Eventos Sobrenaturais

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Porto Alegre, Rio Grande do Sul

Malu e Boris pararam em uma praça pra tomar chimarrão. A garota levava feno na bolsa para seu cavalo.

— Realmente cuida bem dele. — comentou Boris

— Meus cavalos são tudo pra mim. Eu preciso voltar pra casa, eles dependem de mim.

— Não tem ninguém lá pra cuidar deles?

Malu acariciava o focinho de seu alazão:

— Minha mãe está internada numa clínica de reabilitação. Eu sou tudo que esses cavalos tem daí.

Ela deu seu último gole, guardou a cuia de volta. Levantou-se, pronta para montar.

— Onde vai? — perguntou Boris

— Eu preciso voltar. Não se preocupe, vou manter nosso acordo. Quero saber sobre meus poderes de fogo e você é minha única pista, já que "conversa" com ele.

— Então está sugerindo...

— Sabe montar? — ela perguntou

Ele demorou um pouco até entender que ela o convidava a subir:

— Você tem certeza?

— Olha, guri, eu estou num beco sem saída. Ou você vem comigo ou te deixo pra trás e nunca mais nos veremos, o que seria ruim, já que ainda quero matar meu pai e esse fogo viria a calhar.

— Não vou te ajudar se quer usar o fogo dessa forma.

— Se conhecesse meu pai concordaria que não é algo ruim. Vai subir no cavalo ou não?

— E a minha bicicleta?

— Tem muita gente na praça andando de bicicleta aqui. Podia vender ela pra alguém, daí.

Boris seguiu o conselho dela. Não teria como seguí-la, o cavalo era mais veloz. Negociou com um rapaz, pelo menos tinha mais um dinheiro guardado. 

— Ele perguntou se você não quer negociar o cavalo também. — disse Bóris

— Não está a venda. Agora vamos.

O rapaz montou, um pouco receoso.

— Segura firme aí. — disse ela

— Mas onde eu...

— Na minha cintura mesmo, tchê. Para de enrolar, meus cavalos estão me esperando.

Ele obedeceu, cavalgaram até União da Serra. Ela pediu para que ele esperasse, então ela fez seu serviço matinal de pentear seus cavalos. Boris a observava atentamente, a leveza como seus dedos conduziam a escova, nem parecia a mesma garota estressada que ia queimar um padre vivo. Seria complicado saírem dali, os equinos ficariam desamparados.

Ela terminou, virou-se pra ele:

— Quando começamos?

— O quê?

— O fogo. Como eu faço?

— Eu não sei bem...

— Você é inútil mesmo, não é? — bufou e cruzou os braços

— Vamos pra um lugar mais afastado pra você não assustar seus cavalos.

Ela saiu na frente, uma área longe o bastante de casa. Boris respirou fundo, não sabia onde havia se metido, mas não podia sair agora:

— Bom, acredito que seu fogo pode vir das emoções, então vamos começar com isso. Pense em algo que te deixe com raiva.

Não era difícil pra ela, na verdade, era só o que sentia desde que nasceu. Começou a lembrar do momento que entrou na igreja, o rosto de seu "pai", o momento em que disse "a filha da pecadora". A chama dentro de si crescia, sentiu o rosto arder, então se viu no reflexo dos óculos de Bóris, seu rosto escondido no meio do fogo. Não fazia ideia de que era essa a imagem que tinha.

Os Guardiões de TupãOnde histórias criam vida. Descubra agora