Aldeia do Moagá, algum lugar em Manaus, Amazonas
A manhã seguinte foi difícil para os três. Os pesadelos os deixaram ainda mais exaustos, mas o pajé sabia lidar com aquilo. Segundo os ensinamentos do xamanismo, sonhos eram um estado onde a alma saía do corpo e vagava em busca de algo ou alguém. Jurupari era uma das entidades mais poderosas, então não seria com simples rituais que o afastaria, mas afinal, sua função era ajudá-los a trabalhar a mente, dessa forma, alcançar seus verdadeiros poderes. Os trabalharia inicialmente separados, pois cada um tinha suas peculiaridades, enquanto focava em um, daria alguma tarefa aos outros dois para que interagissem.
Sua primeira escolhida foi Carol, conhecia bem as habilidades de confusão do Curupira que, segundo as lendas, só eram quebradas por um pajé. Enquanto isso Iago poderia treinar seu canto na floresta, Manoel seria sua "plateia". Não reclamou, quanto mais treinasse mais perto estaria de vencer seu rival, o João Xexéu.
Assim que adentraram a floresta e o pajé ficou a sós com a garota, pediu a ela que se sentassem para conversar:
— Eu vejo muita escuridão em seus pensamentos. — disse ele — Você me perguntou antes a respeito dos deuses, então lhe direi.
— Verdade?
— Cada um de nós deve traçar o próprio caminho, fazer o que for correto. O Curupira é um rapaz travesso, mas seu coração é bom. Seu amor pela floresta é maior do que tudo. Imagino que os deuses lhe concederam seus dons porque viram muito dele em você.
— Eu não sou muito sociável, não acho que sirva pra isso...
— Mas quer proteger a natureza acima de qualquer coisa. — ele sorriu, em seguida se levantou — me acompanhe até a floresta, veremos seu poder em prática. Muitos caçadores o madeireiros ilegais rondam esse lugar. Me ajude a tirá-los daqui.
Ela assentiu e o acompanhou.
Iago e Manoel andaram até um lugar aparentemente calmo. Enquanto o de cabelos esverdeados treinaria seu canto, o outro fazia suas técnicas de relaxamento pra manter a calma. Pediu para que a música fosse algo calmo, pois o ajudaria. Iago estava pensativo, quando finalmente escolheu o que cantar, ouviu sons de pássaro pela floresta. Em uma situação normal não se incomodaria, mas aquilo estava realmente roubando sua atenção. Olhou ao redor:
— Algum problema? — perguntou Manoel
Ele não respondeu, respirou fundo, os pássaros se calaram. Assim que cantou o primeiro verso, o barulho voltou:
— De onde está vindo isso?
O ticuna olhava para todo lado, deveria ter um monte de aves, mas só o que viu foi um pássaro pequeno e preto de barriga amarela. Bufou:
— Eu duvido que esse sozinho esteja fazendo tanto barulho.
Manoel o seguiu, se deparou com a criatura:
— Esse tipo de ave faz seu ninho perto de vespeiros. Será que é melhor irmos para outro lugar?
— Você entende de aves?
— Li um pouco... — Manoel abaixou a cabeça, um pouco sem graça
— Cara, eu juro que não te entendo.
— O-o que quer dizer?
— Beto me disse pra ter paciência, essa é a verdade. Por enquanto você só me parece um cara todo tímido. Tem mais alguma coisa que eu devia saber?
— O Beto... Não falou sobre... Bem...
— Nada. Não tenho ideia do que é o seu guardião ou porque você age assim. A minha é a Iara, é uma sereia e canta, não tenho muito o que dizer sobre ela. Mas o seu eu nunca ouvi falar.
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Os Guardiões de Tupã
AventuraTupã, o criador de tudo e deus do Trovão, está em guerra com seu arqui-inimigo Anhangá, deus do submundo. Para encontrar o equilíbrio, os guardiões precisam ser convocados.