O plano de Sumá

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Monte do Ibiapaba, Ceará

Anhangá estava sentado no trono de Tupã, queria ouvir de seus subordinados a respeito do encontro com os guardiões. Maria Kaninana estava completamente impaciente enquanto chegavam, odiava o fato de ter sido quase derrotada, queria revanche contra o Boitatá. Jururá-Açu balançava a cabeça:

— Eu tinha o gorro e a garota em mãos. Se tivesse seguido o plano, seriam problemas a menos pra nós.

— Se meu irmão não fosse um enxerido eu os teria matado! — sibilava com raiva

A outra não respondeu, era perda de tempo discutir com aquela serpente. Precisava pensar no que dizer na presença de Anhangá. 

Pirarucu também estava a caminho, exibia o colar de Beto como se fosse um troféu. Estava desapontado pelo embate que teve, já que enfrentaria alguém treinado por Xandoré, o deus do ódio, esperava muito mais. 

E finalmente, Japiim em sua forma humana retornava na companhia de Luison, o último dos sete espíritos que sobrou. Quando entraram no salão, viram a imagem resplandescente de Anhangá em seu trono, Ticê ocupava a cadeira ao lado dele, Taú também estava presente, de braços cruzados. Quando viu o pequeno grupo entrar, notou que apenas um de seus filhos estava presente:

— O que significa isso?

Luison, que um dia foi um imponente lobisomem, agora tremia como um cachorro assustado. Anhangá também percebeu, levantou-se:

— Onde estão seus irmãos?

— E-Eles... Eles foram mortos....

— Como assim? — Taú perguntou, furioso — Está dizendo que aquelas crianças idiotas conseguiram vencer os sete espíritos?

Luison tremia ainda mais:

— N-Na verdade... A-Apenas... Apenas um deles...

Anhangá andou até ele, segurou seu pescoço e o ergueu, o empurrando contra a parede:

— Pode me dizer como um único guardião, que nem sabe usar seus poderes ainda, conseguiu vencê-los? E o que você faz aqui? Ainda se considera um deus da morte?

O lobo estava muito assustado, se segurava no braço de Anhangá, tentando libertar-se:

— O pescoço não... Por favor... Não aguento esse pesadelo...

— Solte-o. — disse uma voz imponente

Anhangá o obedeceu imediatamente, derrubando-o no chão. Deu as costas, voltou ao trono:

— Não achei que viria aqui.

— Eu fiquei sabendo o que houve. — ele respondeu — A culpa foi dos espíritos, pois subestimaram os poderes de Mapinguari. 

— Você sabia que isso ía acontecer? — perguntou Taú, irritado

— Sumá queria fazer um teste, então permiti que fossem. — disse Jurupari — Seu filho voltou com uma informação realmente interessante. 

— Desgraçado! — Taú avançou na direção dele — você os mandou para a morte!

Antes que pudesse encostar nele, Anhangá o deteve:

— É o bastante, Taú. Brigar entre nós não levará a nada. Concentre sua raiva para Tupã e os guardiões.

Taú obedeceu, emburrado. Saiu da sala, Luison foi com ele. Jurupari sorriu:

— Não precisava me defender, Ahiag. Sabe que nenhum de vocês têm poder para me ferir.

— Exatamente por isso. — respondeu Anhangá — Seria perda de tempo e uma baixa a mais em meu exército. Deixemos que os outros falem sobre suas descobertas.

Os Guardiões de TupãOnde histórias criam vida. Descubra agora