Corte dos Sonhos e Pesadelos

Sacrifício angelical

A lareira já crepitava, dispersando o ar quente por toda a sala da Casa do Vento. Já se passavam das onze da noite, e assim como nos velhos tempos, o general e o mestre-espião estavam sentados nas poltronas que acomodavam as imensas asas illyrianas. Desde o início das guerras os irmãos não tiveram tempo para sentarem e conversa em sobre as frivolidades da vida, estavam sempre planejando e tramando guerras e ataques inimigos. Era difícil quando tinham momentos como aquele, com um pouco de paz, e sem preocupações.

O vinho na taça de ambos já estava acabando, com um pedido silencioso do cortesão da Corte Noturna, foram abastecidas novamente, o líquido vermelho sangue preenchendo todo o vidro.

-Amren fez aquilo como um favor. Ela se entregou no lugar de minha mãe como forma de agradecimento. -Azriel disse baixo olhando para as chamas vermelhas e alaranjadas da lareira.

-Feyre acha que Amren pode ter alguma ligação com a quebra da Maldição do Koschei. Faz sentido, ela é a filha dele, e tem, ou melhor tinha o poder de um Anjo da Morte. Uma solução para os problemas daquele desgraçado. -Cassian articulou cada palavra.

A raiva crescendo em ambos. Dias antes, Azriel revelou toda a história por trás da volta de sua mãe. No dia em que ele foi levado para o acampamento illyriano para treinar, seu pai fez um acordo com Koschei. Levara Quyara para as garras do feiticeiro em troca de poder, de glória. Foi então que ela a transformou em um animal, um corvo sempre ali, presente e observando tudo. O encantador de sombras ficou sabendo do estado de sua mãe nos últimos dias de vida de seu pai, o obrigara contar o que tinha sido feito a ela.

A raiva e a frustração cresciam gradativamente dentro dele, a culpa se instalando mais e mais conforme iam passando os anos e ele não conseguia arranjar um jeito de salvá-la. Rhys e Cass não sabiam a verdade por trás de suas idas e vindas pelos territórios de Prythian, achavam que ele estava só procurando algo fora do comum, algum inimigo a espreita. Não era uma total mentira, Azriel era muito leal a sua corte e a sua família, e por causa disso, em suas missões, procurava informações sobre o feiticeiro preso no território depois do lago.

Foi quando Amren chegou para a corte, ganhando a confiança dos três irmãos e se tornando a terceira no comando. Azriel se encantou logo de cara com a criatura assustadora que viva com eles. Era tão forte, não ligava para a opinião dos outros e não deixava transparecer nenhum sentimento. Depois de anos sendo torturado pelos irmãos e pelo pai, Azriel adquiriu o dom de mascarar suas emoções, o que acabou sendo algo automático. Mas Amren conseguiu descobrir tudo por trás do rosto frio e sombrio, ela sabia de Quyara, sobre suas condições, e com isso revelou sua identidade.

Azriel jurou que nunca contaria a ninguém o que ela era, se em troca, não contasse sobre a mãe dele. Não queria dar esperança para Rhys e Cassian de que Quyara ainda estava viva, por que não poderiam tirá-la de lá.

-Amren era a única que sabia de tudo sobre o passado, ela lera milhares de livros e sabia de todas as histórias. Sem ela aqui, vai ser difícil para descobrirmos o porque Koschei quer tanto ela por perto. -Azriel deu um gole no vinho, suas sombras se espalharam mais e mais atrás de suas asas, indo em direção a algo. Alguém.

Azriel deu um sorriso de lado, já sabendo que era essa pessoa.

-Pelo visto vamos ter que fazer uma visitinha para Helion, e aquela biblioteca enorme dele. -Cassian bufou e seu olhar foi para as duas fêmeas que acabaram de entrar na Casa.

Amren, Koschei, guerras. Tudo se esvaiu da mente de Az quando seus olhos se encontraram com os de Gwyn. Ele não conseguia acreditar que ela era dele, só dele. Que ele tinha uma coisa que poderia se chamar sua. As vezes acordava nas manhãs achando que era um sonho, que Gwyn teria ido embora e que sua cama estaria vazia ao lado. Mas quando ele abria os olhos, a via dormindo calmamente, aninhada em seus cobertores pretos grossos, os cabelos ruivos como cascata espalhados pelo travesseiro, era nesses momentos que ele esquecia de tudo, era quando ela abria os olhos, o olhava e dava um sorriso sonolento que ele se via completamente rendido.