Sob Pressão

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Saltos do Rio Preto, GO

Beto seguiu Xandoré até um rio com uma cachoeira. O deus estava sempre de cara fechada, era assustador e imponente. O rapaz tinha receio de respirar e o som ser irritante. Finalmente chegaram, o lugar era muito bonito, sua paisagem verde, a água limpa descendo na cachoeira e batendo nas pedras. Era um cenário que traria muita paz se Beto não estivesse tremendo de medo na presença do deus do Ódio:

— Se chama Roberto, correto?

— S-Sim S-Senhor!

— Ótimo. Eu não tenho paciência pra rodeios, então vou direto ao ponto. — Xandoré se sentou em uma pedra e fez sinal para que o rapaz sentasse também — Seu guardião é o Boto cor-de-rosa, por isso tem o poder de se transformar. Eu o escolhi por ser o mais indicado para enfrentar um velho inimigo meu.

— Velho inimigo? — Beto perguntou surpreso

— Isso mesmo. Vou contar a história, então preste atenção, pois não gosto de me repetir.

Beto engoliu seco, sentou-se para ouvir:

— Era um indígena perverso da tribo Uiá. — começou o deus —O líder da tribo, Pindarô, era um homem bom e gentil, no entanto seu filho Pirarucu era o completo oposto. Era um indígena perverso que fazia maldades por diversão, era forte e habilidoso, matava seus semelhantes só porque queria, se aproveitava da ausência de seu pai para provocar guerras com outras tribos. Um dia, enquanto estava caçando perto do Rio Tocantins, Tupã resolveu castigá-lo, me entregou seu raio para que atirasse nele. Mesmo com a ajuda de Pôlo, deus dos ventos, e Iururaruaçu, a deusa das correntes, o infeliz sobreviveu, sendo derrubado no rio, então Tupã o castigou o transformando em um peixe. Você irá enfrentá-lo por suas habilidades na água.

— Espera um pouco... — Beto estava ainda mais nervoso — O senhor com o raio do grande deus Tupã não o venceu e espera que euzinho aqui consiga? — disse apontando pra si mesmo

— Não pegarei leve no seu treinamento. — Xandoré se levantou, virou as costas — Meu irmão teve a ousadia de trazer um guerreiro com tamanhos poderes, por isso eu estou encarregado de te instruir. — ele cerrou os punhos

— Calma aí! — Beto disse surpreso — Irmão? Do que está falando?

— Anhangá é meu irmão. — Xandoré cruzou os braços, nervoso, se virando de volta — Isso não vem ao caso, moleque. 

— No meu entender, vem sim! — Beto falou mais firme — Está me dizendo que está contra seu próprio irmão? Como pode uma coisa dessas?

— Um mero mortal como você não precisa entender a mente dos deuses. Eu fui o encarregado de matar Pirarucu e falhei, então não desistirei até que você cumpra essa missão. Não me interessa lutar por Tupã ou por Anhangá, eu só quero esse peixe morto. — ele aproximou seu rosto de Beto, a testa franzida, a cara fechada —Mais alguma pergunta?

Beto balançou a cabeça, tremendo.

— Ótimo. — disse Xandoré se afastando, então apontou para o rio — Eu o trouxe para que mergulhe. Vai ficar na água até eu mandar sair, e nesse meio tempo deve se transformar com perfeição. 

— E-Eu fiz isso poucas vezes...

— Eu não perguntei. Escute, garoto, eu também sou um transmorfo, então observe.

Com muita facilidade, o deus se tornou um falcão e levantou voo. Beto estava surpreso com tamanha habilidade, o seguia com o olhar, então a majestosa ave pousou, tomando mais uma vez a forma humanizada:

Os Guardiões de TupãOnde histórias criam vida. Descubra agora