Voltou diferente da viagem

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Salão dos deuses, Vale da Lua, GO

Moangá foi convidado a entrar no salão para que contasse sua experiência com os jovens guardiões. Fez uma reverência ao trono de Tupã, e então levantou a cabeça, olhando direto para Guaraci.

— Sei que estava os observando, grande deus sol. — disse o pajé num tom sério

— Precisava ver a criação de Jurupari. — respondeu ele — E como imaginei, não tem nenhum controle com seus poderes. É um perigo para todos.

— Se observou bem, os sete filhos de Taú foram pra cima dele. O que esperava que ele fizesse?

— Você mesmo não confia nele. — disse Guaraci — Caso contrário, não precisaria andar com um bicho preguiça de escudo.

— O jovem Manoel tem o coração puro, isso posso lhe garantir. — respondeu o pajé convicto

— Ele tem razão. — Guaipira, deusa da história, tomou a palavra — Pelo que estudei, pude perceber que as ações do Mapinguari são totalmente desassociadas às vontades do rapaz. Não podemos julgá-lo pelo que faz quando transformado.

— Eu não vejo dessa forma. — disse Guaraci — Ele queria se defender dos sete, só não tinha força para isso na forma humana. 

— Caro deus sol, — disse Moangá balançando a cabeça — Se visse o estado de medo e pânico dele quando a transformação cessou, entenderia que ele não queria ter chegado àquele ponto. Quem os enviou certamente tinha como plano despertar o pior lado dele.

— Você fala como se não soubéssemos que isso foi obra de Anhangá. — disse Guaraci — Todos essas criaturas que deviam deixar de existir mas estão aqui porque o deus do submundo decidiu se rebelar.

— Há algo mais. — disse Moangá — Durante todo o treinamento, eu tentei propor atividades em grupo, e Iago e Manoel se saíram melhor do que eu esperava.

— Iago trabalhou bem em conjunto? — perguntou Piná, deusa da simpatia — Ele sempre foi muito individualista, obcecado. 

— Eu não ficaria tão surpresa. — riu Juriti, mãe dos rios — Esse rapaz só precisa do incentivo certo. Ele e Beto sempre foram uma boa dupla, mesmo no desentendimento.

— Ah, os jovens! — suspirou Rudá, deus do amor — Logo verão que o trabalho em equipe é o melhor caminho.

— No entanto... — prosseguiu Moangá — Carol continuava distante. Fazia sua parte sozinha, se retirava em sua barraca, algumas vezes até sumia. 

— Ela é difícil de lidar. — disse Peurê, deus do verão — Seu contato com a natureza é impressionante, mas quando se trata de se comunicar com as outras pessoas...

— Não a culpo. — Nhará, deus do inverno, cruzou os braços — As vezes é mais fácil fazer as coisas por conta.

— Não diga coisas assim! — disse Mutin, deus da primavera — Nós precisamos que eles fiquem juntos!

— Mas nós quatro sabemos que ela nunca foi sociável. — disse Catú, deus outonal

— Deixem Moangá concluir o que dizia! — exclamou Tupã

Os deuses silenciaram, o pajé respirou fundo:

— Eu acho que alguém está persuadindo Carol a mudar de lado. Os ideais do Curupira não são tão diferentes aos de Anhangá, ele destruiria os humanos se isso mantivesse a floresta a salvo. — ele olhava em volta, observando todos os deuses — Acho que se não tomarmos alguma atitude, a perderemos.

Os Guardiões de TupãOnde histórias criam vida. Descubra agora