Corte dos Sonhos e Pesadelos

Uma nova vida

-Sinto falta de Amren. -Nestha disse em meio a respiração ofegante, enquanto treinavam.

-Eu sempre tive medo dela. -Emerie confessou e as duas deram risadas. -Lembro de quando eu era criança, meu pai me ameaçava dizendo que ia buscar Amren pra me pegar.

-Não consigo nem imaginar essa cena. -Gwyn deu uma gargalhada profunda.

Ela ouvira histórias de Amren, a grã-feérica com milhares de anos e uma caçadora de monstros. Muitos pais falavam para seus filhos desobedientes que iriam trazer a fêmea para pegá-los. Gwyn nunca duvidou e sempre temeu a feérica, sabia quão forte e poderosa ela era.

-Cassian, Azriel e Rhysand estão em reunião nesse momento, não decidiram como procederão. -Nestha pegou um saco de peso no canto da sala e começou a levantá-lo com a maior facilidade. Gwyn admirava a amiga por ter se desenvolvido tão rapidamente. Desde que Nestha chegara para a Casa do Vento era fria e rude com tudo e todos, tinha desistido da vida e não se importava com nada. Com o tempo ela e Gwyn criaram uma amizade, um laço forte que ajudou as duas a se reerguerem.

-Az levou o diário do Koschei e minhas anotações para mostrar a eles. Espero que ajude com alguma coisa, sinceramente... não sei o que podemos fazer para tirar Amren de lá. Viva.

As três estremeceram. Amren estava ligada, á Koschei, um laço de criação feito pelo próprio. Se ela morresse ele morreria junto, o mesmo valia ao contrário. Era por isso que ele a queria por perto, quando absorvesse parte do poder puro e angelical dela, poderia desfazer o laço e mataria sua própria filha para ter o poder de uma Anjo da Morte, e para abrir um portal para o outro lado.

-Eu realmente não gostaria de ver com meus próprios olhos um dos monstros antigos que habitavam Prythian. -Emerie se sentou no chão, a respiração entrecortada, começou a fazer uma serie de abdominais.

Gwyn seguiu a amiga, fechou os olhos e esqueceu tudo ao redor. A guerra. Koschei. Anjo da Morte. Portal. Tudo se esvaiu de sua mente, inspirou forte, com as mãos na nuca e fez o primeiro abdominal. Seu abdômen se contraiu em resposta, a cabeça começou a girar, engoliu seco e ignorou aquela sensação. Fez novamente, só que dessa vez seu estomago embrulhou. Cobriu a boca com as mãos e se levantou rapidamente. Nesta e Emerie a acompanharam.

-Gwyn! Você está passando mal? -A mão quente e fina de Nestha foi para sua lombar esfregando em círculos calmantes.

-Você comeu hoje? Eu sei que tem dias que vai treinar de estômago vazio. -Emerie serviu um copo de água para Gwyn que aceitou imediatamente. A ânsia ainda continuou, mais forte, e ela podia jurar que sentiu um cheiro podre, a bile subiu em sua garganta. -Pelos deuses Gwyn, você não comeu mesmo?

-Estou bem, foi só uma fraqueza, deve ter sido algo que eu comi. E sim, eu comi antes de vir. -Gwyn respirou fundo, se acalmando aos poucos e a ânsia passou.

Nestha estava com uma sobrancelha erguida, a sombra de um sorriso aparecendo nos seus lábios. Gwyn percebeu o olhar duvidoso que ela dera para Emerie.

-Do que vocês estão rindo? -Gwyn perguntou gemendo enquanto sentava no chão quente do sol do meio dia.

-Nem acredito nisso... -Nestha bateu palminhas se sentando na frente Gwyn, Emerie fez o mesmo.

A sacerdotisa se deitou no chão, o couro illyriano rangendo em resposta. Então ela se deu conta. Desde a conversa que teve com Az, sobre um futuro e sobre filhos, ele tinha parado de tomar a poção de fertilidade. Mas ela não esperava que...

-Não é possível... -Gwyn sussurrou, automaticamente suas mãos foram para o abdômen.

-Não não, não, nem ferrando você está... -Emerie balbuciou com um sorriso.

-Grávida! -Nestha soltou, e tudo se tornou realidade.

Gwyn se sentou rapidamente, os olhos arregalados se baixaram para sua barriga. Ela sentiu então, a mudança em sue cheiro, era um aroma leve e adocicado, uma adição ao próprio cheiro. Pelos deuses, como era possível? Feéricos demoravam anos para terem o primeiro filho, e ela... em algumas vezes... Não, ela balançou a cabeça, não foram algumas vezes, foram muitas vezes. Sentiu seu rosto queimar em resposta aos seus pensamentos, as lembranças dela e de Az suados e ofegantes, as mãos dele...

-Gwyn! Você está gravida. Gravida, mal posso acreditar que vou ser tia de novo. Você vai ter um filho. Pelos deuses! -Emerie pegou as mãos dela, dando risadas alegres.

-Eu não entendo... -Gwyn disse baixo. -Como pode ter acontecido tão rápido?

-Você é metade ninfa, e pelo que eu saiba, as ninfas do Rio são muito férteis, e se reproduzem como coelhos. -Nestha disse, tirando-a de seus pensamentos obscenos.

Uma luz iluminou sua mente. Claro que sim, como ela pode esquecer suas próprias origens? Ela era uma ninfa do Rio, sua espécie era muito fértil, fazia sentido ela ter engravidado tão rapidamente. Mas mesmo assim, ela estava completamente surpresa, não tinha percebido as reações de seu próprio corpo, as mudanças. Estava tendo muita fome recentemente, mas tudo que comia ameaçava voltar, e o sono... pelos deuses ela estava a todo momento com sono, se pegava pescando na biblioteca quando estava trabalhando com Merrill.

-Gwyn, você está bem? -Nestha se aproximou, seu olhar preocupado direcionado para a sacerdotisa que estava se chacoalhando de tanto rir de felicidade.

Ela dava risada em meio a lagrimas, sem poder acreditar que um ser estava nascendo dentro de si, fruto de seu amor e de seu parceiro. Emerie e Nestha sem entender nada, caíram na risada junto com ela. As três gargalhando no chão do anel de treinamento, o sol refletindo nelas, brilhando mais forte que nunca.

-Eu vou ser mãe... -Gwyn foi se acalmando, e respondeu baixo.

-Vai sim, e vai ser a melhor mãe que uma criança pode ter. -Nestha disse com carinho.

-Como você vai contar para o Azriel? -Emerie a tirou de seu estupor de alegria.

Azriel.

Ele era o pai. Balançou a cabeça, é obvio que ele era o pai. Ela estava ficando louca, só podia ser a gravidez.

Como ela contaria?

-Não faço ideia. -ela admitiu.

-Acho melhor já ir pensando, porque tenho certeza que escutei a risada de Cassian e uma voz muito familiar acompanhando. -Nestha disse com um tom de desafio.

Gwyn usou de sua pedra de proteção de sacerdotisa e cobriu seu cheiro, como um véu. Pensaria em como contar para Az sobre o bebe que crescia em seu ventre, mas agora? Ela iria tomar um banho primeiro.

-Tenho que ir. -Gwyn se levantou com a ajuda de suas amigas e sem se despedir saiu correndo para o quarto, um sorriso grudado em seu rosto, e escutou a risada delas nas suas costas.