Manoel Pinto Garcia

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Tomé-Açu, Pará

Terceira maior colônia japonesa do Brasil, O primeiro grupo de imigrantes japoneses chegou ao Pará em 16 de Setembro de 1929, dirigindo-se para a colônia de Tomé-Açu, distante de Belém 230km, contribuíram para grande desenvolvimento e agricultura da região.

Ceuci era uma linda moça de descendência japonesa, e embora fosse grande seguidora das tradições nipônicas, também era apaixonada pela cultura local. Foi com o povo indígena Sateré-Mawé que conheceu o guaraná, fruta misteriosa que carregava lendas do povo.

Ceuci casou-se, teve seus filhos, seus netos. A vida parecia tranquila, embora as dificuldades que enfrentavam nos campos agrícolas, eram pacíficos. Um dia, porém, uma grande tragédia atingiu sua família, então ficou encarregada de criar seu neto Manoel Pinto Garcia, um garoto pequeno, gordinho e assustado, pele amarela, cabelo preto, curto. Ceuci era apegada ao menino, lhe contava histórias para dormir.

— Vovó, me conta a do guaraná mais uma vez?

— Mas eu já contei tantas vezes...

— Eu sei, mas eu gosto dela.

Dona Ceuci não resistia. Mais uma vez falava da lenda da Indígena que engravidou de uma cobra e teve um filho, os irmãos dela tiveram inveja e mataram o menino enquanto subia uma árvore. O garoto foi enterrado e de seus olhos surgiu o guaraná, por isso a planta tem o formato de olho.

— Isso aconteceu mesmo, vovó?

— Os indígenas Mawé que me contaram, e eles são os maiores produtores de guaraná, então não tenho porque duvidar da palavra deles.

— Entendi.

— Existem outras versões, meu neto. Em uma delas, era um garoto prodígio muito inteligente, mas um espírito mau chamado Yurupari teve inveja dele e o matou. No lugar o de foi enterrado, guaranás nasceram de seus olhos.

— Incrível!

— Não sei porque gosta tanto dessa história, meu neto. Não é um conto com final feliz.

— Eu sei, vovó, mas eu gosto quando fala das lendas do povo Mawé.

— Eu percebi. — riu a senhora, em seguida, lhe beijou a testa — durma bem, meu neto.

Ele virou-se para dormir. Ceuci foi para a cozinha, tomar um chá. Tinha pena de ver uma criança tão jovem sem os pais. Acabou se tornando uma avó super protetora, mas não impedia que seu neto tivesse pesadelos a noite. O sonho era constante, uma criatura horrenda o perseguia sem que pudesse fugir. Acordava chorando desesperado, sua avó o ninava para dormir.

Dona Ceuci cogitou algumas vezes que a tal "criatura" podia ser só um bicho-preguiça, já que era o animal que o garoto mais temia, mas ele negava:

— Eu reconheceria se fosse uma! Elas têm unhas gigantes e se mexem devagar. 

— Tá bom, então não era uma preguiça. O que acha que era?

— Não sei, vovó. Eu queria que me deixasse em paz...

Ela o abraçou. Temia que esses pesadelos fossem referentes a criatura misteriosa que matou seus pais. Não tocava no assunto, Manoel era pequeno demais para entender.

***

Alguns anos depois, agora com 18, ele se tornou um rapaz inteligente, ainda acima do peso, gostava de pesquisar sobre lendas e mitos de diversas religiões. Embora os pesadelos não fossem tão frequentes, não esquecia aquele monstro. 

Durante suas pesquisas sobre misticismo, encontrou um lugar no Brasil famoso por isso: O Alto Paraíso de Goiás. Sentiu que precisava ir para lá, conhecer. Mesmo que não lhe dessem respostas, talvez tivessem algum mantra para afastar pesadelos. 

Os Guardiões de TupãOnde histórias criam vida. Descubra agora