Gota Kaliandra, GO
Iago seguiu as deusas até um lugar diferente de tudo que já havia visto, um salão em forma de gota. Na entrada, uma placa sinaliza que o local era aberto ao público e que ali é um espaço dedicado ao ouvir.
— Não se preocupe. — disse Picê, deusa da poesia — Mortais não podem nos ver nesse momento.
o instruíram a tirar os sapatos, silêncio absoluto. O chão estava espalhado de colchonetes e almofadas, uma luz amarelada e fraca tomava conta do ambiente. A acústica da Gota chamava a atenção, onde até o pensamento parecia ecoar. Anhum, deus da música, era um indígena com cocar verde e amarelo, carregava uma espécie de flauta. Sentou em uma das almofadas e as deusas o acompanharam. Iago sentou do outro lado, de frente para eles:
— O que esperam de mim? — ele perguntou
— Seu canto é muito poderoso. — disse Anhum — Por isso meu avô me instruiu a montar uma equipe com as deusas para te ajudar.
— Escuta, sem querer ofender os deuses, mas eu estudo canto desde que me entendo por gente. Como acham que podem me ajudar? — ele jogou o cabelo pra trás e cruzou os braços.
As deusas cochichavam entre si, Anhum levantou a mão pedindo silêncio:
— Nós concordamos que sua voz é bonita para níveis humanos, mas se tem interesse em enfrentar o Japiim, precisa alcançar o nível dos deuses.
— O conhecem? — ele arregalou os olhos — Sabem como posso achá-lo?
— Tudo a seu tempo. — disse Graçaí, deusa da eloquência, uma mulher indígena séria — Não adianta tentar ir agora, não está pronto.
— Mas vocês sabem quem ele é? Podem me contar?
— Vamos do início. — disse Anhum — primeiro escute sobre a criação da música no mundo, depois entrará em contato com sua guardiã.
Iago ficou emburrado, mas decidiu aceitar, aqueles deuses eram sua melhor chance de encontrar seu rival.
— Começou quando visitei o mundo dos homens. — disse Anhum — Passeava em Eldorado dos Carajás, no Pará, as margens do Rio Araguaia, em companhia de minha noiva, a deusa Solfá, percebemos que o mundo dos homens era vazio e sem graça. O próprio deus Polo passava sem ruído e Tainacam vivia sem brilho. Ao voltar ao Monte Ibiapaba, nosso salão divino, convoquei uma reunião com deuses, semideuses e mortais para pedirmos ao meu avô Tupã o desenvolvimento de três altares de criação: no primeiro, Araci, deusa da aurora e das madrugadas, que desenhou na madeira uma pauta composta de cinco linhas e quatro espaços, e além destas, outras linhas e outros espaços, pondo o nome nas primeiras de "naturais" e nas segundas de "suplementares superiores e inferiores". Em segundo lugar, convoquei Vapuaçú, deus dos sonhos amenos e das suaves ilusões, que criou as sete claves, representadas por três interessantes figuras às quais deu os nomes de Sol, Fá e Dó. Em terceiro lugar, chamei Abeguar, deus do voo, que rapidamente colocou sobre as linhas, sete pontos que foram chamados notas, então eu dei nome a elas: dó, ré, mi, fá, sol, lá, si. Depois, Manati formou a primeira harmonia aplaudida por todos. Em seguida, o poderoso Guaraci, deus do sol, executou o primeiro ritmo cadente e a primeira canção. Tujubá, o poderoso mortal, apresentou os primeiros acidentes, Sustenidos e Bemóis, formou as escalas, e criou os tons, os semitons e os intervalos. Minha noiva Solfá criou o primeiro cântico divino. O Saci pintou as notas de preto e deu valor a cada uma. Meu avô ficou satisfeito e deu seu toque divino, e assim nós criamos a música.
Iago ouviu a história, era incrível pensar no trabalho em equipe realizado por cada um dos deuses para a criação dessa arte tão presente em sua vida. Olhou para as deusas que estavam sentadas:
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Os Guardiões de Tupã
AdventureTupã, o criador de tudo e deus do Trovão, está em guerra com seu arqui-inimigo Anhangá, deus do submundo. Para encontrar o equilíbrio, os guardiões precisam ser convocados.