São Paulo de Olivença, Amazonas
Beto acordou cedo no outro dia, talvez por ansiedade. Agora estava mais perto do que nunca de sua casa, havia tanto que queria contar pra sua família... Começou a pensar em Vandinho, o mais novo. Deveria estar tão grande agora depois de tantos meses... Com certeza perdeu alguns aniversários de seus irmãos. Como deveriam estar se sentindo?
— Roberto? — uma voz bateu a porta, era Raimundo — Está acordado?
Havia se perdido em seus devaneios.
— Estou sim, pode entrar.
— Seu barco sai daqui há duas horas. Yuri fez o café da manhã. Eu preciso ir trabalhar, então vim me despedir. — ele sorriu — Ainda vamos ter tempo de conversar direito sobre o que Iago passou na viagem.
— Entendo. Muito obrigado pela hospitalidade, senhor.
O homem saiu, trajava um terno elegante. Beto foi até a cozinha, Iago estava lá, ajudando o pai. O cabelo preso em um rabo de cavalo.
— Bom dia. — cumprimentou — Papai foi te acordar?
— Não foi necessário. — ele riu — Agradeço a hospitalidade de vocês.
— Tudo por nosso novo genro. — sorriu Yuri — faz tempo desde a última namoradinha de Iago.
Beto levantou a sobrancelha:
— Como é?
— Não liga pra isso. — disse o rapaz de cabelos esverdeados — nada tão sério. Era tipo namoro de escola, só isso.
— E você não ía me contar?
— Claro que ía, quando o assunto surgisse. Você também nunca me contou sobre romances do passado.
Beto corou. O silêncio dizia tudo.
— Eu sou... Seu primeiro namorado?
— Vocês são jovens. — comentou Yuri — Iago nunca foi de fazer muitos amigos quando era novo, mas com certeza seu encanto chamava atenção.
Beto ainda estava sentado, pensativo. Iago pôs as mãos sobre as dele:
— Hey, tá tudo bem. Na verdade, é uma honra para mim ser seu primeiro namorado. E as pessoas da escola não eram interessantes como você.
— Obrigado... Eu acho... — disse de cabeça baixa
Ele apertou as mãos com mais força:
— Eu amo você, Beto. O que nós temos eu nunca senti com ninguém. Pra começar, é o primeiro a rebater o que eu digo ao invés de tentar me agradar o tempo todo. — riu ele — Acho que isso me ajudou a melhorar como pessoa.
Beto levantou a cabeça, olhava nos olhos castanhos de Iago. Não devia mesmo ser surpresa que alguém tão bonito tivesse suas paqueras. Aproximou seu rosto do dele, o beijando. Foi tão natural que só se deu conta quando ouviu o "awwn" emitido por Yuri. Se separou rápido, sem graça:
— Desculpe... — se levantou — Acho melhor eu me arrumar pra não perder meu barco.
Saiu da sala, Iago encarava o pai:
— Vai assustar ele desse jeito.
— Foi mal, filho. Mas vocês são tão fofos juntos!
— Hum.
Beto tomou um banho, trocou de roupa, uma regata roxa e bermuda rosa chiclete. Prendeu o colar no pescoço, pegou suas malas. Iago apareceu na porta:
— Preciso falar com você.
— Eu não posso perder a hora...
— Beto!
— Desculpe essa ceninha que eu dei. Acho que é tudo novo pra mim...
— É novo pra mim também!
— Iago...
— Qual é, enfrentamos deuses! Vamos enfrentar isso. Meus pais gostaram de você!
Ele sorriu. Talvez o nervosismo fosse normal. Parecia comum discutirem quando eram só eles e os guardiões, mas beijá-lo na frente do sogro o deixou sem graça, provavelmente por pensar em como o próprio pai agiria. Respirou fundo:
— Eu quero conversar com meu pai antes de te apresentar pra ele.
— Acha que ele... Pode não aceitar?
— Talvez só fique confuso. — sorriu ele — Por isso eu quero conversar. Eu vi várias vezes meus irmãos mais velhos apresentarem namoradas pra ele, mas agora que chegou a minha vez isso parece tão... Estranho.
Iago se aproximou, lhe beijando a ponta do nariz:
— A gente vai enfrentar isso juntos. Aliás, era sobre isso que queria falar. Eu conversei com meus pais, eles me deixaram ir com você, meu pai Raimundo me busca à noite, quando sair do serviço.
— É sério?
— Isso... Se não for problema... — disse um pouco sem graça
Beto segurou na mão dele, entrelaçando seus dedos.
— Pra mim é perfeito.
Saíram juntos para tomar o barco, a viagem levou 5h até seu destino.Tabatinga, Amazonas
Desembarcaram. Beto pegou sua mala cor-de-rosa de rodinhas e a bolsa de mão que levava. Iago se ofereceu pra ajudar a carregar, mas ele não quis. Estava em silêncio, pensativo. A sensação de voltar era algo inexplicável, a cada passo que dava era como se um filme passasse em sua mente.
Era cedo, imaginou que alguns irmãos estariam na escola, outros trabalhando, seu pai só chegaria à noite.
— Beto? — chamou Iago — Cê tá bem? Eu imaginei que iria ficar falando o caminho todo, mas tá tão quieto...
— Acho que é a emoção. — ele respondeu — Faz tanto tempo que eu parti... E não tinha como avisar que estava voltando... Talvez não tenha quase ninguém em casa agora.
— Você sempre fala tanto de seus irmãos, sei que vão ficar felizes com seu retorno.
— Está sendo muito legal comigo. — riu Beto — acho que você quem tá estranho.
Iago sorriu:
— Tenho que passar uma boa primeira impressão, depois eu volto a te xingar.
Riram juntos. Estava quase em casa quando um homem passou correndo por eles, apressado. Encarava o relógio, mal olhava pra frente, mas Beto o reconheceu:
— João?
O rapaz parou subitamente, quase tropeçando:
— Beto? Beto, é você mesmo? — encarava o relógio — Caramba, eu tô muito atrasado! Que bom que voltou, a gente se fala quando eu sair do trabalho, tá bom? Até mais!
Voltou a correr. Iago levantou a sobrancelha:
— Ele era....
— Meu irmão. — Beto tinha um largo sorriso
— E você disse que sua família era super amorosa. — zombou
— Cala a boca. — ele fez um bico — João é o que mais trabalha. Quando contei que eu virava um peixe foi a mesma coisa. Quando ele voltar você vai ver.
Iago não sabia se ria da situação, o primeiro reencontro ser de uma forma tão corriqueira desse jeito. Deu de ombros, pela reação de Beto, aquilo era esperado.
Chegaram em casa, o rapaz de cabelos rosados empurrava a porta devagar, contemplando cada detalhe de sua moradia, as paredes de madeira, os móveis antigos.
— Não repara a bagunça. — comentou — Minha casa não é grande e chique como a sua, é mais simples.
— Não precisa se preocupar com isso. — respondeu Iago — Eu também sou de uma aldeia ticuna, minha casa antiga se parecia com a sua.
Entraram.
— Tem alguém em casa? — Beto chamou
Passos vinham da cozinha, Cadu apareceu com avental, tinha uma colher e uma frigideira em mãos:
— Beto? É você mesmo? — sorriu
— Eu voltei. — sentiu os olhos marejados
Cadu começou a bater na frigideira, fazendo barulho:
— GENTE! BETO TÁ AQUI!
Deu pra escutar um choro de criança, com certeza era de Vandinho, o caçula. Cida, a mais velha, apareceu com a criança no braço:
— Cadu, que escândalo é esse? Acordou seu irmão!
Mal acreditou ao se virar para a porta:
— Roberto.... — levou a mão ao rosto — É você mesmo...
Ele só assentiu com a cabeça, nem conseguia falar. Olhava para o caçula, como estava grande agora, mesmo ainda sendo uma criança de colo. Era a prova do tempo que havia passado. Sua irmã o abraçou:
— Que bom que voltou... Mal dá pra acreditar... — ela se virou para Cadu — Vai lá chamar a Duda, rápido!
O menor correu, mal deu tempo de chegar no quarto dela, já ouvia-se os gritos de euforia. Duda veio correndo, pulou em Beto para abraçá-lo, o derrubando no chão. Ajudou a se levantar, seguravam as mãos um do outro, girando:
— Voltou! Voltou! Voltou! — ela dizia animada
— Voltei! Voltei! Voltei! — ele ria
Sentia saudade de todos, mas a proximidade que tinha com Duda era diferente, mais velha que ele pouca coisa, eram muito unidos. Não demorou para que ela percebesse a presença do rapaz de cabelos verdes:
— Uuuuuh! E quem é essa figura aqui?
Beto havia quase esquecido. Limpou a garganta:
— Esse é o Iago. Eu conheci ele na viagem e...
— Ele? — Duda olhou melhor — É seu namorado?
— Hey, eu ia terminar de falar! — Beto corou
Duda segurou as mãos dele:
— Sou Maria Eduarda, mas me chama de Duda. Eu preciso dizer que amei o seu cabelo! Posso tocar nele?
— Duda! — Cida repreendeu — vai assustar o rapaz! É um prazer conhecê-lo, Iago.
— Mas eu achei o cabelo verde maravilhoso! Olha como é longo e bem cuidado! — olhava nos olhos de Iago — Você deixa eu pentear?
— Hã... — ele estava um pouco sem graça
— Ela quem pintou meu cabelo. — sorriu Beto — tem muita experiência nisso.
— Se eu soubesse tinha feito mais comida. — disse Cadu — Sobrou o o do João, que quase morreu engasgado.
— Eu o vi sair. — disse Beto — disse que a noite a gente se fala.
Cida respirou fundo.
— Ele trabalha demais, parece desligado com a vida. Enfim, — se virou para Iago — Eu sou Maria Aparecida, sou a mais velha dentre as mulheres, pode me chamar de Cida.
— Eu acho que Beto deve ter falado da gente pra esse rapaz aí. — comentou Cadu
— Não seja mal educado, se apresente direito!
— Tá bom, "mãe". Sou Carlos Eduardo, Cadu. Podem entrar na cozinha, os outros só chegam depois.
— Léo não tá em casa? — perguntou Beto
— Foi fazer uma prova importante, vai entrar pra turma avançada.
— Eu quero muito me atualizar da vida de vocês! — Beto dava pulinhos de alegria
— E nós, da sua. — sorria Duda — seu namorado também vira peixe?
— Olha os modos, Duda! — repreendeu Cida
— Não diga que não tava curiosa também! — Duda respondeu fazendo bico — Sabe que o Beto só viajou por causa disso...
— Ajuda ele a levar as malas pro quarto, eu vou dar comida pro Wanderson. — se virou para Iago — gostaria de se juntar a nós na mesa? Deve estar cansado da viagem.
— Eu agradeço.
Se sentou em uma das cadeiras, era um espaço pequeno para tanta gente, e sabia que faltava conhecer os outros irmãos. Começou a rir sozinho, fazia sentido o porquê de seu namorado ser tão apegado a irmãos e família.
Enquanto isso, Duda estava toda empolgada no quarto de Beto, onde deixaram as malas:
— Eu quero que me conte tudo! — ela pulava
— Eu tava pensando em esperar os outros chegarem em casa pra conversarmos juntos...
— Ah, você conta os detalhes místicos pra eles depois! Me fala desse gatinho que trouxe com você! Quanto tempo de namoro? Como se conheceram? Eu preciso dos detalhes!
— Duda... — ele corou
— Você tá todo tímido! Aaaa isso só me faz querer saber mais! Sempre me contava quando tinha um crush em alguém do balé!
— Sim, mas era diferente...
— Beto, por favor!
— Tá bem, tá bem. — respirou fundo, o rosto vermelho — A gente não namora há tanto tempo assim, isso é mais recente. No começo achava ele um mala, mal educado, arrogante...
— Mas como seu coraçãozinho é louco por um bad boy...
— Bom, como o poder dele é virar uma sereia, nós fomos colocados pra treinar nossos poderes juntos.
— O Balé Aquático tudo de novo.
— E... Bom, ele começou a aceitar minha ajuda, já que eu já havia me transformado algumas vezes e ele tava começando...
— E vocês já se beijaram?
— DUDA!
— Isso foi um sim ou um não?
— Você quer os detalhes ou que eu pule pro fim?
— Quero tudo, só responde! Prometeu que quando tivesse seu primeiro beijo ia me contar!
— Eu vou chegar lá! Foi um processo...
— Aaaaaaa então teve beijo!
— Ele beijou meu nariz, Duda!
— Não creio! Jura?
Beto estava todo vermelho:
— Ele disse que gosta do meu focinho de boto, aí eu beijei ele!
Duda surtava com seus gritos internos. Ele não sabia nem como continuar, era muita coisa ao longo dessa viagem e poderia passar a tarde só falando de Iago.
— Beto! Duda! — Cida chamou — deixem pra fofocar depois! Venham almoçar!
— Depois eu quero mais detalhes, tá? — ela piscou
— Pode deixar que eu vou falar sim. — respondeu, mesmo tímido.
Sentou à mesa ao lado do rapaz de cabelos esverdeados, que não podia deixar de notar o sorriso de Duda ao olhar pra ele.
— Ela é sempre assim? — Iago perguntou
— Não, agora tá sossegada. — riu Beto, então fez sinal com o olhar pra Duda se acalmar.
— Beto! — chamou Cadu — tem problema pra você comer peixe? Porque aí eu faço outra coisa.
— Eu não sei... Acho que é meio estranho, já que eu posso me transformar em qualquer criatura aquática... Mas tubarões também comem peixe... Seria uma questão mais filosófica...
— Pode discutir isso com Léo depois. Aliás, — disse olhando o relógio — acho que ele já vai chegar.
Beto comia seu arroz e feijão, deixaria pra pensar na questão dos peixes depois.
Ainda estavam almoçando quando Zé chegou, havia passado na escola depois do trabalho para trazer os irmãos, então estava acompanhado de Léo, Kaká e Lulu.
— Boa tarde! — ele cumprimentou
Cida havia terminado de dar comida ao menor, foi até a porta recepcionar o mais velho:
— Oi, Zé. Chegou em boa hora.
— Bom saber, tô morrendo de fome. — passava a mão na barriga
— Não só isso. — ela riu — É o Beto.
Ele arregalou os olhos:
— Teve notícias? Aconteceu alguma coisa?
— Ele voltou.
Zé ficou em silêncio, processando a informação:
— Beto voltou? — perguntou, incrédulo
— Aaaaaaa! — Kaká deu um grito, disparou a correr até a cozinha, Léo e Lulu foram atrás
Zé e Cida observavam a reação dos menores.
— Beto! Beto! — Kaká disparou na direção dele quando o viu sentado à mesa — Eu não acredito! Eu não acredito!
Ele se levantou para abraçá-la, ela pulou em seu colo:
— Por que não avisou que voltava hoje? A gente podia ter planejado uma festa!
Léo se aproximou devagar, ajeitando os óculos:
— É você mesmo?
— Léo! Como foi sua prova?
— Já saíram te contando?
— Eu quero saber tudo o que perdi enquanto estive fora!
Ouviram o barulho de flauta. Lulu chamava sua atenção.
— Oi, meu anjo. — Beto se ajoelhou pra falar com ela — Eu tô de volta.
Ela o abraçou, chorando. O rapaz não se conteve, ver cada um de seus irmãos era uma emoção diferente. Zé foi até a porta da cozinha, cruzou os braços:
— Então é verdade mesmo. Está de volta.
— Zé! — Beto correu na direção dele — Que saudade!
O maior o abraçou, bagunçou seus cabelos rosados:
— Estou muito feliz que está de volta! — sorriu, os olhos marejados
— Eu tenho tanto pra contar... — começou Beto
— Pode começar pelo rapaz que trouxe com você? Cida mencionou...
O rapaz corou, olhou pra trás, seu companheiro apenas observava tudo com sorriso no rosto enquanto terminava de almoçar.
— Ah, sim.... O nome dele é Iago e... Ele é meu namorado...
— Hum, saquei.
Zé foi até ele, estendeu a mão:
— Sou José, o mais velho dos irmãos. É um prazer, senhor Iago.
— O prazer é meu. — disse apertando sua mão — Beto falou muito de você
— Beto fala muito de tudo. — riu Kaká — Eu sou a Katarina. Esse cabelo é verde mesmo?
— Kaká! — Cida repreendeu
— Ah, eu quero saber! Vocês já estavam aqui já devem saber tudo!
— Eu ainda não cheguei a contar muito. — Beto coçava a cabeça — estava esperando vocês chegarem...
— É bonito. — Lulu comentou — Vocês vão se casar?
— Lulu! — Cida repreendeu novamente
Ambos coraram:
— Ignora, Iago. Essa é Luana.
— disse Beto tentando mudar de assunto — Ela sempre gostou de música, acho que vocês se dariam muito bem.
— É mesmo? — perguntou Kaká — Ele toca algum instrumento?
— Na verdade, eu canto. — Iago sorriu
— Canta alguma coisa pra gente? — pediu Duda
— Não pressionem o rapaz. — disse Zé
— Mas por mim não tem problema. — respondeu Iago
— Deixem pra depois do almoço. — disse Cida — os outros acabaram de chegar, comam alguma coisa. Cadu fez com todo carinho.
A cozinha estava lotada de gente, uma confusão com som de pratos, talheres. Iago entendeu porque Beto era acostumado a bagunça no Salão dos Deuses. Quem já havia comido foi para a sala, sentaram no sofá.
— Espero que não estejam assustando você... — comentou Beto, um pouco tímido
— Não. — riu Iago — na verdade, é um clima tão leve... Por isso gosta tanto daqui, não é?
— Minha família é tudo pra mim. — suspirou
— Fico feliz em fazer parte disso. — Iago pôs suas mãos sobre as de Beto, se olhavam. Começavam a aproximar seus rostos, mas antes que pudessem se beijar, foram interrompidos
— Beto! — Léo chamou — que bom que voltou
Eles rapidamente se afastaram. O menino arrumou os óculos:
— Atrapalhei alguma coisa?
— Esse é o Leonardo. — disse Beto — Em teoria, o mais inteligente.
Iago continha um riso. Devia imaginar que não teriam privacidade em uma casa tão cheia e Beto era muito tímido para demonstrações de afeto em público.
— Eu preciso muito saber se descobriu o porquê de virar peixe!
— Ah, sim. — ele se ajeitou no sofá — Eu fui um dos escolhidos por Tupã pra ajudar a humanidade contra um deus chamado Anhangá.
— Uou! É sério?
— E o Iago aqui é outro dos escolhidos. Meu guardião é o Boto cor-de-rosa, o dele é a sereia Iara. Esse é o resumo.
— Que incrível!
— Vai simplesmente acreditar nisso? — Iago levantou a sobrancelha
— Léo quem pesquisou sobre a Chapada de Veadeiros. Lê muito sobre o misticismo, e todos viram eu me transformar. — Beto deu de ombros — acho que não tem muito o que duvidar.
— E você realmente viu os deuses de perto?
— Vários deles.
— Nós sempre soubemos que voltaria. Existe um herói na mitologia ticuna chamado Yo'i, ele foi quem pescou os primeiros povos
das águas vermelhas do igarapé Eware. Como você se transforma em animais marinhos, sabíamos que um dia seria pescado de volta pra casa!
— Acho que serviu pra mim também. — sorriu Iago — Sou um ticuna nascido perto do rio Solimões. Assim como a sereia Iara, fui pescado de volta da água.
— Isso é muito legal! — os olhos de Léo brilhavam.
Os outros irmãos chegavam à sala, Lulu e Kaká estavam animadas para ouvir Iago cantar, como disse que faria.
— Tem alguma preferência de música? — brincou ele
Todos sentavam em volta do sofá, era quase como se fosse um palco.
— Cante o que tiver em seu coração. — Beto beijou sua mão, então levantou do sofá e sentou no chão, fazendo um círculo junto aos outros. Iago sabia perfeitamente o que cantar. Era O Portão, de Roberto Carlos:
VOCÊ ESTÁ LENDO
Os Guardiões de Tupã
AventuraTupã, o criador de tudo e deus do Trovão, está em guerra com seu arqui-inimigo Anhangá, deus do submundo. Para encontrar o equilíbrio, os guardiões precisam ser convocados.