Segunda Fuga

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A alguns metros de casa senti o seu cheiro. Era ela, Bella estava me esperando. Avancei apenas para confirmar que não era minha mente que estava me pregando uma peça outra vez.

A caminhonete cor de abóbora estava estava lá, estacionada em frente a porta de entrada, o cromo antigo e gasto da maçaneta reluzia, deduzi que não era uma alucinação apenas por esse detalhe, o que realmente não fazia sentido mas eu precisava me agarrar a algo.

Com mais atenção apurei a audição.
Nenhuma palavra, nenhum cochicho, nada. Apenas o som de seu vivo coração batendo.

Por um breve instante senti uma felicidade por ouvi-lo dançando no peito, mas durou pouco, a lembrança de que isso era incrivelmente transitório me tomou rapidamente, pelo que aliás não conseguia me decidir, grato ou agastado, se me tirava logo a felicidade também me atirava cedo um punhal no meu peito.

Dei meia volta e voltei mata adentro.
Não queria encontrá-la, não queria novamente me perder na necessidade de tê-la e na desgraça de deixá-la.

Fui até a casa dos Clearwater, Leah estava parada na frente, apoiada na parede com os braços cruzados me olhando. Seth saiu pela porta de supetão.

- Hey Jake, veio nos avisar que vamos treinar a noite?

- Não, ele está fugindo da Bella. - Encarei Leah com dúvida. - Você acha que só o seu olfato é bom?

- Que pena cara.

- Não estou fugindo de ninguém, eu quero saber sobre a ronda de hoje. Quem de vocês vai?

- E quem disse que somos nós?

- Sam liberou vocês por dois dias?

- Não. - Seth disse visivelmente chateado.

- Hoje nós vamos. - Leah disse indicando ela e Seth.

- Bom, então um de vocês vai comigo.

- Eu vou Jake! - Seth se animou imediatamente.

- Pronto, então é isso, Leah você está de folga (risos).

- Vamos para de fingir tratar disso e vamos entrar comer. - Leah disse me lançando um olhar de descrença.

Sue havia feito salmão ensopado, o cheiro era tão incrível quanto o sabor.
Ela não perguntou sobre os treinos e nem mencionou a luta, provavelmente porque nenhum de nós três havíamos falado nisso, e porque Leah contaria a ela tudo assim que saíssemos.

- Tchau mãe, até amanhã. - Seth se despediu. - Jake você fugiu mesmo da Bella hoje?

- Eu não fugi.

- Jake, nós sabemos que ela veio. Se podem ser os últimos dias que a vê, porque não vai?

- Seth é complicado.

- Basta vê-la, falar com ela. Se você morrer, se a gente morrer, é assim que gostaria de ter se despedido?

Ele não estava totalmente errado, mas ele também não sabia como eu estava enlouquecendo por causa dela, toda a dor e angústia que isso me causava.

- Seth se a gente morrer é assim que você gostaria de ser lembrado? - Eu disse lhe lançando um olhar provocativo e comecei a me trocar e me transformar.

- Hey isso é trapaça. - Seth se deu conta de que mais uma vez seria o mais devagar em se transformar e correr.

Evitei a minha desgraça pessoal e todo a angústia o resto da noite, até que na divisa com Forks nós a vimos, voltando para a casa. Ela saira de minha casa realmente tarde da noite. Ela tinha alguma esperança de me encontrar, e sua decepção me desmontou, a angústia voltou, a dor no peito e os pensamentos todos, lembranças, tudo veio a tona, eu afundaria em breve se não fizesse algo, e rápido.

Senti Seth atônito prestando atenção a cada pensamento que passava pela minha cabeça, então tratei de arrancá-los o mais depressa possível. Ele foi capaz de ver o meu desejo lutar para tirá-la da cabeça, para me livrar da dor e angústia, das loucuras que estavam acontecendo comigo por causa dela, e a incrível necessidade dela que eu sentia.

Aquilo tudo foi muito perturbador, essa coisa de telepatia dos lobos era realmente um empecilio as vezes.

Ele foi gentil me ajudando a mudar de assunto comentando sobre Embry e como ele realmente havia decidido ir embora, e o quanto sua mãe protestava todos os dias, mesmo sabendo que era para estudar.

Consegui me manter a salvo o resto da noite. A manhã chegou com um pouco de esforço, estava muito cansado, o treino havia sido puxado e toda essa tensão me deixava exausto.

Voltei para casa seguro de que ela não estaria e eu poderia dormir em paz, o que se concretizou, exceto pelos pesadelos dela morrendo, o que não eram exatamente novidade, a angústia e dor me pegavam de qualquer forma, elas não desistiam, a noite eram como Freddy Kruger que me espreitavam em quanto eu dormia.

Na manhã seguinte encontrei um papel amassado em meio as cobertas, e supus que já estavam ali quando eu deitei algumas horas atrás.

Sabia que havia sentido o cheiro dela, mas era tão suave que imaginei ser fruto da minha cabeça problemática.

Jake, sei que você anda muito ocupado. Seth me disse o quanto você está treinando com os mais novos e no campo.

Imagino que hoje tenha sido a sua ronda e é uma pena que eu não tenha conseguido falar com você antes para dar uma passadinha aqui pra conversarmos.

Não é nada de mais, só que a gente não se fala fazem alguns dias e o grande dia está chegando.

Enfim, quando der passa lá em casa. Sinto a sua falta, das nossas conversas.
Bells.


Aquilo era tudo o que eu não precisava para começar bem o dia.
Eu afundara novamente, angústia, dor, peito arfando, tudo, o conjunto completo me abateu, quando tudo estava ficando branco meu pai me chamou pelo lado de fora da porta, o café estava pronto, e aquilo realmente me ajudou, não só me livrou do poço mas eu também estava faminto.

Não consegui me prender na conversa do meu pai, outro pensamento me aprisionava, infelizmente ter que encontrar com ela seria inevitável, já era o segundo bilhete sem resposta, com certeza a visita do Charlie logo após uma reunião na casa dele não era apenas para ver o meu pai e jogar conversa fora, ela daria um jeito de me encontrar e eu podia apostar que seria naquele dia, no campo.

Lua de açúcarOnde histórias criam vida. Descubra agora