Anhangá

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Salão dos Deuses, Serra da Ibiapaba, Ceará

Sara, Carol, Beto, Iago, Malu, Bóris e Manoel estavam frente a frente com o poderoso deus do submundo: Anhangá. Não dava pra dizer se estava nos planos de Tupã que eles o enfrentassem desde o início, mas já haviam chegado longe demais. Sentiam, dentro de seus corações, que seus guardiões estavam com eles. Saci Pererê, Curupira, Boto Cor-de-rosa, Iara, Mula-sem-cabeça, Boitatá, até mesmo Mapinguari. Todos foram cuidadosamente escolhidos para aqueles que saberiam usar seus dons da melhor forma possível.

Frente a eles estava Anhangá, o poderoso Deus do Submundo, em sua forma de humano com a pele reluzente, cabelos brancos, olhos cor de fogo. Tinha um cajado em mãos, que era sua arma. Deu alguns passos a frente:

— Há muito tempo Tupã olha pela Terra, e vejam como ela está destruída! Queimadas, poluição, desmatamento. Eu sempre fui considerado um deus protetor das matas, torturava somente os caçadores maus com a natureza e levava suas almas ao submundo. Quando os colonizadores vieram, pregaram suas religiões, apagando nossa cultura. Fui considerado um "demônio", a projeção do próprio mal, e é assim que o povo Mawé me enxerga. Para os Tupinambás, mesmo considerado maior ameaça para os mortos, os vivos que me vissem podiam ter corpo e alma punidos. A mera lembrança dos sofrimentos impostos por mim bastava para atormentá-los. Os Tupinambá afirmavam temer meu espírito maligno mais do que qualquer outra coisa. Tupã e eu nunca nos entendemos, nos tornamos inimigos a ponto dele me aprisionar, foi onde Jururá-Açu me libertou e foi castigada. — ele segurou firme em seu cajado — Não pensem que terei misericórdia só porque são jovens e mortais. Se lutam por Tupã, são meus inimigos!

Manoel estremeceu ao ouvir sobre o povo Mawé, afinal, sua avó sempre teve forte ligação com eles, mesmo não sendo descendente, havia aprendido muito de suas lendas e costumes. Ele tremia e suava frio, então sentiu alguém botar a mão em seu ombro:

— Se acalme. — sorriu Beto — Estamos todos juntos aqui.

Ele respirou fundo, precisava manter o controle.

O deus mudou de forma para um cervo de luz, se movimentava rápido. Malu incendiou o rosto, era a única ali com velocidade o bastante para acompanhá-lo. Disparava bolas de fogo, mas ele se esquivava. Retornou a forma humana e a acertou com seu cajado, a empurrando pra longe. Bóris sabia que ele seria um páreo duro, então usaria tudo o que tinha, virou-se para os outros:

— Fechem os olhos!

Eles obedeceram sem questionar, o rapaz tirou os óculos para olhar diretamente para Anhangá, mas como o previsto, não funcionaria no deus do submundo.

— É muita audácia tentar isso! — O deus o encarava com seus olhos vermelhos — Nós temos os mesmos poderes, garoto. — se inclinou e lhe deu um soco no estômago — Mas me impressiona um mortal que enfrente a morte de frente.

Bóris se ajoelhou, com a mão na barriga. Recolocava os óculos, agora que tinha certeza de que isso não funcionava, sabia que não podia depender de seus olhos comuns. Nem percebeu quando Malu veio correndo e deu uma voadora flamejante em Anhangá, o empurrando pro outro lado do salão. Estendeu a mão para Bóris:

— Bah, não acredito que não funciona nele.

Ele segurou a mão dela e se levantou:

— Não é surpresa.

— Então vamos só cair pro soco. — ela esboçou um sorriso — Nenhum deus vai destruir a humanidade enquanto eu estiver aqui.

Bóris assentiu, se concentrou para se tornar a serpente gigante com vários olhos flamejantes. Cuspia suas bolas de fogo na direção do inimigo, que rebatia com o cajado.

Os Guardiões de TupãOnde histórias criam vida. Descubra agora