Moangá

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Manaus, Amazonas

Abeguar, o deus do voo, carregou os três até a capital do Amazonas:

— É aqui que me despeço. — sorriu ele — Vocês serão guiados pela natureza até a localização de Moangá, então ele irá orientá-los em seu treinamento da melhor forma possível. 

— Sim, senhor! — Manoel o respondeu, um tom nervoso em sua voz

Iago o observava. Beto havia lhe pedido, antes da viagem, que tivesse paciência com seu amigo. Ele cruzou os braços, esperava que não precisasse ser "babá".

Carol se sentia meio desconfortável, não costumava conversar com mais ninguém além de Sara, e o pouco que observou desses colegas novos, não se socializaria tão fácil. 

O deus abriu suas enormes asas e partiu, os deixando para trás.

Foi um tempo de silêncio até Manoel tentar uma interação:

— Então... — ele coçava a cabeça, meio tímido — o que nós faremos?

— Ele falou de sinais. — Iago estava de braços cruzados — Podia ter deixado um mapa, ajudaria mais.

Carol permanecia quieta. Sumá havia lhe avisado para não confiar em ninguém, estaria atenta a qualquer movimentação daqueles dois. Sentou-se no chão, perguntaria às plantas se sabiam do tal Moangá. Era estranho estar de volta à Manaus, sabia que sua casa se encontrava a alguns quilômetros de onde estavam, mas voltar não era uma opção, não sem Sara. Fechou os olhos, os rapazes se calaram, perceberam que ela estava fazendo algo importante. 

A leve brisa da floresta a lembrava de sua companheira, tão gentil e acolhedora. Quando pediram permissão aos seus pais para viajarem juntas, sabia que a família Pererê se preocuparia, ainda mais pela filha ter perdido uma perna. Naquele momento de despedida, prometeu que cuidaria de Sara e a traria de volta em segurança, e foi com essa promessa que as deixaram ir. Agora, estava aqui, com dois estranhos e sem a garota. Queria acreditar que ela estava bem, que saberia se virar, mas ainda assim seu peito apertava. Não poderia falar com ninguém sobre isso, não sentia como se tivesse amigos ali, somente acreditaria na natureza ao seu redor. 

 Sentiu uma forte energia espiritual emanando do lugar, enfim, abriu os olhos e se levantou:

— Vamos. — disse sem explicar mais nada, começou a andar

Iago já estava estressado, mas antes que pudesse manifestar qualquer indignação, Manoel pôs a mão em seu ombro:

— Ela deve conhecer o caminho.

— Ajudaria se ela falasse. — resmungou

A seguiram, não era como se tivessem muita escolha mesmo. 

Estava anoitecendo, se não chegassem a algum lugar, teriam de acampar. Tainacam, deusa das constelações, os guiou com as estrelas até uma aldeia:

— Ele deve morar aqui. — disse a garota

— E o que faremos? — reclamou Iago — saímos batendo nas portas perguntando se alguém sabe do tal pajé?

— Acho que podemos fazer isso... — disse Manoel — Mas primeiro deveríamos ver um lugar pra repousar...

Andaram um pouco pelo povoado, avistaram umas pessoas fazendo uma fogueira e dançando em volta dela. Se aproximaram devagar, o clarão da lua iluminava aquele lugar, começaram a ouvir tambores, tocavam uma música:

As tribos inteiras se rendem ao som do tambor

O mestre da cura e da feitiçaria chegou

Os Guardiões de TupãOnde histórias criam vida. Descubra agora