Salão dos deuses, Gruta de Ubajara, Monte do Ibiapaba, Ceará
Manoel começou a ver um vulto. A princípio, achou que podia estar morto, já que se tratava de Catxuréu, a deusa da morte.
— Manoel... — ela chamou — você me escuta?
Sua voz era tão suave, acolhedora. Lhe transmitia tanta paz que nem parecia que havia acabado de se afogar.
— Estou ouvindo... — ele respondeu, um pouco sem graça
— Você sabe por que eu estou aqui?
Ele tremeu.
— Eu acho... Acho que veio me levar...
Ela esboçou um sorriso.
— Não, ainda não é sua hora.
Ele levantou a cabeça, surpreso:
— Mas... Eu não morri?
— Está por um fio, mas não. A Nawá tem poderes de cura, incluindo ressurreição, pelos animais que os caçadores matam na floresta.
— Carol... Ela está tentando me ajudar? Mesmo depois do que houve em Manaus...
— O ódio havia sido implantado por Sumá, deusa da discórdia, por suas mentiras e distorções dos fatos. Depois de tudo o que você fez por todos, merece continuar vivendo.
— Então... Por que a senhora tá aqui?
— Porque foi um de seus desejos. Eu posso trazer o espírito de seus pais para vocês se despedirem.
Manoel gelou lembrando do que Anhangá havia mostrado.
— E-Eu não sei se devo...
— Eles não te odeiam, se é isso que teme. — ela sorriu — A menos que queira esperar até chegar sua hora de verdade.
Ele ficou pensativo, não podia desperdiçar a chance, mas ainda assim, era assustador.
— Eu... Eu quero vê-los...
A deusa assentiu, abriu seu manto, duas almas surgiram, então tomaram uma forma humana, um casal de descendência japonesa. Abriram seus olhos devagar.
— Manoel? É você? — perguntou a mulher
— Mãe?
— Você cresceu bastante. — comentou o homem
— Pai?
Os olhava de cima a baixo, não possuíam aquelas marcas no pescoço. Não podia conter as lágrimas, correu para abraçá-los:
— Eu sinto muito... Eu sinto muito mesmo...
Chorava de soluçar, não conseguia falar mais nada.
Eles o abraçaram de volta:
— Nós temos orgulho do que se tornou. — disse a mãe
— A deusa nos contou o que fez. — disse o pai
— Eu matei vocês... Eu sou um monstro... Eu sinto muito
— Foi o Mapinguari quem fez isso. — corrigiu Catxuréu — você era só uma criança.
— Ela tem razão, querido. — a mãe sorriu — você tem um coração bom e valente. Nunca te culpamos por isso.
Abraçou mais forte. Aquilo era tão reconfortante que queria ficar ali pra sempre, mas sabia que não podia. Seus amigos lutavam para que voltasse a vida.
— Cuide de sua avó, meu filho. — disse o pai
— Sempre estaremos com você. — disse a mãe
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Os Guardiões de Tupã
AventuraTupã, o criador de tudo e deus do Trovão, está em guerra com seu arqui-inimigo Anhangá, deus do submundo. Para encontrar o equilíbrio, os guardiões precisam ser convocados.