Bela Bela

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Bella poderia já estar transformada, talvez minha jornada não seja capaz de salva-la, sentia como se ela novamente estivesse escorrendo entre os meus dedos.

Várias Bellas surgiam em minha mente como um filme, cada vez que ela sorria eu me sentia aquecer, ela era a minha brisa fresca, mas agora era o farol que me guiava e me aquecia nesse vale frio que é viver num mundo sem ela, frio como ela devia estar nesse exato momento.

Chegando em Port Angeles pulei a cerca de uma casa com roupas masculinas no varal, não era realmente algo que eu quisesse fazer, apenas fiz, precisava pegar a balsa na costa não tinha tempo a perder. No estacionamento do mercado do agricultor peguei uma carteira em uma caminhonete que estava com os vidros abertos e o som ligado, rapidamente peguei o dinheiro e devolvi a carteira, as coisas estavam indo muito melhores que da última vez que vaguei como lobo, até que ouvi um grito feminino, parei com o dinheiro no bolso no estacionamento escuro, outro grito rapidamente abafado, uma angústia me cercou, enxergava bem mas não via nada, sons de latas de lixo saíram de um beco escuro, aquilo não me parecia bom, outro grito abafado, eu não podia continuar, não sem saber o que estava fazendo aquela mulher gritar. Respirei rápido e voltei em direção a traseira da caminhonete, uma figura grande estava segurando uma mulher por trás com a mão em sua boca, ela já não se firmava nos pés ele a estava arrastando, senti um tremor na espinha que percorreu todo o meu corpo, se me transformasse ali teria problemas, teria que encontrar novas roupas, não havia tempo para isso, avancei contra o sujeito, segurei o pelo pescoço como ele estava fazendo com a moça, o arremessei em direção a camionete e me voltei para a ela que estava muito assustada tentando se levantar.

- Você está bem?

Ela muito assustada e com temor nos olhos apenas confirmou com a cabeça - Você precisa sair daqui, onde estava indo? Eu te acompanho. - Com um olhar apavorado ela me disse - Ele roubou o meu carro!

- Aquele, a caminhonete é sua?

- É sim, eu só parei um minuto ia ao mercado.

O sujeito estava mancando em direção a porta do motorista, fui até ele e o puxei pela gola da roupa.

- É melhor você ir andando, não quero ver mais você por aqui.
Joguei o sujeito que caiu a uns quatro metros a frente, ele me encarou apavorado - Não ouviu? Quer que eu repita?
O sujeito se levantou com dificuldade e saiu mancando o mais rápido que pôde. A mulher me olhava com medo da traseira da caminhonete.

- Olha, me desculpe....eu... é...peguei dinheiro da sua carteira, eu preciso pegar a balsa, mas...me perdoe, tome o seu dinheiro, me desculpe. - A traseira da caminhonete entre nós não foi suficiente para acalma-la, ela deu três passos para trás enquanto eu ia em sua direção tentando devolver o dinheiro.

- Po po pode ficar, fi fi fica com ele, e e eu não preciso, pega para você, vá pegar a sua balsa.

- A senhora tem certeza?

- Sim, sim claro, leva, pode levar.

- Muito obrigada senhora, tenha uma boa... noite.

- Eu, eu que agradeço, obrigada por me ajudar.

Apenas sorri e me virei a correr o apito da balsa já me apressava.
A travessia levava duas horas, me recostei em uma poltrona acolchoada no saguão e dormi, sentia me exausto.
Acordei já em Victoria , o relógio do saguão marcava dez horas, eu teria uma longa noite pela frente.
Precisei caminhar até Goldstream aquele lugar só tinha concreto, casas e mais casas, a mata era escassa e muito aberta e isso me atrasou um pouco.
Em Goldstream encontrei a mata, me despi, amarei a camisa e a calça juntos formando um enorme colar que passei entre o ombro esquerdo e o braço direito, me transformei e ganhei a mata na ilha de Vancouver até Nanaimo num piscar de olhos.

Cheguei em Nainamo às duas da manhã e peguei a última balsa, seriam mais três horas e meia de viagem, ótimo para dormir mais um pouco, mas dessa vez não foi o sono tranquilo, não. O prado estava ensolarado com o sol do meio dia, a relva alta explodindo em flor, Bella em pé no centro de costas para mim, a matilha toda pelo chão cada um num canto, visivelmente mortos, eu estava em choque com o que via, Bella sozinha acabou com a matilha, ela só podia estar transformada, como ela pôde fazer isso, a protegemos tantas vezes. Um enorme ódio tomou o meu corpo, percorreu a espinha e veio o tremor, avancei contra ela me transformando no ar. Estava a poucos passos dela quando ela agachou, estava chorando.

Me aproximei devagar até dar a volta nela, ela tinha o rosto escondido entre as mãos, parecendo uma garotinha novamente e aquilo me derreteu, todo o ódio que sentira deu lugar a um carinho protetor igualmente grande. Toquei lhe entre as mãos com o focinho, ela só me abraçou sem levantar o rosto, ela era gelada e dura agora não ouvia mais seu frágil coração batendo mas o abraço me aqueceu o coração, eu só queria protegê-la o instinto protetor me dizia que ela só precisava de mim, seu choro se intensificou e ela me abraçou mais forte, eu sentia que tudo ia ficar bem, que apesar de tudo as coisas seriam boas dali pra frente.

Ela começou a se levantar sem se soltar do abraço em meu pescoço e então me apertou com toda sua força voraz sentia me sufocar e.

Acordei num pulo o saguão estava silencioso, me levantei e fui olhar a paisagem e espairecer um pouco. A baía de Langdale estava apagada, apenas o cais ostentava uma forte luz mas ao redor o breu engolia a costa. Em terra não perdi tempo, me arrumei novamente com o grande colar de roupa e avancei floresta adentro.

Cheguei em Ocean Falls com os primeiros e tímidos raios de sol da manhã, o pequeno cais guardava uma pequena balsa que não comportava mais que seis carros, a primeira travessia já estava preparada, um senhor com rosto marcado pelo tempo me olhou de cima abaixo, eu vestia apenas uma camisa de manga comprida, um jeans e uma bota surrada de camurça, devia estar fazendo algo próximo de um grau negativo.

- Já vai zarpar amigo?

Com um olhar de desconfiança ele confirmou com a cabeça e fez sinal que eu embarcasse.

Já eram seis e meia da manhã e eu estava exausto, as montanhas geladas foram um desafio e não poder dormir com tranquilidade não estava ajudando, eu precisava comer. A viagem na balsa até Bela Bela, levaria quase três horas torturantes.

Uma senhora estava vendendo um chocolate quente e uns pedaços de um bolo seco.

- Bom dia senhora, quanto é o chocolate e o bolo? - Perguntei enquanto fuçava os bolsos atrás dos poucos trocados que me restavam.

- De onde você vem? - Ela perguntou curiosa.

- De longe.

- Americano? Diferente você.

- Por ser de fora né?

- Não, você é diferente. Diferente da gente - Ela disse apontando o coração com a mão em forma de lança.

Olhei para ela sem entender.

- Diferente - Ela repetiu o mesmo gesto - Não é de onde você vem, mas o que você é. Você é diferente, eu sei.

Meu estômago roncou alto o suficiente para que ela me encarasse por um instante.
Ela abaixou a cabeça e mexeu em suas coisas, por um momento pensei que a havia perdido e junto a única oportunidade de comer pelo menos em três horas, me abateu o desânimo. Mas ela levantou a cabeça, as mãos com três trouxinhas e um copo grande de chocolate quente.

- Muito obrigada senhora, mas eu não sei se tenho o suficiente para tanto, quanto é?

Ela acenou com a mão me afastando e disse: não é nada, nunca se cobra um guerreiro.

- Que história é essa senhora, quanto eu te devo?

- Não deve nada já disse! Espero que aproveite e encontre o que veio buscar, agora vai.

Apenas agradeci com a cabeça e fui me sentar, estava faminto. Os bolos secos e o chocolate acalmaram a minha enorme fome, mas estavam bem longe de me saciar. Mesmo assim consegui recostar num canto e o sono veio como se uma pedra caísse em minha cabeça, simplesmente desliguei.

Acordei com o atracar da balsa, já estava em Bela Bela, o pequeno cais possuía não mais que quatro braços atracadouros que estavam quase todos vazios, mas um barco me chamou a atenção, era muito bonito, novo e grande próximo dos pequenos que estavam por ali, e claro, exalava a Cullen.

Lua de açúcarOnde histórias criam vida. Descubra agora