Reencontro

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Pela primeira vez em meses, estava chovendo. Não era uma chuva rápida nem uma garoa temporária. Raios e trovões explodiam no céu, iluminando a terra, a chuva molhando o solo. Ela tinha decidido que iria vê-lo mesmo que ele quisesse ficar sozinho.

Ela não iria dar o privilégio de paz, por isso Gwyn pediu a Mor, quase uma semana depois que acordara, para levá-la até a casa no meio da montanha onde Azriel estava. Era uma espécie de chalé onde ninguém a não ser Mor, Rhys e Feyre poderiam atravessar.

Feyre dissera que desde o dia em que o escudo de foi, Azriel foi para o chalé na montanha, teve dias que Rhys e Cassian foram vê-lo mas ele estava vazio, não respondia nenhuma pergunta, só ficava olhando para o nada. Como se parte dele tivesse morrido.

Completamente molhada e tremendo de frio, Gwyn bateu na porta. Ele não atendeu, nem quando estava esmurrando-a. Ela decidiu abrir e entrar, estava morrendo de medo de encontrá-lo definhando lá dentro. O chalé era lindo, as paredes, os móveis, tudo era pintado, todos eles estavam na parede, devia ser obra de Feyre.

Bem no alto de uma das paredes, tinham olhos, de todas as cores. Gwyn percebeu que eram olhos deles, da família de Feyre. Olhos azuis, avelãs, um tom de violeta, como o céu da Corte Noturna. A sacerdotisa poderia ficar horas admirando as pinturas, mas quando olhou para o sofá no meio da sala de estar, especialmente para a figura imóvel nele, perdeu o ar.

Azriel parecia realmente que tinha morrido. Aquela pele bronzeada e brilhante de antes fora substituída por uma pálida, sem vida. As feições marcantes continuavam, porém mais duras e sérias, como ficasse com a mesma expressão o tempo todo. As armaduras foram trocadas por uma suéter  preto e uma calça larga da mesma cor.

A lareira estava acesa, mas Gwyn não fazia ideia do por que estava tão frio ali dentro. Com o estômago na boca, seguiu andando lentamente na direção dele. Azriel nem virara a cabeça.

-Oi! -ela sussurrou. Nenhuma resposta. -Rhys me disse que você estava aqui, Mor me trouxe.

Nada.

-Está frio aqui... acho que tem que colocar mais lenha na lareira. -Em um segundo, numa mágica, a lareira estava abastecida com mais lenha. Uma casa encantada, fascinante.

Se ele não iria responder, ela tentaria algo mais forte. Se sentou no sofá ao lado dele, hesitou ao estender a mão para toca-lo, mas o fez. Um poder, magia passou dela para ele, ou era o laço. Mas até o ambiente ficou menos tenso, com aquele simples toque. Como se o tivesse tirado de uma transe, Azriel finalmente virou o rosto. Gwyn quase chorou de soluçar ao ver tanta dor e sofrimento naquele olhar.

Antes era completo de sarcasmo, amor, e mesmo que ficasse quieto somente observando, ela sabia que se olhasse dentro daqueles olhos estariam brilhando.

-Gwyn! -ele arregalou os olhos, como se tivesse percebido a presença dela naquele momento.

-Sou eu. -ela deu um dos mais tímidos sorrisos. Sentiu uma mão dele quente segurar a dela com força, como se tivesse medo que ela fosse um sonho, uma visão.

Ela apertou de volta e chegou mais perto. Seus joelhos se encostavam, libertando milhares de sensações pelo corpo dela, não estavam se tocando pele com pele mas ela sentia seu corpo todo formigar e arder pelo macho ao seu lado.

-Você está viva... -a voz dele estava rouca, como se tivesse passado dias gritando.

-Claro que eu estou. Pensou que eu tinha morrido? -Gwyn perguntou com carinho.

Azriel anuiu.

-Não sinto você pelo laço, por isso achei que você estava... morta.

Gwyn se aquiesceu, o laço estava tão fraco, como se a dor e a tristeza deles o fizessem mais fino, quase não dando para perceber. Ela deu um puxão com toda a força, Azriel se mexeu ao seu lado, os olhos cheios de surpresa.

Corte dos Sonhos e PesadelosOnde histórias criam vida. Descubra agora