Compaixão

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Carreguei Bella nos braços para chegarmos mais rápido, a distância para ela era longa ainda mais a noite.
Seguimos em silêncio, mas não um silêncio constrangedor, ela se aconchegou em peito estava serena e cansada, enquanto eu me agarrava a esses momentos finais de felicidade.

As luzes estavam acessas, meu pai na cozinha me aguardava.

- Jacob!

- Oi pai, Bella vai ficar aqui até amanhã cedo.

- Oi Bella, que bom que você veio.

- Hey Billy.

- Vem, você vai ficar no meu quarto, tem roupa de cama limpa no armário. Eu já volto.

- Você...?

- Preciso conversar com Sam, estaremos lá fora, eu não demoro. - Ela fez uma leve careta mas não protestou.

- Jacob, deixa de bobagem, a tribo precisa de união, volte para matilha filho.

- Vamos ver pai, vamos ver.

Sam me esperava do lado de fora, Leah e Seth ainda espreitavam na mata.

- Sam.

- Jacob, eu aceito vocês de volta e até te deixo como alfa, mas vou precisar entrar para o conselho.

- Sam escuta. Eu não quero ser alfa de matilha nenhuma, mas também não me vejo voltando agora, não é nada com você, preciso de mais um tempo para mim, descobrir o que fazer... com a minha vida. Leah e Seth são livres para fazerem as escolhas deles.
Mas estarei aqui se eles escolherem ficar e isso não significa que somos rivais, ainda somos todos irmãos e nos protegemos como irmãos. Sabemos que a Leah não é feliz na vida que leva na matilha, então estarei aqui se ela escolher ficar e enquanto ela escolher ficar. - Sam não podia se opor contra esse argumento, mesmo não sendo culpa dele a matilha impunha em Leah uma vida infeliz, agora eu podia entender, e se o imprint nunca vier para libertá-la ao menos assim ela tera alguma paz.

- E como vai ser isso Jacob? O território, as rondas, as decisões? Se não somos rivais não podemos tomar decisões importantes sozinhos.

- Não tenho problema em revezarmos as rondas, mas as grandes decisões tomamos em conjunto, se houver divergência o conselho interfere.

- E a batalha, contra os Volturi, como vamos conseguir sem nos comunicar? Isso vai nos dividir e nos atrapalhar, pode até...nos entregar ao inimigo.

- Todos aprendemos com você, sabemos como você age. Vamos treinar juntos, se realmente não tivermos uma harmonia...unificamos a matilha.

- Bom, vamos ver então.

Sam se foi eu estava cansado, a viagem mesmo longa não foi difícil, difícil foi aguentar aquele cheiro horrível, e agora finalmente podia respirar tranquila e profundamente, minha cabeça começava a dar sinais de melhora. Entrei batendo a porta em minhas costas, não era realmente o que eu queria, nada disso era, nem ser alfa, nem enfrentar a mais importante e difícil batalha da nossa geração, e com certeza não abrir mão da mulher que amo, enfim voltei a minha realidade, o peso dessa vida voltara a cair em meus ombros. Respirei profundamente e fui ver como Bella estava.

- Conseguiu se arrumar nessa bagunça (risos). - Ela deu um sorriso forçado, sentou na cama e me olhou com tristeza.

- Jake, eu posso evitar tudo isso.

- Bella, você não pode evitar que eles venham de qualquer modo.

- Mas depois deles outros viram, Aro não vai perdoar perder os membros da guarda. Até quando todos vão viver assim com medo de outro ataque?

- Bella, nós vamos estar prontos, e o Carlisle disse que Alice está disposta a ficar com eles, isso vai acalma-lo.

- Não depois que matarem os membros da guarda. Você não conhece o Aro Jake, ele é terrível e impiedoso. - Ela sacudiu a cabeça como se isso livrasse ela de alguma lembrança. Eu peguei em sua mão e a encarei.

- Vai ficar tudo bem Bella, confie em nós.

Toc toc toc toc toc, era Leah batendo no vidro da minha janela, ela me chamou para fora.

- O que houve?

- Você vai mesmo nos entregar para o Sam?

- Se nós não formos capazes de lutar em harmonia não há nada que eu possa fazer Leah, a reserva e a cidade correm perigo, nós não podemos falhar.

- Porquê eu pensei que podia contar com você?

- Você ouviu o que eu disse para o Sam, se tudo ocorrer bem vocês é que vão decidir onde vão ficar e o que fazer, eu nunca quis ser alfa Leah, e todos vocês sabem disso... Mas eu vou ficar se você escolher ficar.

- Sem a ligação vai ser difícil lutar você sabe que é complicado.

- Então daremos um jeito, ou voltamos todos para o Sam. - Ela se calou, por mais que ela quisesse ficar sabia que derrotar os sanguessugas era mais importante. - Amanhã começamos a treinar, vamos dar o nosso melhor e ver como as coisas ficam. - Ela deu de costas e saiu.

Entrei e me joguei no sofá, não era o que eu queria fazer, mas toda vez que conversava com Leah era impossível ignorar o futuro que me aguardava. De qualquer forma o sono veio logo, sendo gentil me permitindo apenas relaxar.

O sono relaxante não durou muito.

Estava no campo, com uma elevação rochosa ao lado, conhecia esse campo, já havia estado ali, foi onde enfrentamos o exercício da Victoria, jamais poderia esquecer aquele dia, minha distração me custou uma noite de dor, mas foi o dia em que ela me beijou, com toda a sua alma, ela estava ali, e nada mais importava. Mas também foi o dia em que soube que ela ia se casar. Um dia impossível de esquecer.

As matilhas estavam juntas, todos atentos, em alerta, algo estava prestes a aparecer.

Sem que pudéssemos piscar quatro criaturas vestidas com mantos negros apareceram sobre as rochas. Um sujeito muito alto com cabelo curto e os olhos estreitos vermelho vivo, ao seu lado uma baixinha loira com olhos grandes e redondos igualmente vermelhos, ao seu lado uma figura um pouco mais alta, seus olhos pequenos e o maxilar bem marcado ostentava uma corrente com grande pingente em forma de V que brilhava em seu pescoço e ao seu lado um sujeito com rosto fino e cabelos curtos de fogo olhavam para baixo. A loira me encarou, seus olhos vermelhos penetrantes me prenderam parecia hipnotizado, não conseguia me mexer, a matilha avançou nas pedras e as criaturas num pulo desapareceram, a matilha deu meia volta e eu só ouvia suas patas no solo, correndo como o inferno. Não via mais os olhos vermelho sangue, mas ainda não conseguia me mover, senti alguém subir em minhas costas, era leve, e delicado, suas mãos em volta do meu pescoço, seu cheiro, era ela, Bella se debruçou em minhas costas, senti sua cabeça em meu ouvido, a voz doce e suave mas cheia de urgência - Jake, me leva Jake vamos embora. - Meus músculos não se mexiam, por mais que eu lutasse, e então dor. Cada músculo de meu corpo doía, cada parte querendo desgrudar do corpo. Bella começou a gritar de dor também, seus gritos me doíam e aumentavam meu desespero, não podia fazer nada para ajudar não via o que estava acontecendo com ela, não via nem ouvia mais os meus irmãos. Ela foi arremessada de minhas costas para o chão em minha frente, chorava, seu choro me enlouquecia eu estava imóvel, não conseguia me mexer, seu choro invadiu meus ouvidos me tomando a mente. Tudo ficou branco e a dor sumiu, seu choro era baixo, como um murmúrio, mas foi aumentando como uma chuva que começa com uma garoa fina e se transforma numa tempestade. O choro me chamava.
Era muito real, até que me dei conta de que realmente era real, Bella estava chorando, não o choro alto do sonho, mas um choro baixo e constante que um ouvido humano não era capaz de ouvir.

Me levantei fui até o meu quarto, a luz da lua minguante iluminava o quarto à meia luz.

Ela estava deitada de bruços, não me viu entrar, peguei em seu pé que estava descoberto, puxei o para o lado tirando o do caminho e sentei aos seus pés me encostando na parede, ela se virou e deitou a cabeça em meu colo. Seu choro agora era mais silencioso, mas igualmente dolorido.

Lua de açúcarOnde histórias criam vida. Descubra agora