Herdeiro das estrelas

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Gwyn sempre preferia levantar cedo, por motivos óbvios. Todos ainda dormiam, era um silêncio calmante e ela poderia agilizar suas tarefas. Os quartos das sacerdotisas ficam no complexo ao lado da biblioteca, e como Gwyn não se sentia segura o suficiente para sair da Casa do Vento e ir para a cidade, ou geralmente ficava fazendo as tarefas que Merrill pedia ou treinando.

O sol ainda não tinha nascido e se levantou rapidamente da cama para começar seu dia. A túnica sacerdotal já estava alinhada no seu corpo alto e esguio em seguida amarrou a capa torno do pescoço, seu estômago roncou, teria que deixar a comida para depois. Mas antes de sair, pegou dentro da gaveta ao lá do de sua cama uma caixinha pequena que lá dentro estava o pequeno colar de rosa, pegou e prendeu ao pescoço para depois sair.

Abriu a porta de seu pequeno quarto, um longo corredor cheio de portas e quartos para as outras sacerdotisas, ainda estavam fechadas, se alguém estivesse acordado seria Merrill ou Clotho. Com sorte nenhuma das duas a veriam e ela conseguiria ver o nascer do sol.

Com as roupas farfalhando saiu finalmente do coberto e logo estava na entrada da casa, Gwyn quase se engasgou ao perceber a figura parada no parapeito. Silencioso e imóvel, Azriel estava de costas dando visão as belas e gigantes asas negras. Se ela fizesse silêncio ele não perceberia que estava ali e poderia ir para o anel de treinamento. Deu meia volta...

-Eu sei que você está aí. -a voz rouca dele. Gwyn fez uma careta e se virou.

-Se quiser ficar sozinho eu vou embora. -ela disse com receio.

-Gosto de olhar o nascer do sol. -Azriel disse num tom como convidando-a a se juntar a ele.

Gwyn caminhou lentamente e parou no parapeito ao lado de Azriel numa distância segura, para que seus braços não se encostassem. 

-Como sabia que era eu? -Gwyn perguntou em voz baixa e olhou para um ponto brilhando a leste.

Azriel pigarreou e piscou como se decidindo se devia contar.

-Minha percepção é muito aguçada. -ele mentiu, não poderia contar a ela que suas sombras saltitavam quando ela se aproximava. Azriel sabia que era Gwyn desde quando ela saiu da biblioteca.

Vamos cantar com ela. Gwyn está vindo.

Elas sussurravam ao vento, e quando começarem a cantarolar e quando Azriel sentiu o cheiro de lírios e lavanda soube que Gwyn estava ali, parada na frente da casa.

Em um silêncio confortável, ambos observaram o sol brilhante e reluzente subir devagar. Raios vermelhos, laranjas e amarelos manchavam o céu, Azriel pensou em como seria uma pintura do nascer do sol feito por sua amiga. Se ela conseguiria colocar na tela todos os detalhes, passar cada emoção e sentimento de vê-lo nascer todos os dias, como magia e poder, a coisa mais natural que existia.

Pássaros já começavam a voar, felizes e saltitantes por mais um dia estar começando, Azriel olhou para o lado esquerdo seu e viu Gwyn com o sorriso mais piso nos lábios. Largarias silenciosas desciam pelo seu rosto. Seu coração se apertou ao ver aquela imagem, uma sacerdotisa que vivia para servir aos deuses, sempre em paz consigo mesma se sentindo impura e com medo de sair da escuridão de uma biblioteca.

Gwyn percebeu o olhar penetrante dele e virou o rosto rapidamente para limpar as lágrimas, pigarreou e deu meia volta.

-Tenho que ir, Merrill está me esperando. -ela se explicou. -Nos vemos daqui a pouco no treinamento?

-Infelizmente tenho umas tarefas fora de Velaris hoje, então só amanhã ou hoje a noite. -Azriel viu um lampejo de tristeza nela por um segundo.

Corte dos Sonhos e PesadelosOnde histórias criam vida. Descubra agora