Gigantes do Mar

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Cachoeira do Frade, Ubajara, Ceará

Beto, Sara e Manoel caminhavam seguindo as pegadas invertidas que Carol havia deixado, era a única pista que tinham de seu paradeiro. O tikuna via a preocupação no olhar da garota, já não esboçava sua empolgação habitual.

— Sara, nós vamos conseguir. — ele disse, tentando fazer ela se sentir melhor — Só precisamos conversar.

— Eu espero que sim...

— Ela tem muita raiva dos colonizadores. — comentou Manoel — O pajé nos contou sobre o povo Nawá, foram quase extintos.

— Eu entendo... — Beto baixou a cabeça — Nós, os tikunas, somos um dos povos indígenas mais "populosos", digamos assim, no entanto nem se compara com o que já fomos um dia.

— Eu sei que não entendo essa dor, — disse Sara — Mas não acho que a humanidade inteira devia ser morta por isso. Não vai trazer o que ela perdeu de volta...

Beto levou a mão ao pescoço, era um costume difícil de largar, mesmo já não tendo mais seu colar. Ver a forma como Carol agia lhe dava ainda mais certeza de que vingança não era o caminho, mas ainda não sabia o que fazer caso encontrasse seu inimigo declarado.

Continuavam andando, ao chegar na Cachoeira do Frade, Sara sentiu uma coisa estranha, empurrou Beto e Manoel para o chão:

— Cuidado!

Os três deitaram, uma lança passou por cima, atingindo a cachoeira.

— O que foi isso? — Manoel perguntou assustado

Ouviram uma risada de zombaria, um indígena do povo Uiá, alto, dois metros de altura, cabelos pretos lisos e curtos, andava sem camisa, usava o colar de Beto:

— Olha só o que temos aqui. — ele debochou — Veio atrás disso? — apontava para o próprio pescoço.

Os três levantavam, Beto paralisou ao rever aquele homem, Manoel percebeu:

— É o seu colar? — cochichou

Ele assentiu, ainda em silêncio.

Manoel estava com raiva, pensar que alguém havia machucado Beto o enfurecia, mas o rapaz de cabelo rosa pôs a mão em seu ombro:

— Não se preocupe, eu cuido dele.

— Mas...

— Sara! — ele chamou — siga com Manoel. Esse assunto é pessoal.

— Você tem certeza? — ela perguntou — Se nós três lutarmos juntos...

— Manoel sozinho poderia matá-lo. — disse Beto — Mas é algo que eu preciso fazer. A missão dada por Xandoré.

Sara e Manoel o abraçaram:

— Prometa nos alcançar depois. — disse a garota

— Eu prometo. — ele assentiu, abraçava os dois, mas sentia como se fosse um pedido de todos os seus irmãos, pois aguardavam seu retorno.

Os dois saíram, Pirarucu revirou os olhos:

— Que patético.

— Um demônio como você não sabe o que é isso.

— Isso é irrelevante pra mim. — andou até a cachoeira, pegou a lança de volta — Se a garota não pudesse sentir a mudança dos ventos, um de vocês podia estar morto. Mesmo assim vai lutar?

Beto levantou os punhos, era sua primeira luta sozinho.

Pirarucu avançou em sua direção com a lança em mãos, era um indígena guerreiro que matava populações inteiras sem dó. Beto precisava pensar rápido, estava totalmente desarmado, virou de costas e se transformou em uma tartaruga rosa, assim a lança bateu em seu casco, mas não o perfurou, embora tenha feito um arranhão. O Uiá tentou um segundo ataque, Beto transformou a mão numa garra de caranguejo para segurar a lança, então levou um chute no estômago, sendo empurrado pra trás:

Os Guardiões de TupãOnde histórias criam vida. Descubra agora