Vazio

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Azriel estava desesperado. Era de se esperar que ele estivesse naquele estado, sua parceira estava num estado de coma, quase morta. Caldeirão gostava mesmo de zombar com ele, ou o destino tinha decidido fazer aquilo.

Gwyn ficara num quarto de hóspedes na Casa do Rio onde Madja pudesse verifica-la eventualmente quando precisasse. Azriel não suportava ficar parado, sempre andando de um lado para o outro, antes ele seria a pessoa que sempre mantinha a calma diante das situações mais difíceis. Ele podia entender o desespero de Rhys quando Feyre se sacrificou tanto por Tamlin e depois sofreu tudo aquilo, ou quando seu filho e sua parceira quase morreram junto. Azriel admirava muito seu irmão por ter conseguido passar por tudo aquilo e continuar vivendo com sua família e sempre apoiar os outros.

A paciência do Encantador de Sombras se esvaiu por completo quando ninguém menos que Eris aparece no quarto onde estava. Azriel pulou no pescoço dele assim como o fizera na reunião dos grão-senhores.

-Que merda você está fazendo aqui? -Vociferou com o pescoço do feérico em suas mãos.

-Az, largue-o. -sua grã-senhora disse calma.

-Por que veio só agora? Quando ela mais precisava do pai, não estava aqui. -Azriel fervilhava.

-Me solte seu morcego. -ele o soltou. Eris se aprumou novamente. -Como sabe que ela é minha filha?

-Pelo simples fato de Gwyn ter dito que seu avô era da Corte Outonal, e também por ter todos os traços seus. -Mor entrou na conversa.

-Sem falar na magia... -Emerie murmurou baixo.

Eris congelou ao olhar para a cama, a primeira vez que vira sua filha depois de tantos anos.

-Ela tem magia? -ele perguntou no automático.

-Gwyn explodiu em chamas, não uma, mas duas vezes. Ela se salvou e depois matou centenas de soldados. Queimou todos eles. -Rhys olhava para as mãos, a primeira vez que vira seu irmão tão quieto e perdido, sem saber qual rumo tomar.

-O que aconteceu com ela? -Eris perguntou olhando para a filha.

A semelhança era de se espantar.

-Elain. -o macho ruivo arregalou os olhos.

-Como assim "Elain"?

-Koschei está roubando magia dela para entrar na mente de Tamlin, a própria Elain e Kyan. -Nestha disse seca.

-Kyan está vivo ainda? E que diabos está fazendo aqui em Pthyrian?

-É o que estamos tentando descobrir. O trio da alegria fez uma aliança, para matar todo mundo. -Cassian deu de ombros.

-Ela já sabe... quem é o pai? -Eris perguntou baixo.

-Descobriu sozinha. -Azriel grunhiu.

-Está mais rabugento que ante, com o laço da parceria. -Eris zombou.

-Eu ficaria esperto se fosse você. Digamos que Gwyn não aceitou muito bem a ideia de ser sua filha. -Nestha grunhiu também, Eris fechou a cara.

-A questão não é essa. Não vamos fugir do assunto. -Feyre deu um sinal para Rhys, que se aproximou da cama.

-Acha que consegue remover o feitiço? -Azriel perguntou.

-Não sei, mas podemos tentar... -O grão-senhor estendeu a mão de sombras para o corpo de Gwyn, poder começou a se espalhar pela sala, mas nada aconteceu, nem mesmo um fio de cabelo da sacerdotisa moveu.

Todos ficaram frustrados. Não faziam ideia do que poderiam fazer para remover o feitiço, e não sabiam quais eram exatamente os planos de Koschei, e nem como ele estava controlando a mente dos outros, até mesmo Tamlin.

~

Todos tinham ido embora, depois que Feyre com sua magia de Helion para quebrar feitiços, mas não adiantou. No quarto de visitas, Eris e Azriel estavam imóveis olhando para Gwyn. A raiva por aquele macho, ainda o corroía por dentro. Tanto pelo que ele fizera com Mor e pelo que não fizera com Gwyn, mas ele teria que superar isso, pelo menos por enquanto.

O que não contara a ninguém era o maior problema, antes de Elain atacar Gwyn, ela tinha falado com ele, por meio da mente, o mestre-espião não fazia ideia de como ela conseguira aquele feito, mas não era o mais importante. Sua mãe estava viva. Ou melhor, ele já sabia disso, mas o fato era que Azriel não sabia onde ela estava.

Elain dissera, não por carinho e consideração por ele, mas por chantagem, Nestha em troca da mãe, por que se libertassem Koschei, sua mãe também seria liberta. Por centenas de anos ela ficara presa, como um corvo negro nas garras do feiticeiro. Azriel tentou não desmaiar naquele momento em que descobrira aquilo, mas foi o suficiente para Elain atacar Gwyn e prendê-lo com raízes espinhosas.

~

Era escuridão completa, que sugava a alma dela, ouvia vozes na sua cabeça, em sua mente. Diversas vozes, de Tamlin, Elain de Feyre. Era tudo uma confusão de ondas dissonantes ecoando no seu ouvido. Não sabia dizer se estava sonhando ou acordada, se era dia ou noite, tudo o que sentia era vazio, aquele mesmo vazio que sentira quando fora abusada. Sua alma saíra de seu corpo, era escuridão e aquele laço. Fino como os fios de lã antes de virarem as roupas que vestiam as pessoas. Tentava se mexer, mas não conseguia, tentava falar, mas Elain não lhe permitia. Gwyn ainda não entendia o por que daquela obsessão da feérica por ela.

No fundo a sacerdotisa sabia que, para salvar a todos e ao seu parceiro, ela teria que se sacrificar, resistir aos puxões mentais até que não aguentasse mais. Lutar até que seu corpo não obedecesse a sua mente. Koschei não pararia até que tivesse Nestha em suas mãos e pudesse se libertar do feitiço.

Mas o que eles não sabiam era quem poderia detê-los. O anjo da Morte. Amren. A única que poderia matar de vez Koschei e libertar toda a maldição que ele implantara nos feéricos presos em corpos de pássaros. Gwyn descobrira aquela "ferramenta" dias antes, lendo uma das pesquisas de Merrill, mas tivera certeza quando o próprio Koschei lhe revelara aquilo, como se soubesse que a sacerdotisa nunca mais fosse se comunicar com ninguém. Ela sabia, no fundo, que não tal oportunidade, e queria poder se matar por não contar aquela única chance de seus amigos sobreviverem por ter se deixado ser presa, deitada numa cama imóvel.

Mais um item para a lista de coisas que ela se culpava por não fazer.

Corte dos Sonhos e PesadelosOnde histórias criam vida. Descubra agora