Deuses Sazonais

46 3 1
                                    

Jardim de Maytrea, GO

Carol foi levada até a Cachoeira de Couros, longe de onde Sara estava.

— Muito bem, — Começou Peurê, deus do Verão, um indígena com as vestes de cores quentes, cabelo curto, usava um cocar amarelo — Antes de controlar seus poderes, é preciso entender a natureza e suas mudanças.

— Qual exatamente é meu poder? — perguntou Carol — Não vejo como "falar com plantas" serve pra lutar.

— Tudo a seu tempo, criança. — disse Mutin, deus da primavera. Era um indígena ornamentado de flores nos pulsos, cintura, tornozelos e na cabeça, trazia um sorriso sereno em seu rosto, os pássaros o rodeavam — Você aprenderá tudo o que precisa saber.

— Exatamente. — disse Catú, deus outonal, usava diversas folhas amarelas e vermelhas no corpo, uma coroa de folhas verdes na cabeça e brincos — Nós vamos primeiro falar sobre as mudanças climáticas.

— Então preste atenção. — disse Nhará, deus do inverno. Tinha um semblante mais sério, suas vestes azuis e brancas, cores frias como suas atitudes — Cada um de nós rege uma das estações do ano. Nossos poderes são mais fortes dependendo da região onde estamos, pois como o Brasil é um país muito grande, sua biodiversidade é imensa.

— Entendo.

— Muito bem, — sorriu Catú — por ser um país tropical, as estações mais fortes são a de Peurê, um verão quente e chuvoso, e Nhará, um inverno mais seco.

Nhará cruzou os braços com a cara fechada, Peurê exibia seus músculos.

— Nós temos nosso papel também, — prosseguiu Catú — lhe explicaremos a extensão dos nossos poderes.

— No verão, — disse Peurê — quatro massas de ar quente exercem influência sobre o país: a Equatorial Continental, a Equatorial Atlântica, a Tropical Atlântica e a Tropical Continental, sendo seca apenas esta última. Portanto, o verão é o período das chuvas na maior parte do território brasileiro.

— No inverno, — disse Nhará — a atuação da massa Equatorial Continental é mais restrita à região Norte, a massa Tropical Atlântica continua a atuar no país e a massa Polar Atlântica passa a atingir o território brasileiro, provocando baixas temperaturas na região Sul, Sudeste e na parte sul do Centro-Oeste, chegando até a região Norte, onde ocasiona o fenômeno da friagem.

— Em outras palavras, — disse  Mutin — Esses dois são quem tem mais poder entre nós quatro em território brasileiro. 

— Os principais biomas são Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Campos e Pantanal. — disse Catú — aprenderá a lidar com cada um deles, conhecerá sua vegetação, respeitando todos os seres vivos que aqui habitam, e assim que se tornar uma só com a natureza, poderá entrar em contato com seu guardião e descobrir sua verdadeira essência.

Carol escutava tudo com atenção, mas ainda não tinha certeza do que podia fazer. Lembrava de Sara com o furacão, se perguntava se poderia fazer algo assim. Eles prosseguiam a aula de geografia sobre clima e vegetação.

— Vamos dar um tempo para que absorva tudo. — sorriu Mutin, a envolvendo com uma coroa de flores — Pode meditar a vontade.

Os quatro se retiraram, assim pôde refletir sozinha. Ouvia o barulho da cachoeira, o vento em seus cabelos vermelhos, a grama entre seus dedos, fechou os olhos, sentia o cheiro da terra, da grama, das flores. Pensava no que haviam lhe dito, deixava o calor do sol tocar sua pele, o som dos pássaros acalmavam sua alma. Se concentrava, podia ouvir as plantas falarem consigo, estava quase alcançando uma conexão quando alguém tocou seu ombro: era uma mulher envolta em uma manta negra de cipó chumbo:

Os Guardiões de TupãOnde histórias criam vida. Descubra agora