Branco

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Tudo estava branco.
Um silêncio ensurdecedor.
Nenhum cheiro.
Nenhum toque.
Nenhuma respiração.
Nenhuma pulsação.
Nenhum corpo.

Apenas uma consciência.

Não sentia nenhuma dor. Não sentia o ar entrar ou sair.
Eu pensava, apenas pensava.

Tentei descobrir o que estava acontecendo.

Sem sucesso.

Tentei lembrar o que havia acontecido.

Sem sucesso.

Tentei lembrar o meu nome.

Sem sucesso.

Como eu podia pensar em pensar, e não me lembrar de nada?

Nenhuma resposta.

Eu existia? Eu estava morto?

Nenhuma conclusão.

Continuei pensando nessas questões uma porção de vezes. 45 para ser mais exato.

Ainda sem sucesso.

Pensar que podia pensar, mas sem ter uma resposta na qual pensar, estava me fazendo pensar muito.

113. Essa era a quantidade de palavras que eu havia pensado até aqui.

131.

Eu sabia o que era pensar.

O que eram números.

O que era uma consciência.

Eu sabia o que era um nome.

Um som.

Eu sabia o que era uma cor.

Eu sabia o que era um toque.

Eu sabia o que era um cheiro.

O que era uma pulsação.

Eu sabia o que era um corpo.

Eu sabia o que era lembrar, e sabia que tinha que lembrar.

Eu sabia o que era ser.

Eu não sabia como eram nenhuma dessas coisas, mas eu sabia o que eram.

Eu sabia que não saber como eram essas coisas, não era certo. Não parecia certo de alguma forma.

Eu repeti o processo, todas as perguntas, todas as não respostas.

Novamente sem conclusões.

Repensei em quantas quarenta e cinco vezes eu repetiria tudo.

1003458 vezes.

Não pensar, pensei.

Se pensar, não me faz pensar em uma resposta, não pensar talvez me dê alguma resposta.

Silêncio ensurdecedor.

Pensei então, nenhum resultado.

Pensar ou não pensar?

Se ambos resultam em resultados semelhantes, o que fazer?

Não pensei mais.

Silêncio ensurdecedor.

Pensei que pensava errado.

Pensei em repensar o que eu sabia.

Se pensava errado, e deveria repensar, como repensar sem saber em que pensar?

Se sabia errado, como sabia que pensava errado? Estava errado?

Avançava ou estagnava? Retrocedia?

Se retrocedia nada avançava, ou avançava em retroceder?

Silêncio ensurdecedor.

Nada existe se não penso.

"Ou que seja verdade eu não tenha jamais existido, sendo verdade agora que eu existo".

Lua de açúcarOnde histórias criam vida. Descubra agora