Seguindo os passos

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Salão dos Deuses, Serra de Ibiapaba, Ceará

Sumá levou Carol até o lugar onde Anhangá a aguardava. Se parecia com o salão no Vale da Lua, só que muito maior, vários tronos para os deuses, assemelhava-se a um Monte Olímpio, só que indígena. 

O deus do submundo era diferente dos outros, seu corpo reluzente, podia sentir que era uma entidade poderosa. 

— Saudações, grande Anhangá! — Sumá se curvou, Carol fez o mesmo — Aqui está a Guardiã do Curupira, veio de bom grado ao nosso lado.

O deus andou até ela em sua forma de cervo de luz, ela ficou encantada com aquilo, seus olhos brilhavam. Ele voltou a forma mais humana, só que os chifres sempre permaneciam:

— Imagino que Sumá tenha lhe explicado algumas coisa, mas de toda forma, quero deixar isso claro: aqui estamos contra a tirania de Tupã e os outros. 

— Eu entendo, senhor. — Carol assentiu, um tanto nervosa

— Por anos nossos povos foram desprezados, atacados. Os colonizadores europeus me veem como um ser maligno, me comparam ao "diabo cristão". — ele pôs as mãos nos ombros dela — Com seu poder, faremos com que paguem. A natureza se revoltará contra quem tenta destruí-la.

Ela assentiu. Ele lhe entregou uma lança, a convidou a sentar. Ela percebeu que havia outra mulher ali, uma indígena de longos cabelos pretos, marcas pretas pintadas em seu rosto. O deus notou que a garota a observava:

— Essa é minha esposa, Ticê, deusa do submundo. — ele esboçou um sorriso — É uma bruxa tão poderosa que mesmo meus olhos não lhe fizeram nada, então a trouxe para reinar no submundo comigo, a tornando uma divindade.

— Seus olhos? — Carol repetiu sem entender bem

— Quem os olha diretamente pode sucumbir a loucura ou morrer, semelhante ao poder de Boitatá.

Carol engoliu seco, se não estivesse de cabeça baixa o tempo todo poderia ter sido morta pela falta de aviso. Lembrou de Bóris que andava o tempo todo de óculos escuros, aquilo não era sobre ele, era sobre proteger os outros. Balançou a cabeça, era bobagem se preocupar, Anhangá não faria mal a ela, provavelmente sabe controlar esse olhar, mas ainda assim, preferia ter sido avisada sobre isso.

Ticê não confiava nela e nem em Sumá, preferia observar seus movimentos.

Carol foi convidada a se sentar para comer alguma coisa, o salão tão vazio e solitário. Devia estar acostumada em ficar sozinha, mas aquele lugar não a deixava feliz como esperava. Suspirou, assim que Anhangá salvasse a mãe natureza, tudo estaria bem e nada daquilo importaria. 

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Ladeira da Serra de Ibiapaba,  Tianguá, Ceará

Abeguar percorreu mais de 1800 km voando com os guardiões, chegaram ao noroeste do Ceará, que era até onde podia ir. Havia indicações de que era uma Área de Proteção Ambiental, região montanhosa que no passado era habitada por indígenas tabajaras e tapuias até ser colonizada pelos jesuítas no século XVI. 

— Preciso retornar a Goiás. — disse o deus do voo — Pytajovái vai tentar tomar nosso salão, preciso lutar ao lado dos Deuses. 

— Muito obrigada por nos trazer. — sorriu Sara

— É um prazer ajudar. Boa sorte, que Tupã os proteja.

Ele bateu suas asas e saiu. Os seis começaram a caminhar, não tinham muita certeza de por onde deviam seguir, até que avistaram pegadas no chão que estavam perpendiculares ao caminho que faziam.

Os Guardiões de TupãOnde histórias criam vida. Descubra agora