O poder do povo indígena

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Salão dos Deuses, Serra da Ibiapaba, Ceará

O Salão Divino havia se tornado um verdadeiro campo de guerra, Xandoré apenas assistia enquanto os Guardiões lutavam com os deuses.

Carol finalmente podia pôr suas habilidades em prática. Mesmo dentro de uma caverna, sentia a natureza ao seu redor se conectando aos seus poderes. Sumá era uma poderosa guerreira, travavam uma batalha com suas lanças, atacando de forma similar a espadas, só que segurando na parte de trás e no meio do cabo para controlar sua mobilidade. Sumá fez a lança da garota voar para a longe, mas ao contrário do que se imaginava, não tentou perfurá-la com a dela, a soltou e avançou com o próprio corpo, a agarrou pela cintura e a derrubou no chão, em seguida abriu os braços, dançando em volta dela e cantando como uma ave.

— Esse estilo... — a ruiva se colocava de pé novamente

— Idjassú, luta típica do povo Karajá, Tocantins. — riu a deusa — Eu conheço todos os povos, todos os métodos.

Sumá avançou pra cima dela mais uma vez, agora tentando acertá-la com socos. Carol respirou fundo, e como se dançasse, desviava de seus golpes. A deusa ficou impressionada com sua velocidade, mas nada que não pudesse encarar. Continuava a série de ataques contínuos, até que a Nawá segurou em seu punho:

— Não me subestime!

Lhe deu uma rasteira, a derrubando com seu próprio peso.

— Estilo xondaro, do povo Guarani... — comentou a deusa, que se mantinha de joelhos no chão — Esse é o estilo onde a coisa mais importante é desviar e vencer o oponente pelo cansaço... Estou impressionada que saiba fazer isso.

— Eu sinto, dentro de mim... — Carol levou a mão ao peito — Sinto como se vários povos do Brasil inteiro me dessem sua força!

Ela ajoelhou junto à Sumá, olhando frente a frente uma para a outra. A deusa sabia o que estava fazendo, era o Huka-huka, originário dos povos Xingu e Makuiri, do Mato Grosso, ambas giravam ajoelhadas em sentido horário, até se entreolharem e se agarrarem, tentando levantar. A primeira que conseguisse, derrubaria a outra no chão, essas eram as regras. Carol era realmente baixa comparada a deusa, mas possuía a força física e a velocidade herdadas de seu guardião, o que as deixava em pé de igualdade. Ela acabou sendo derrubada, caindo de costas no chão, mas se levantou rapidamente, retomando o estilo Xondaro, com movimentos suaves que lembravam a capoeira. Não havia percebido antes, mas a facilidade que tinha com aquele estilo podia ser graças à Sara, pois sempre a via treinar quando tinha oportunidade. Alternava o apoio de seu corpo sobre cada uma das pernas. O tronco era levemente inclinado ora para frente, ora para os lados, ora para trás. O corpo demonstrava a versatilidade de seus membros, os braços, as pernas, o tronco, a cabeça, os ombros, com muita leveza, eram dirigidos em direção ao alvo: o corpo da adversária.

Sumá já havia entendido o que estava fazendo, mexia-se também com leveza, pareciam dançar juntas enquanto tentavam se acertar com seus golpes. Os olhos de Carol estavam incandescentes, seus pés descalços tocavam o solo, como se fossem guiados pelo ambiente, não apenas conseguia prever os movimentos de Sumá, mas também sentir os movimentos de seus colegas que estavam próximos. Iago e Beto atuavam como uma dupla, como em Goiás, pois fora da água as transformações de Beto eram armas de combate. Malu e Bóris combinavam seus poderes de fogo, e havia Sara que estava junto ao Manoel para protegê-lo até se recuperar. Sabia que todos estavam exaustos, enfrentaram muita coisa pra chegar ali, por sua causa.

— Confie em você. — uma voz disse em sua cabeça.

Era Curupira, seu guardião. Há muito tempo não tentava se comunicar com ele, então aquilo a pegou de surpresa.

Os Guardiões de TupãOnde histórias criam vida. Descubra agora