Uma última viagem

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- Billy?

- Oh, olá Bella!

- Billy, Jacob está aí?

- Não, não está. Está tudo bem com você?

- Ele estava aqui, estava tudo bem, estávamos conversando, então ele simplesmente levantou e se foi. Ele nem se quer levou a moto. Você sabe onde ele está? Se ele está bem?

- Não Bella, não sei, mas vou mandar Seth atrás dele.

- Por favor, me avise assim que encontrar!

- Certo, nos falamos.

- ...

- Tchau Bella.

- ... Tchau Billy.

Billy estaria escondendo algo de mim? Ele seria capaz de fazer isso novamente? Ele o fez para proteger o segredo do lobo... Mas o que ele teria para proteger, além é claro... de Jake... Talvez, talvez ele esteja protegendo o seu segredo, teria Jacob vindo aqui para me contar algo e não conseguiu? Talvez ele finalmente tenha percebido que havia um futuro, um bom futuro, um futuro melhor para ele na reserva... com seu... Eu não podia terminar a frase, nem mesmo em pensamento, e só a ideia de continuar sendo egoísta sobre Jacob me doeu ainda mais.

Eu não tinha esse direito. Tinha que deixá-lo ser feliz.

Me senti terrivelmente vazia como há um ano atrás, só que agora eu estava realmente sozinha, os Cullen's se foram, Jacob se foi, não me restou simplesmente nada.

Eu não podia se quer contar com a minha mente doente para me trazer eles de volta, não importa o quanto eu me colocasse em risco nem isso mais eu tinha, estava completamente só.

Me pôr em risco apenas para vê-los não era uma opção, mas para pôr fim a essa situação toda talvez fosse, sem eles... eu não podia, eu nem queria, aguentar mais.

Trinnn trinnn trinnn

O telefone tocou. JACOB!

- Billy?

- Bella!

- Alice!

- Bella você está bem?

- Alice, onde você está? Onde estão todos?

- Bella, estamos em Bela Bela, venha nos encontrar, já podemos receber você.

- Alice, vocês... vão voltar para Forks?

- Não Bella. E se você vier... também não vai voltar, nós teremos que ir para mais longe por um tempo.

Eu sabia o que ela queria dizer, ia acontecer, Alice me transformaria. Eu teria que dizer adeus a Charlie, Renê...e ao Jake. Esse pensamento me cutucou a ferida, eu sabia que isso teria que ser feito, mas acho que não é realmente possível se estar preparado, alguém pode realmente estar preparado para morrer, deixar todos que ama para trás?

- Bella?

- Sim Alice, eu vou! Quando devo chegar?

- O quanto antes, não temos muito tempo.

Aquilo resolveria tudo, apenas Charlie me prendia em Forks agora, não podia contar que veria Jake outra vez, ainda mais estando... transformada.

- Ok Alice, eu preciso me despedir de Charlie...não sei o que dizer a ele.

- Hum... diga que vai vir nos ver, depois pensamos em algo. O importante é que ele saiba que você está vindo e que não fique preocupado, não queremos que ele sofra mais que o necessário.

-...ah, ok. Para onde devo ir Alice? Qual o endereço?

- Em Bela Bela, na Cheenies St. você já conhece. 

- Hum - Levei um instante ter certeza, mas aquele endereço não me era exatamente familiar. - Não era Wasglisla St.?

- Não Bella, é um novo lugar....talvez você não se lembre, mas ... foi onde você ficou quando os Volturi voltaram para Forks e Jacob...

- Hum, ah, certo, tudo bem.

- Nos vemos quando chegar ok?

- Ok, Alice...

Ela havia desligado. Meu corpo todo tremia, mal consegui colocar o telefone no gancho, a ferida em meu peito estava estranhamente gelada e calma, incrivelmente calma, seria assim que me sentiria para o resto da vida? Sem nada nem emoções? Não consegui compreender o que estava acontecendo, não era um comportamento normal, a última vez que me sentira próximo disso foram os dias que passei na reserva, com Jake, após sua completa recuperação... Jake...agora sim, o buraco em meu peito me mostrava que ainda estava ali, e estava cada vez mais fundo.

- Bella?

Charlie, ele havia chegado mas eu não tinha nada para lhe apresentar, nem para o almoço e nem sobre a universidade, eu precisava de alguma coisa, tinha que pesar rápido.

- Hum, universidades?

- Ah...é!

- Ham, muito bom Bells, é ótimo que você esteja realmente levando isso a sério.

Aquilo me matou! Pobre Charlie, eu era obrigada a mentir para ele, a última vez que o veria e era assim que eu o honrava. Que pessoa eu havia me tornado afinal? Provavelmente ele estaria melhor sem mim de qualquer modo, assim como Renê encontrou seu caminho e a felicidade quando me afastei. Eu sempre os amaria, e faria tudo o possível para vigiá-los assim que eu pudesse me controlar, controlar a sede. Eu os veria de longe, estaria sempre por perto.

- Pai, Alice me ligou...eu, ela...nós vamos ver umas opções em Vancouver, ela está animada, quer ir para lá, e quer muito que eu a acompanhe...

- Alice...?

Assenti com a cabeça. 

- Vou para Bela Bela encontrá-la........hoje.

- Hoje Bella?

- É, as vagas estão se esgotando sabe...pode ser difícil conseguir um bom local...

- Bom...é claro que eu gostaria de algo mais próximo...mas talvez uma opção estrangeira seja bom...para você...e para carreira... - Após alguns segundos num silêncio contemplativo ele prosseguiu, finalmente assentindo, o desconforto claro em seu rosto, mas distantes de seus lábios, era assim que ele era, guardava as coisas consigo. Então rapidamente tentei animá-lo, mas não havia muito com o que eu pudesse trabalhar.

- Almoço no Carver, por minha conta!

Ele levou um instante para me encarar e levantar do sofá visivelmente abatido. Cada minuto ao seu lado após isso se tornou precioso e dolorosamente difícil. Ele ficou saudoso, também não estava pronto para a despedida, que para ele seria apenas por alguns dias, mas eu sabia e carregava o peso da despedida seca e superficial. Quando ele me deixou em casa antes de voltar para a delegacia ele fez algo que realmente não é de seu feitio, um abraço, desajeitado e rápido, mas incrivelmente amoroso, e quando ele se foi um pedacinho da minha ferida foi com ele, ela nunca, jamais ficaria completamente cicatrizada.

Então encarei a casa, vazia, silenciosa e distante, meu lar que de algum modo nunca havia sido completamente parte de mim, sempre pareceu que algo estava fora de harmonia, como se não fosse realmente o meu lar, mesmo que eu o habitasse. A dor em meu peito começou a me corroer de forma virulenta tão logo pisei em meu quarto e sem querer encarei a janela que dava para a lateral. Era por ali que o sentido da minha vida ia e vinha nos últimos anos, primeiro Edward, e depois...Jacob.

Joguei algumas roupas e dinheiro em minha mochila e corri para o banho, precisava sair dali o mais rápido, ou não sobraria nada para salvar, a dor me consumia e iria tão fundo quanto pudesse. Voei pela escada sem olhar para trás, não precisava de mais nada que pudesse piorar a situação. 

Ao abrir a porta com violência fui atingida pela presença de Jacob, parado e me olhando na entrada da frente. Encostado ele me acenou e sorriu.

Lua de açúcarOnde histórias criam vida. Descubra agora