! Se torne o que tanto deseja, chegou a hora de seguirmos cada um o nosso caminho. Seja feliz tá legal! Seja feliz por mim!

Jake também sabia que aquela era provavelmente a última vez que seríamos como éramos, que a nossa ligação especial haveria de mudar, e para minha surpresa ele realmente se importava. Todo o pesar em suas palavras me carregaram para o mesmo lugar de algumas semanas atrás, quando pensamos que ele realmente havia partido, que não teria resistido ao choque de ser desligado dos aparelhos, ele se perderia.

Meu coração acelerou e novamente não consegui dizer palavra, então ele me deu um beijo doce da testa e seguiu.

Vendo ele entrando na lancha, ao invés de alívio senti um peso, a ferida, e minha mente me traiam, só conseguia sentir como a vida simplesmente perdia a cor a cada passo que ele dava, e uma tristeza e angustia foram aos pouco tomando conta de mim. Me perguntei exatamente o que aquilo significava, havia chegado a hora de nossas vidas seguirem o caminho que havíamos trilhado, seria como deveria ser, ele finalmente estaria livre, seria feliz com seu caminho, com a felicidade que seus genes reservaram para ele, sem que ele precisasse se preocupar se o sol brilharia ou beijaria a sua pele quente novamente, e porque ele parecia pesaroso com o que aconteceria? Por que eu não conseguia me sentir completamente satisfeita ou mesmo feliz com o que havia escolhido para mim? Seria como Ed....como Alice, como quem eu realmente deveria ser. Era a minha escolha...mas agora ela não era capaz de me trazer felicidade ou alívio, nada além de um peso, de escuridão, e até...

Jacob se virou e me chamou para a lancha me tirando o foco dos pensamentos zombeteiros que eu precisava ignorar. Respirei profundamente tentando me afastar deles e segui para encontrá-lo.

- O que houve?

- Não tem ninguém. Nada, eles não estão aqui.

- Mas..? - Aquilo não fazia sentido.

- Definitivamente eles estiveram aqui! Mas deve fazer algum tempo, o cheiro é suave e seria mais forte.

- Faz tempo que saíram?

Olhei a pequena cabina incrédula, o que Alice estava fazendo, porque nos colocou nessa lancha sem nos dar o caminho, sem nos dar respostas, ela havia previsto ou mesmo pensado no que enfrentaríamos, Jake e eu enfrentando uma última viagem, provavelmente o adeus mais longo e doloroso que já existiu?

- Não consigo dizer a quanto tempo.

Jake sentou abatido no banco do lado de fora da cabina, seu desapontamento nítido, provavelmente a frustração por ter mais dúvidas que respostas, que postergavam o fim da viagem estava mexendo com ele. Seu pesar me doeu, ele estava aqui por minha culpa, mais uma vez eu era um peso para ele e sua vida, mas eu não conseguia desejar deixá-lo partir, era mais covarde do que jamais consegui assumir. Caminhei em sua direção precisava confortá-lo, ou seria a mim mesma? As palavras se preparando para sair, mesmo que eu não tivesse certeza de quais seriam, as covardes que tentariam seduzi-lo mais uma vez para tê-lo pelo maior tempo possível ou a sanidade deixando-o livre para voltar dali mesmo e seguir com a vida feliz que merecia? Eu iria descobrir.

Trinnn, trinnn, trinnn.

O som de um telefone soou.

Vinha de dentro da cabina, em uma gaveta na mesa de comando. Abri a gaveta avistei um telefone celular que chorava gritando por uma resposta. Eu o atendi.

- Alô!

- Bella!

- Alice! Onde você está?

- Bella, Jacob está aí?

- Está! Onde você está?

- Venham até Bela Bela com a lancha, na mesma gaveta onde estava o telefone está o manual, Jacob não deve ter problemas com isso.

- Onde Alice?

- O endereço está aí também. Você pode fazer isso?

- Sim. Alice você vai estar aí?

- Bella eu preciso desligar, depois nos falamos.

- ALICE!

Ela havia desligado.

Alice estava brincando conosco, comigo? Não poderia deixar Jacob partir ainda, não seria capaz de seguir sem ele. Não ter eu mesma que pedir para que ele ficasse e me sentir ainda mais miserável me deixou um pouquinho feliz. Então ele me olhou, seus olhos penetrantes pareciam ver minha alma através do corpo, toda a culpa que eu deveria sentir, mas que simplesmente não me afetava, não mais do que não poder deixá-lo, me despiram, meu corpo tremia com a dualidade que se abatia sobre mim.

Jacob se levantou e me abraçou, meus braços juntos ao corpo, o telefone ainda em mãos. Ficamos ali alguns instantes, seu calor me inebriara e ao invés de me fazer bem, me fizeram ainda mais hesitante, o futuro me aguardava, ele me levava para o que agora parecia uma consolação, por uma vida linda e maravilhosa que se despedaçara bem diante dos meus olhos, me levando toda e qualquer esperança de ter uma vida minimamente feliz. Mesmo assim eu não conseguia desejar seguir ou mesmo me soltar daquele momento que era a ruptura, seríamos apenas lembranças de uma vida que não aconteceu. Nenhum de nós parecia querer se mover, o próximo passo nos aproximaria do fim.

Jake respirou fundo exalando seu calor sobre meu pescoço me fazendo relaxar, inspirei aquele calor como sendo o único oxigênio disponível, sendo o último que eu respiraria realmente. Ele beijou o topo de minha cabeça e aliviou os braços me tirando do torpor.

- Ainda temos uma longa viagem, precisamos ir.

Lua de açúcarOnde histórias criam vida. Descubra agora