Lua de açúcar

Distração

Bella correu para o quarto de Alice. Eu sabia que eram boas amigas, mas aquilo me deixou com um pouco de inveja, mesmo sabendo que era bom para ela, nós costumávamos conversar por horas sobre qualquer assunto, mas agora isso tinha acabado pensei. Eu a sentia derretendo entre os meus dedos sem poder segurá-la.

Respirei profundamente e fui caminhar pela mata próxima, aquele cheiro de sanguessuga ainda irritava meu cérebro, era como pimenta bem embaixo do nariz.

Sentei em uma raiz enorme a uns quinze metros da casa e me recostei no tronco, era uma distância suficiente para ouvir se ela precisasse de mim.
Eu certamente precisava dela.

Comecei a me sentir perdido novamente, não sentia mais a brisa, a mata ficou silenciosa, mas eu não queria me entregar tinha que ficar vigilante, ela estava ali com eles mas era comigo que ela tinha saído de casa. Fechei os olhos bem apertados, se tudo ficava branco então com eles fechados talvez consiga me manter firme.
Um aperto forte no peito e a angústia me tomou, um turbilhão de todos aqueles pensamentos e lembranças, sensações, emoções, tudo ao mesmo tempo. Até que uma imagem se fixou.
Bella, ensopada de chuva em pé na minha frente. Ela falava, a boca e o rosto se mexiam, mas eu não podia ouvir um único som. Ela estava magoada, a esperança se esvaindo do rosto, até que ela começou a chorar silenciosamente e então sumiu.
Me lembro dessa cena, foi quando virei... Essa maldição.
Eu a magoei, a machuquei, a primeira promessa quebrada.
Meu rosto ferveu e uma lágrima solitária deslizou até a ponta do queixo e se lançou ao chão.

Uma risada cortou o silêncio da mata. Era leve e genuína e familiar, Bella estava sorrindo, alguma coisa conseguiu fazê-la rir.
Uma calma aliviante me acertou e por um momento esqueci onde estava...ela estava com eles e era para eles que ela sorria.

De qualquer modo era melhor alguma felicidade que felicidade nenhuma.

Levantei e fui ver o era tão engraçado.
Encontrei Bella ao pé da escada rindo com Alice. De onde eu estava pude ver Jasper sentado na cozinha olhando para ela, como se ele conseguisse ver através das paredes, esse cara me irritava.

- Jake, estava contando para Alice aquela vez que você me levou na casa da Emily e os meninos começaram a brincar com a sua cara, lembra? "Queria que a Bella ligasse", "Queria que a Bella não ligasse", "Eu devia ligar para a Bella", "Eu devia ligar para a Bella e desligar" hahaha.

Fiquei em choque por um momento. Não conseguia acreditar no que eu estava ouvindo. Não apenas por quê ela achou apropriado contar uma lembrança nossa, dos lobos para eles, ela não fazia essas coisas, e essa história era mais deprimente do que engraçada, como ela poderia estar rindo tanto, essa é a mesma pessoa que teve que parar o carro na estrada por estar chorando tanto que não enxergava a estrada a poucas horas atrás? Sei que eles a divertem, mas isso realmente não é normal, ela está bêbada? Será que foi drogada? O que estava acontecendo?

Provavelmente não consegui disfarçar tão bem quanto imaginei, já que Alice segurou os ombros de Bella e a guiou para o sofá na sala, com um sorriso forçado e me lançou um olhar suplicante.

Apenas consegui segui-as e sentei do outro lado da sala encarando-as.
Ficamos ali por algumas horas, elas falavam sobre várias coisas novas, como os velhos amigos da escola da Bella e seus relacionamentos estranhos, cada vez aquilo me deixava mais perplexo, ela definitivamente não era a mesma pessoa que eu trouxe mais cedo. Até a ideia de que talvez ela tivesse sido transformada me ocorreu, e eu a levaria a sério se elas tivessem demorado mais tempo no andar de cima.
Então Jasper entrou na sala com uma tábua com lanches, que presumi serem para nós já que eles não comem.
Bella pegou um, resolvi aceitar já devia ter passado bem do almoço, elas falaram muito.

Mordi o lanche e meu Deus, aquilo realmente não estava gostoso, o pão extremamente seco, algo ali tenha um gosto amargo e definitivamente tinha muita pimenta em alguma coisa.
Bella se rasgou em elogios e pareceu gostar realmente pois já ia começar o segundo. Aquilo foi de mais para mim, levantei e fui até a cozinha, eu precisava de água e ar fresco, não estava acreditando no que via, como ela poderia fazer isso puxar tanto o saco deles dessa maneira? Peguei o terceiro copo de água e fui para o terraço respirar ar fresco.

Alice apareceu na porta e me lançou olhar um de piedade.

- Está tudo bem Jacob?

- Assenti com a cabeça. Obrigada pelo...lanche.

- Não por isso. É bom ver ela sorrindo né?

- É sim. - Tentei não parecer tão perplexo, podia parecer inveja e na realidade não era, eu só realmente não entendia como aquilo estava acontecendo. - Ela se sente MUITO BEM com vocês. - Certo, não precisava tanto ênfase assim.

Alice riu como se eu tivesse contado a piada do ano, qual o problema dessa gente, ou estava tão deprimido que era incapaz de ver graça nas coisas? Não era possível, realmente mão era engraçado.
Ela riu ainda mais com a minha incredulidade, o que me deixou frustrado, e ela percebeu pois deixou a risada de lado e veio se apoiar na varanda ao meu lado, me olhando disse:

- Ela muda quando vem aqui né? - concordei com a cabeça, não queria correr o risco de algo ainda mais engraçado. - É por causa do Jasper, ele faz isso com as pessoas.

- Eu não o vi dizer uma palavra, até levar os lanches.

- Não, não é por ele ser engraçado, ele faz isso com as pessoas com a mente. - Franzi a testa, do que ela estava falando? - É como...Edward, que podia ler os pensamentos das pessoas, Jasper pode manipular as emoções, é por isso que a Bella fica controlada e leve aqui. Jasper a ajuda com... - O tom de voz baixou, o olhar baixou, mas eu entendi a que ela se referia. - Foi graças ao Jasper que meus pais aguentaram, que todos não saíram do controle naquela noite.

Agora tudo fazia sentido, eu podia lidar com isso e essa risada sem fim, ao menos ela esquecia temporariamente da dor, o que eu invejei um pouco.